O lado bom (e sustentável) de 2015
Resumirei em tópicos - com breves comentários - acontecimentos de 2015 que sugerem cautela aos que apressadamente amaldiçoam esse ano como absolutamente "ruim" ou "perdido". Para confundir os pessimistas, decidi que a minha lista só contém notícias boas. É evidente que foi um ano com dificuldades extremas, e notícias terríveis como o maior desastre ambiental do Brasil (a famigerada lama de rejeitos da Samarco), o aumento do desmatamento na Amazônia, a elevação das emissões de gases estufa no Brasil, entre outras ocorrências lamentáveis. Mas destacarei aqui o lado cheio do copo, como se diz. É pra dar sorte em 2016!
- A Encíclica Verde do Papa Francisco: Pela 1ª vez na História da Igreja uma encíclica elege o meio ambiente como tema central, apontando a humanidade como responsável por um modelo de desenvolvimento que gera miséria e pobreza, ao mesmo tempo em que devasta os recursos naturais fundamentais à vida. A Encíclica "Laudato Si" repercutiu dentro e fora da Igreja, inspirando mais comprometimento e atitude em favor da nossa "casa comum".
- Os 17 ODS: Depois das 8 metas do milênio - que balizaram as políticas públicas de muitos países do mundo, inclusive o Brasil - foram aprovados os 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável. Esse conjunto de metas resume os principais anseios da civilização na busca por um mundo melhor e mais justo. No calendário das negociações multilaterais conduzidas pela ONU, foi um dos encontros mais importantes do século.
- COP21: Foi celebrado em Paris o primeiro acordo global vinculante do clima, com força de lei internacional, determinando o compromisso coletivo - de todos os países do mundo - em reduzir as emissões de gases estufa. Embora o texto não apresente claramente metas e prazos - apenas a intenção de não permitir a elevação da temperatura média do planeta acima de 2ºC neste século - foi um passo importante para a implementação de uma economia de baixo carbono. É definidor de rumos para o setor público, para investimentos privados, e para as mobilizações do terceiro setor.
- Crise Hídrica: O Supremo Tribunal Federal evitou a judicialização da disputa pelas águas da Bacia do Paraíba do Sul arbitrando um acordo técnico com representantes de São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais. Pelo acordo, foram acertados os limites de retirada de água de cada Estado, definidos por estudos técnicos sem interferência política. Uma solução salomônica, que impediu brigas inócuas e patéticas. Na região Sudeste, não se confirmaram os piores cenários de desabastecimento. As chuvas nesta reta final de 2015 ajudaram bastante na recomposição parcial dos reservatórios. Mas o alerta para 2016 continua.
- Energia Solar: A Tesla Motors lançou baterias solares para uso doméstico (PowerWall) e para uso industrial (PowerPack) que permitem o armazenamento inteligente desta fonte de energia limpa e renovável. É o ponto de partida para uma revolução no setor energético, com a possibilidade de estocarmos sol e vento em baterias mais potentes. Elon Musk, dono da Tesla, abriu mão da patente dessas baterias abrindo caminho para que outros produtos - inspirados nesses lançamentos - cheguem logo ao mercado. No Brasil, os primeiros leilões para seleção de empresas interessadas em investir energia solar tiraram o país da inércia: nos próximos dois anos veremos se multiplicar pelo país a primeira geração de grandes empreendimentos solares.
- Energia Eólica: Em apenas 5 anos a energia do vento realizou a proeza de produzir energia elétrica para aproximadamente 35 milhões de brasileiros. A energia eólica do Brasil virou um case internacional, seja pelo fator de capacidade dos parques brasileiros (nossos ventos são considerados por muitos especialistas os melhores do mundo, especialmente no Nordeste) seja pelo modelo de negócio que manteve-se em alta apesar da crise econômica (com leilões disputados sempre com deságio, e investimentos milionários previstos para os próximos anos sem subsídios).
- Uma Doce esperança : A degradação da bacia do rio Doce vem de longe, muitos antes do lamaçal da Samarco (que ficou exposta à execração pública pela sucessão de erros cometidos antes, durante e depois da tragédia). Após essa terrível catástrofe, o Brasil tem a chance de realizar, ao mesmo tempo, as seguintes ações:
1) A revitalização da Bacia do Rio Doce totalmente custeada pela Samarco/Vale/BHP Billiton. Isso só será possível com Ministério Público, Justiça, governantes e a sociedade civil mobilizados e mantendo o assunto em evidência.
2) Um outro Código da Mineração em lugar daquele desenhado no projeto do deputado Leonardo Quintão (PMDB/MG) que só atendia aos interesses das mineradoras, que aliás, financiaram a campanha dele. O lobby da mineração é forte, mas esmoreceu depois da tragédia de Mariana.
3) Um amplo projeto de revitalização das bacias hidrográficas brasileiras, todas historicamente degradadas e abandonadas à própria sorte. Os chamados comitês de bacia (criados a partir da Lei Nacional de Recursos Hídricos, há quase 20 anos) tem limitações técnicas e orçamentárias. Um pacto pelas águas - nesta guerra que deve ser perene contra a escassez - passa por um novo modelo de gestão, uma nova governança das bacias brasileiras.
Que possamos fazer mais e melhor em 2016!