Por BBC


Cenas de desmatamento no interior de Alagoas — Foto: Jonathan Lins/FPI do São Francisco

Cerca de 12 milhões de hectares de florestas tropicais desapareceram em 2018, o equivalente a 30 campos de futebol por minuto. Só no Brasil, foram desmatados 1,3 milhão de hectares de florestas - é o país que mais perdeu árvores no ano passado.

Os dados de 2018 são do Global Forest Watch, atualizado pela Universidade de Maryland, nos Estados Unidos. O levantamento mostra o complexo retrato do desmatamento em áreas densas de florestas tropiciais - da Amazônia, na América do Sul, a África e Indonésia.

A maior preocupação apontada pelo relatório diz respeito à destruição continuada das florestas primárias, como são chamadas as áreas com as árvores mais antigas e que não são fruto de replantio.

De acordo com o relatório do Global Forest Watch, uma área de florestas primárias equivalente ao tamanho da Bélgica foi destruída em 2018.

Brasil liderou desmatamento de florestas primárias no mundo em 2018, mostra relatório — Foto: BBC

Brasil é o país com mais desmatamento

Brasil e Indonésia foram responsáveis por 46% do desmatamento de florestas tropicais no mundo em 2018. O percentual é bem menor que o revelado pelo relatório de 2002, que mostrou que só esses dois países foram responsáveis por 71% das perdas de árvores tropiciais.

Mas o grande mérito na redução não é do Brasil, e sim da Indonésia, onde a perda de floresta primária foi 40% menor no ano passado que a taxa média entre 2002 e 2016.

O Brasil vivenciou uma queda significativa no desmatamento entre 2007 e 2015, de cerca de 70%. Mas incêndios - muitos deles provocados intencionalmente - provocaram grande aumento entre 2016 e 2017.

A área de floresta primária destruída no Brasil em 2018 – 1,3 milhões de hectares - foi menor que em 2017. Mas ainda assim está acima da média histórica do país.

"Pode parecer tentador comemorar essa queda nos últimos dois anos, mas quando observamos os últimos 18 anos, fica claro que a tendência é de alta no desmatamento. Estamos longe de vencer essa batalha", diz Frances Seymour, do World Resources Institute, que administra o Global Forest Watch.

Na Amazônia, especificamente, o Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite (Prodes) registrou, entre agosto de 2017 e julho de 2018, aumento no desmatamento de 13,7% em relação aos 12 meses anteriores - o pior resultado em 10 anos.

O Global Forest Wacth destaca que várias áreas de florestas desmatadas em 2018 ficam próximas ou dentro de territórios indígenas. A reserva Ituna Itata, que abriga índios isolados, perdeu mais de 4 mil hectares em decorrência de exploração ilegal de madeira.

Por que os novos dados da Global Forest Watch são relevantes?

Florestas primárias, como mencionado antes, são aquelas que se encontram em seu estado original, que não foram afetadas pela ação humana. Algumas das árvores nessas áreas têm centenas ou até milhares de anos de idade.

Elas são essenciais para a manutenção da biodiversidade - são abrigo de animais selvagens, como onças, tigres, macacos e diferentes espécies de aves.

Essas árvores também são essenciais para o controle do aquecimento global, já que armazenam dióxido de carbono, destaca o relatório do Global Forest Watch. Por isso, a perda de milhares de hectares de floresta em 2018 é tão preocupante.

"Para cada hectare perdido, estamos um passo mais próximos dos desastrosos cenários projetados para o aquecimento global", diz Frances Seymour.

Desmatamento em outras partes do mundo

Vários países tiveram aumento na perda de florestas primárias desde 2002, principalmente República Democrática do Congo, Colômbia, Bolívia e Peru.

No caso da Colômbia, o crescimento do desmatamento, principalmente a partir de 2016, é visto como consequência do processo de paz do governo com as Farc, guerrilha de esquerda que ocupava áreas de floresta.

O fim da luta armada nessas regiões abriu caminho para a exploração econômica da Amazônia colombiana.

Em termos proporcionais, Madagascar apresentou resultados preocupantes - perdeu 2% de suas florestas primárias em 2018, mais do que qualquer outro país tropical.

"Não é incomum que a perda de áreas de floresta seja associada à morte, porque a cada ano centenas de pessoas são assassinadas tentando impedir a atividade ilegal de madeireiros e garimpeiros", destaca ainda Frances Seymour.

E há alguma notícia boa nisso tudo?

O caso bem sucedido da Indonésia, que foi capaz de reduzir a perda de florestas primárias em 40% em 2018, mostra que políticas públicas podem ter impacto significativo na redução do desmatamento.

Um acordo firmado entre a Indonésia e a Noruega, que prevê compensação pela redução de emissões, também parece ter cumprido papel importante nos resultados positivos.

"Nós estamos levando a política ambiental a sério. No nosso país, várias empresas foram punidas ou receberam alertas do governo, então estamos nos esforçando para garantir o cumprimento da lei", diz Belinga Margono, do Ministério de Meio Ambiente da Indonésia.

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