No Reino da Intolerância
Há vários motivos para se lamentar a saída do Reino Unido (mais desunido do que nunca) da União Européia. O menor continente do planeta é historicamente o mais salpicado de guerras e litígios por metro quadrado. Quando o Tratado de Maastricht instituiu a União Européia em 1993, a Humanidade experimentava a utopia da paz entre 27 países distintos, desiguais, porém sujeitos desde então às mesmas regras gerais (que extrapolam apenas a unidade monetária).
O êxito dos separatistas britânicos parece ter origem na aversão à chegada maciça de imigrantes (que hoje somam mais de 8 milhões no Reino de Sua Majestade). A vitória do "Brexit" ocorreu apenas 3 dias depois de a ONU anunciar que o número de refugiados no mundo inteiro alcançou a impressionante marca de 65 milhões de pessoas fugindo de guerras, perseguições e torturas. Isso dá uma média de 24 novos refugiados a cada minuto, algo parecido com o que houve durante a 2ª Guerra Mundial. Uma gigantesca crise humanitária.
Do outro lado do Atlântico, o candidato à Presidência dos Estados Unidos Donald Trump racha o país (e o próprio Partido Republicano) com um discurso racista, misógino, xenófobo e intolerante sustentado por uma parcela surpreendentemente expressiva do eleitorado. Quem apóia Trump parece ignorar o óbvio: o que seria dos Estados Unidos sem os imigrantes? É do mix racial e cultural que reside parte importante da força daquele país.
A onda de intolerância fez com o Papa Francisco, recém ungido à condição de líder espiritual dos católicos, escolhesse como destino da primeira viagem oficial de seu pontificado (em julho de 2013) a Ilha de Lampedusa, na Itália, porta de entrada de centenas de milhares de imigrantes na Europa.
"Tende a coragem de acolher aqueles que procuram uma vida melhor”, pediu o Papa. O apelo continua ecoando sem efeito no velho continente.
O Reino se desuniu.
Os Estados Unidos se fragmentaram.
A luz amarela está acesa.