• Esta imagem te constrange?

    Torcida do Japão limpa arquibancada da Arena Pernambuco após jogo

    Os caras vêm do outro lado do mundo para ver a seleção japonesa disputar uma Copa no Brasil. Perdem o jogo de estreia de virada para a Costa do Marfim e, para surpresa (talvez a expressão mais correta seja perplexidade) dos brasileiros presentes na Arena Pernambuco - e tantos outros torcedores de sabe lá quantas nacionalidades pelas redes sociais -, resolvem, ao final da partida, espontaneamente, coletar o próprio lixo no estádio.

    Munidos de sacolas plásticas azuis - levadas por eles para esse fim - os japoneses se esmeraram em deixar impecavelmente limpas as partes do estádio ocupadas pela torcida nipônica.

    Não foi uma ação de marketing, flash mob ou exibicionismo barato.

    Foi apenas a expressão de uma cultura admirável, onde o senso comum indica o gerador do resíduo como o principal responsável pela sua destinação final.

    Em outras palavras: não importa se a Arena Pernambuco dispõe de uma equipe de limpeza que deixará o estádio limpo após a partida. Para quem veio da Terra do Sol Nascente, essa questão é absolutamente irrelevante. Quem suja deve limpar. Simples assim.

    Quantos de nós se surpreendeu com esse gesto?

    Quantos seríamos capazes de fazer a mesma coisa, principalmente depois de uma derrota de virada na estreia da Copa?

    Foi um ippon moral.

  • Um dia importante

    Desde que o Dia Mundial do Meio Ambiente foi instituído há 42 anos - durante a 1ª Conferência da ONU sobre Meio Ambiente, em Estocolmo - o dia 5 de junho vem servindo de pretexto para diferentes ações (mais ou menos sustentáveis) que ocorrem nesta época do ano para reforçar o suposto compromisso de governos, empresas, instituições de ensino, organizações civis e religiosas em favor da vida no planeta.

    Tal como se dá com outras efemérides como o Dia da Mulher, do Negro, do Índio, entre tantas outras datas impregnadas de um sentido quase subversivo (que tenta desconstruir a cultura dominante em favor de outros valores considerados mais modernos e ajustados a um novo desenho de civilização), o Dia do Meio Ambiente tenta soar como o "grilo falante" que constrange os que, por ignorância ou má fé, realizam escolhas que atentam - em maior ou menor escala - contra a capacidade da Terra nos suprimir do essencial: água limpa, solo fértil, ar puro.

    É curioso - quase engraçado - testemunhar o esforço com que grandes poluidores realizam campanhas milionárias nesse período tentando "esverdear" a própria imagem, como se os recursos investidos para esse fim fossem suficientes para apagar rastros de desonestidade e miopia gerencial.

    Na era das redes sociais, quem investe mais em publicidade do que em reengenharia (maquiando ou supervalorizando resultados na área ambiental) fica exposto a campanhas voluntárias que denunciam o "greenwashing" e se viralizam com a força de um tsunami.

    Mudar é uma palavra que assusta. Em tempos de crise ambiental sem precedentes na História da Humanidade, não mudar deveria assustar muito mais. Se ainda não mudamos no ritmo e na escala desejados, é porque nem todos os que compreenderam o senso de urgência que deveria reger esta gigantesca "concertación" planetária se deram conta do chamado "custo da inação". Fazer como sempre se fez (business as usual) é a senha para o desastre, a ruptura, o colapso que determinaremos na capacidade dos ecossistemas proverem a nossa espécie daquilo que retiramos sistemática e violentamente sem pensar no amanhã.

    Gerar emprego e renda sem exaurir os recursos naturais não renováveis. Fazer a conta de trás para frente, observando se o planejamento econômico considera os limites da Terra. Corrigir o rumo antes que seja tarde. Nossa espécie tem muitos defeitos, mas não viemos ao mundo para nos autodestruir. Enquanto o ecocídio for um risco, o Dia Mundial do Meio Ambiente continuará cumprindo uma função importante no calendário.

    Confira aqui o programa Cidades e Soluções sobre Sustentabilidade e Política. Meio Ambiente dá voto?

  • Amarelo esverdeado

    Uma das mais espetaculares conversões compulsórias à causa do desenvolvimento sustentável se dá neste momento na China. E não por outra razão senão pelo fato de que todas as medidas anunciadas pelos governos locais contra a poluição do ar em algumas das mais importantes cidades chinesas - inclusive Pequim –  têm se revelado impotentes diante de tanta fumaça, poeira e materiais particulados.

