Foco de queimada em rodovia federal de Rondônia em 2019 — Foto: Fábio Tito/G1
As queimadas na Amazônia estão relacionadas a um aumento de 25%, em média, nas internações hospitalares de idosos indígenas, de acordo com estudo divulgado nesta terça-feira (25) pelo Instituto Socioambiental (ISA) com dados de 2019. A entidade, que trabalha em defesa dos povos tradicionais e do meio ambiente, aponta que o índice deve ser maior neste ano devido à Covid-19 e à alta do desmatamento.
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"Temos um cenário bastante preocupante. Diversos estudos mostraram que uma parte do que foi desmatado no ano passado não foi queimado ainda. Desde janeiro, a gente tem um aumento do desmatamento e essa outra parte da floresta derrubada também não foi queimada", disse Antônio Oviedo, cientista ambiental e um dos autores.
O pesquisador explica que neste ano as condições climáticas também estão favoráveis para a queima. As águas do Oceano Atlântico estão mais quentes, o que influencia em um período maior de seca na região amazônica. No ano passado, de acordo com Oviedo, as partículas de fumaça no ar já haviam causado um impacto na saúde indígena.
O estudo
- O grupo de pesquisadores analisou a quantidade de material particulado fino, produto da fumaça das queimadas, com base no Sistema de Informações Ambientais Integrado à Saúde (Sisam);
- O material é facilmente inalável, capaz de causar e/ou piorar problemas respiratórios, como asma, pneumonia, bronquite aguda e bronquiolite aguda;
- A OMS recomenda que o índice máximo dessas partículas no ar seja de 10 µg/m³;
- O estudo encontrou, em 2019, uma taxa média de 28µg/m³ desse material da fumaça no ar em 760 cidades da Amazônia.
Em Novo Progresso, no Pará, o número dessas partículas de fumaça atingiu mais de 50 vezes o recomendado pela OMS. Esse índice foi contabilizado dois dias após o "dia do fogo" em 2019, quando fazendeiros fizeram uma campanha a favor das queimadas nas terras.
Queimadas aumentaram 300% nos dias 10 e 11 de agosto de 2019 em Novo Progresso, no Pará — Foto: Agência Brasil/Divulgação
"Embora seja chamada de partícula, ela é microscópica e tem uma capacidade de penetrar profundamente no pulmão. Isso vai causar um processo inflamatório, um efeito sistêmico, dor de cabeça, dor no corpo, todos sintomas de uma infecção respiratória", explica Sandra Hacon, especialista em gestão da saúde pública e meio ambiente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Então, os cientistas ambientais cruzaram os dados sobre a qualidade do ar com as internações de indígenas com mais de 50 anos por doenças respiratórias na Amazônia. Eles concluíram uma alta de 25%, em média, durante os meses com maior registro de fogo em 2019 - entre agosto e outubro.
'Fogo só aumenta'
Awapy Uru-Eu-Wau-Wau, morador da terra indígena batizada com seu sobrenome em Rondônia, confirma a situação apresentada pelo ISA. Ele conta que o fogo está forte na região nos últimos dias de agosto, e que felizmente a aldeia não registrou casos de Covid-19.
"Mesmo assim, problemas respiratórios todo mundo tem, porque o clima está muito quente, seco, e a pele fica muito ressecada. E cada ano que passa o governo vai diminuindo a equipe fiscalizando as queimadas, então, o fogo só aumenta", disse.
No ano passado, foram 2.556 internações de indígenas com idades entre 0 e 4 anos com problemas respiratórios. Entre os idosos com mais de 50 anos, foram 384 na Amazônia Legal.
Com base nos dados, o ISA aponta que, além das comorbidades que agravam o quadro da Covid-19, as hospitalizações em decorrência das queimadas podem saturar ainda mais os hospitais públicos. Os povos indígenas correm risco particular, já que a taxa de mortalidade pela Covid-19 é 1,5 vezes maior à média nacional.
Regiões com maiores taxas de internações de crianças indígenas entre os povos:
- Jaru, Vilhena e Mirante da Serra, em Rondônia;
- Oeste do Mato Grosso;
- Leste da Bacia do Xingu no Pará, nas cidades de Bannach e Ourilândia do Norte;
- Manaus, no Amazonas;
- Mucajaí, em Roraima.
Queimadas na Amazônia
A Amazônia representa quase metade das queimadas (48,7%) registradas no Brasil em 2020. Foram 38.249 focos de calor detectados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) até domingo (23). Os dados mostram que Jimbá, no Mato Grosso, Altamira e São Félix do Xingu, no Pará, são as três cidades com a maior quantidade de queimadas desde 1º de janeiro. Os dois municípios paraenses também lideram o fogo detectado em agosto.
Nasa: maioria das queimadas na Amazônia tem origem no desmatamento