Zerar o desmatamento ilegal continua sendo um tema espinhoso para o governo brasileiro. Ao incluir esse assunto na declaração conjunta com o presidente Obama, a presidente Dilma se comprometeu a zerar o desmatamento ilegal até 2030. Por vias indiretas, avalizou o desmatamento ilegal por mais 15 anos ou pelo menos deixou claro que o governo não tem interesse em combater a ilegalidade num período de tempo mais curto ou não se julga em condições de fazê-lo.

Acrescente-se na lista de hipóteses a que parece ser a mais provável: um governo fraco politicamente não ousaria contrariar os interesses da bancada ruralista - cuja principal liderança encontra-se hoje no exercício da função de ministra da agricultura - que construiu historicamente o discurso de que não há como produzir mais alimentos sem expandir a fronteira agrícola na direção das florestas.

Anunciou-se também, para 2030, a meta de restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas (120 mil km²), o que pode ser entendido como um objetivo conservador se confrontado com o Código Florestal. Alguns estudos indicam que se o Código for cumprido à risca, e os proprietários rurais recuperarem nos termos da lei o que foi desmatado, será possível revegetar aproximadamente o dobro da área anunciada hoje. Será que o próprio governo reconhece problemas no cumprimento da lei?

2030 também foi o prazo estimado para que a nossa matriz energética seja composta de 28% a 33% por fontes limpas e renováveis além da geração hidráulica. De acordo com o Observatório do Clima, o Brasil conta hoje com aproximadamente 29% de fontes limpas e renováveis além da hidroeletricidade, o que significa um avanço tímido, bastante conservador. A energia eólica (que em poucos anos de investimentos já responde por 5% da matriz) continua em franca expansão a um custo baixo, enquanto a energia solar atraiu 382 projetos para o leilão da EPE (Empresa de Pesquisa Energética) marcado para o próximo mês de agosto, quando serão ofertados 12.528 megawatts (MW), valor superior ao que deve ser gerado pela usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, com capacidade instalada de 11.000 MW.

Parece que estamos com o pé no freio. Que as excelentes oportunidades de negócio da economia de baixo carbono ainda causam alguma desconfiança no atual governo. Ou que ainda não nos sentimos preparados – embora tenhamos todos os recursos ao nosso alcance – para sermos protagonistas e não coadjuvantes dessa história.