O ano de 2013 não terminou com alegria para as famílias de Juiz de Fora que tiveram problemas com as chuvas das últimas semanas. Medo, preocupação e esperança permeiam as vidas dessas pessoas que perderam pertences e casas. Tristeza e saudade são os sentimentos dos pais e do primo de uma mulher que faleceu em um desabamento de encosta que atingiu casas no Bairro Jardim Natal no dia de Natal. Ela faria 54 anos em fevereiro e deixou marido e um filho.
O cenário no bairro é de destruição. Entulhos ainda estão no local onde três residências desabaram com a força da terra que caiu da Rua Miguel Marques Peres. Uma lona preta cobre a encosta e, na beirada do buraco que se formou, há um carro que ameaça cair no alto do barranco. Os imóveis da parte de cima da rua estão fechados e os moradores saíram de casa. O pai da mulher que foi soterrada, Antônio Manoel Ignácio, de 76 anos, contou, com tristeza, que passar pela rua e ver os escombros o faz relembrar a tragédia. “Temos que nos conformar. Não é fácil aceitar esse drama. Estamos sempre lembrando”, lamentou o aposentado.
Segundo a mãe, Francisca Ana Ignácio, a filha sempre visitava os pais. No dia de Natal, cerca de 15 minutos antes do escorregamento da terra, a aposentada disse que ela foi até a casa dos pais e lavou os cabelos. Quando chegou na casa dela, ligou para a mãe. "Pediu para avisar o cunhado dela para tirar o carro que estava parado em frente porque estava descendo muita enxurrada. Cerca de 15 minutos depois, ouvimos um barulho forte e ela faleceu. Temos que pedir a Deus para nos dar forças”, relembrou.
O primo Paulo Manoel da Silva contou que o carro que estava em frente à residência foi amassado. Ele ainda lembrou que, no dia do incidente, ele viu muitas pessoas correndo após ouvir um estrondo. “Alguém me falou que a casa dela tinha caído. Fui até lá e vi o resgaste da vizinha. Ela estava gritando muito. Só acharam minha prima de madrugada. É péssimo começar o ano com uma perda dessas”, afirmou. A mulher de 50 anos que foi resgatada permanece internada segundo o comerciante, que também disse que os demais moradores da casa não estavam no local no momento. “Todo ano eles fazem uma grande festa no Natal. Foi sorte. Se eles estivessem lá, todos teriam sido vítimas”, previu.
morta (Foto: Nathalie Guimarães/G1)
A aposentada Francisca Ana Ignácio disse que o marido da filha e o neto estão morando provisoriamente com uma tia no Bairro Jóquei Clube. “Esta semana eles irão se mudar para uma casa no São Pedro”, informou. Há alguns dias, de acordo com Paulo Manoel da Silva, eles entraram no que restou do imóvel para resgatar alguns pertences. “Parece que uma das casas estava criando porcos porque tinha alguns animais no meio da lama”, contou.
No Bairro Eldorado, a aposentada Léia da Silva, de 60 anos, enfrenta pela segunda vez o risco de perder a casa devido a um desabamento de terra. Ela mora na Rua Arcanjo Campos de Miranda e afirmou que a Defesa Civil a orientou a não ficar na casa, mas a aposentada ainda permanece no local. "Já falaram para eu não dormir mais aqui, que a casa que fica em cima pode cair, mas eu não tenho para onde ir nem condições de pagar", justificou. Como medida de precaução, ela mudou a disposição dos móveis e fica acordada quando tem temporal. "Tenho medo, fico preocupada, ansiosa, às vezes a pressão sobe", descreveu.
De acordo com ela, a casa que ameaça cair é uma onde ela morou até 2004, quando a Defesa Civil pediu que ela abandonasse o local. "Na época, perdi muita coisa. Foi difícil recuperar porque eu tinha quatro filhos pequenos. Cheguei a fazer compras e não conseguir pagar", relatou.
No Bairro Cerâmica, na Rua Mamede Camilo, houve um deslizamento de terra e uma casa pode atingir um terreno com três casas mais abaixo, na Rua Nicolau Capelli. A aposentada Lúcia Helena Gatte, de 62 anos, mora com a mãe de 86 anos, que tem Mal de Alzheimer. Ela contou que já caíram terra e lajotas na residência dela. O cachorro de estimação da família, chamado de Beethoven, teve um corte na cabeça. “Convivemos com o medo. Vigio o tempo todo e peço a Deus para colocar as mãos e segurar”, ressaltou.
O sobrinho de Lúcia, Carlos Eduardo Gatte, mora ao lado com a irmã, a sobrinha de cinco anos e os pais. “Vamos tentar começar o ano com um pouco de alegria, mas temos medo. Foi a pior coisa que ocorreu”, contou. A irmã Priscila Gatte Mattos não estava em casa quando a terra caiu. “Quando cheguei, minha mãe estava tentando retirar móveis da cozinha, foi desesperador. A gente dorme com esta preocupação”, enfatizou.
Já na casa de Claudia Angélica Cassimiro Rosa, de 57 anos, moradora do Bairro Jardim Natal, o problema foi o alagamento. Segundo ela, em poucos minutos, a água invadiu a casa e destruiu móveis, colchões e outros itens. A esperança dela para 2014 é recuperar seus pertences. "Este início de ano está sem alegria. Aos poucos vou recuperando as coisas que perdi. Já ganhei um fogão", contou.