Por Elida Oliveira, G1


Reprodução de imagem do Banco de Dados de Queimadas do Inpe — Foto: Reprodução/Inpe

Os focos de queimada na Amazônia chamaram a atenção nos últimos dias, principalmente após a fumaça negra atingir cidades do Sudeste do Brasil, como ocorreu na segunda-feira (19).

O número de focos registrados pelo Programa Queimadas, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), já é o maior de janeiro a agosto em 7 anos. Em 2019, os incêndios aumentaram 82% no Brasil em relação ao mesmo período de 2018.

Veja abaixo o que se sabe sobre as chamas na Amazônia:

1. Qual a realidade das queimadas no Brasil?

Dados do Programa Queimadas, do Inpe, mostram que os registros de focos de incêndio de janeiro a agosto de 2019 já são os maiores em 7 anos. Se comparado com o mesmo período do ano passado, o aumento é de 82% – destas, 52,5% estão na Amazônia. O Cerrado é responsável por 30,1%, seguido pela Mata Atlântica, com 10,9%.

A série histórica do Inpe começa em 1998. Se considerados todos os dados, a série mostra que as queimadas atingiram um pico no início dos anos 2000 e os números atuais não representam recordes históricos.

Queimadas em 2019 — Foto: Arte G1

2. Quem mede as queimadas no Brasil?

As queimadas são medidas pelo Inpe, com dados do satélite Aqua, o mesmo que é usado pela agência espacial americana (Nasa), que também acompanha os focos de desmatamento. As informações são disponibilizadas no portal Programa Queimadas, diariamente.

Fogo consome vegetação perto de Porto Velho na tarde de 23 de agosto de 2019 — Foto: AP Foto / Victor R. Caivano

3. Como são medidas as queimadas no Brasil?

O Inpe usa dados produzidos por nove satélites. São utilizadas imagens dos satélites polares NOAA-18, NOAA-19 e METOP-B, as MODIS dos Nasa Terra e Aqua, as VIIRS do NPP-Suomi e NOAA-20 e as imagens dos satélites geoestacionários GOES-16 e MSG-3. Cada satélite de órbita polar produz pelo menos dois conjuntos de imagens por dia, e os geoestacionários geram várias imagens por hora. Os dados são recebidos nas estações de Cachoeira Paulista (SP) e Cuiabá (MT).

Um foco precisa ter pelo menos 30 metros de extensão por 1 metro de largura para que os satélites de órbita possam detectá-lo. No caso dos satélites geoestacionários, a frente de fogo precisa ter o dobro de tamanho para ser localizada. Um foco indica a existência de fogo em um pixel de imagem. Neste pixel pode haver uma ou várias queimadas distintas.

4. Existe relação entre as queimadas e o desmatamento?

Os dados apontam que os dez municípios que tiveram mais focos de incêndios florestais em 2019 também são os que tiveram as maiores taxas de desmatamento, de acordo com um estudo do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), uma organização científica não-governamental. Os registros são maiores nos estados do Acre, Amazonas, Mato Grosso, Rondônia e Roraima.

Caminho da mudança da terra na Amazônia — Foto: Rodrigo Sanches/G1

5. O que provoca as queimadas?

Para haver fogo, é preciso combinar: fontes de ignição (naturais, como raios, ou antrópicas, como isqueiros ou cigarros); material combustível (ter o que queimar, como madeiras e folhas); e condições climáticas (seca).

Como a Amazônia é uma floresta tropical úmida, os incêndios mais recorrentes ocorrem quando a madeira desmatada fica "secando" por alguns meses e, depois, é incendiada para abrir espaço para pastagem ou agricultura. Segundo especialistas, um incêndio natural não se alastraria com facilidade na Amazônia.

6. Como o mundo percebe e acompanha estes dados?

Veículos internacionais de imprensa deram destaque nos últimos dias para o aumento do número de incêndios detectado na Amazônia e celebridades internacionais usaram suas redes sociais para fazer uma campanha pela preservação.

Queimadas na Amazônia repercutem na imprensa internacional

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Foto aérea mostra fumaça em trecho de 2 km de extensão de floresta, a 65 km de Porto Velho, em Rondônia, em 23 de agosto de 2019 — Foto: Carl de Souza/AFP

7. O que o governo anunciou?

O presidente Jair Bolsonaro afirmou na quarta-feira (21) que organizações não-governamentais (ONGs) podem estar por trás de queimadas na região amazônica para “chamar atenção” contra o governo do Brasil. O presidente não citou nomes de ONGs e, questionado se há embasamento para as alegações, disse que não há registros escritos sobre as suspeitas.

Em uma rede social, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que o aumento dos incêndios no país se devem ao tempo seco, ao vento e ao calor.

Nesta quinta (22), o presidente Jair Bolsonaro comandou uma reunião de emergência no Palácio do Planalto com alguns ministros para discutir as queimadas na Amazônia.

8. A fumaça das queimadas chegaram a afetar cidades no Brasil?

Na segunda-feira (19), diversas cidades do país viram o dia se tornar noite. De acordo com o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), o fenômeno foi provocado por fumaça vinda de incêndios na região amazônica que se encontrou com nuvens de uma frente fria.

Segundo o Climatempo, a fumaça proveniente de queimadas na região amazônica, nos estados do Acre e Rondônia e até da Bolívia, chegou a São Paulo pela ação dos ventos.

A fumaça das queimadas elimina substâncias tóxicas no ar, prejudiciais à saúde. No Acre, 29.559 pessoas foram diagnosticadas com infecções respiratórias até 10 de agosto.

Queimadas e fumaça no dia 19 de agosto de 2019 — Foto: Rodrigo Cunha/G1

9. Quem combate as queimadas?

Os corpos de bombeiros locais são os que entram em combate diretamente com as chamas. Em alguns dos estados, as forças contam com recursos do Fundo Amazônia.

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10. Os incêndios ocorrem só no Brasil?

A Bolívia, que também é coberta pela floresta Amazônia, está enfrentando o maior incêndio da sua história recente. Os primeiros focos do incêndio foram detectados há 16 dias. Uma área de pelo menos 500 mil hectares já foi consumida pelo fogo. A nuvem de fumaça que sai de Roboré, município do departamento de Santa Cruz, chegou, inclusive, a cidades brasileiras que ficam perto da fronteira boliviana.

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