    Quando o primeiro-ministro Li Keqiang declarou há uma semana “guerra contra a poluição” se comprometendo a combatê-la “com a mesma determinação com que lutamos contra a pobreza”, chamava para o governo central a responsabilidade de apresentar novas soluções para um problema cada vez mais incômodo.

    “A natureza já lançou um alerta vermelho contra o modelo ineficiente e cego desenvolvimento", afirmou Li, ao justificar na Assembléia Nacional Popular porque as medidas ambientais aparecem reunidas em uma das 9 grandes metas que o país deseja alcançar até 2030.

    Modernizar e reequipar as térmicas a carvão (principal fonte de energia do país), fechar 50 mil pequenos fornos de carvão para múltiplos usos este ano, retirar 6 milhões de veículos ineficientes das ruas (e substituí-los por modelos menos poluentes), manter a política de reduzir a intensidade do consumo de energia por unidade do PIB (a redução prevista para este ano é de 3,9%) e reflorestar o país em ritmo acelerado (meta para este ano é de plantar árvores em uma área equivalente a 330 mil campos de futebol) são algumas das medidas emergenciais anunciadas em resposta a esse imenso desconforto que se estende por toda a região norte do país.

    Não se sabe exatamente se elas darão o resultado esperado, ou se no próximo inverno chinês o ar estará menos poluído do que nesses dias em que o nível de poluição ficou 26 vezes acima do máximo considerado seguro pela Organização Mundial da Saúde.

    Sem esperar pelo governo, a população faz o que pode para escapar das estatísticas de morte e doenças causadas pela poluição do ar (aproximadamente 8 mil óbitos por ano apenas em Pequim). O mais popular aplicativo usado na capital chinesa é o que informa on line a concentração de poluentes e os riscos disso para a saúde. Um dos produtos mais cobiçados do mercado são os filtros de ar instalados em escritórios e residências, e que prometem reduzir a quantidade de poluentes. A situação chegou a tal ponto que a Panasonic japonesa decidiu oferecer um pagamento extra aos funcionários que trabalham na China em reconhecimento aos riscos de inalação de tantas toxinas e venenos presentes no ar.

    A CCTV, um dos principais canais de notícias chinês (com programação em inglês veiculada para o mundo todo) abre generosos espaços para a promoção de debates, entrevistas e reportagens especiais sobre a onda de poluição.

    Dados oficiais do próprio governo indicam que de todos os imigrantes que obtém autorização para deixar o país, aproximadamente 70% declaram que o principal motivo é a poluição. O Departamento de Imigração registrou este ano um crescimento de 50% nos pedidos de viagem para estudar ou trabalhar em países estrangeiros.

    Coincidentemente, neste mesmo inverno no hemisfério norte, Paris, a cidade–luz, se transformou na cidade das trevas debaixo de uma onda de fumaça que obrigou as autoridades a franquearem as passagens dos transportes públicos por três dias e anunciarem a retomada do rodízio de automóveis nas ruas depois de quase 30 anos.

    Saturadas de automóveis e com o trânsito colapsado, as capitais brasileiras não medem adequadamente a poluição do ar nem aplicam com a devida severidade as medidas restritivas que poderiam reduzir riscos desnecessários à saúde dos cidadãos.

    As agruras sofridas nas últimas semanas por milhões de pessoas acima da linha do equador são didáticas e muito inspiradoras para nossos gestores públicos por aqui.

    Se a principal causa da poluição do ar nas nossas cidades é a descomunal frota automobilística que cresce em progressão geométrica com ajuda do governo (as montadoras de carros elevaram de 16% para 46% sua participação na indústria nacional em apenas dez anos com muitos subsídios governamentais) é necessário que isso não comprometa o mais precioso patrimônio do povo brasileiro: sua saúde.

    Que o nosso ar, invisível e solenemente ignorado por todos, não seja mais alvo de tanta indiferença.        

  • O novo endereço do blog 'Mundo Sustentável'

    Olá! A partir de agora, o blog Mundo Sustentável está aqui neste novo endereço. Se você quiser consultar as postagens anteriores, acesse https://g1.globo.com/platb/mundo-sustentavel/

Autores

  • André Trigueiro

    Pós-graduado em gestão ambiental pela COPPE/UFRJ e professor de jornalismo ambiental da PUC RJ. É jornalista da TV Globo e comentarista da Rádio CBN. Aqui, fala sobre os principais desafios e entraves do desenvolvimento sustentável e preservação.

Sobre a página

André Trigueiro fala sobre sustentabilidade e meio ambiente.