Na época de seu primeiro auge, nos anos 1990, o Molejo não poderia imaginar que caíria nas graças de jovens descolados, com gosto musical exigente, mais de 20 anos depois. Esse público, conquistado principalmente pela internet, é um dos responsáveis pelo lançamento de "Molejo Club", primeiro disco de inéditas da banda em seis anos.
"O pessoal da internet vai atrás dos nossos trabalhos. Isso foi nos dando força para lançar músicas inéditas. A gente sabe que tem um público novo, que abraçou o Molejo", diz ao G1 Anderson Leonardo, vocalista e um dos fundadores do grupo.
Comparações irônicas com os Beatles, a ajudinha de Lady Gaga e uma dose de nostalgia transformaram a banda no principal expoente do pagode dos anos 90 para os "hipsters" de 2016, muitos deles nascidos após o lançamento de "Paparico", de 1995.
O sucesso no Facebook e Twitter ensinou a Anderson o significado da palavra "meme", mas também trouxe a apreensão das comparações entre a nova fase e os trabalhos antigos. "É muita covardia comparar uma coisa consagrada com algo novo que está nascendo", avalia.
Arrocha e ostentação
Lançado em novembro, "Molejo Club" mantém o espírito zoeiro da banda, que eternizou versos como "vou voltar pra sacanagem, pra casa de massagem". No novo trabalho, os pagodeiros relatam sonhos estranhos ("Meu sonho") e um encontro tenso com os sogros ("O bagulho virou"), criticam mulheres indecisas ("Mulher bipolar") e até ostentam no camarote ("Incendiou").
Também se arriscam em um gênero mais atual, com uma versão em arrocha de "Desculpe por tudo", que apela para o duplo sentido ("Eu sei que fui grosso e te machuquei por dentro / Você é tão justa e eu cabeçudo"). "Somos uma banda que tenta acompanhar o público jovem. Não ficamos parados no tempo", afirma Anderson.
Com um vasto histórico de músicas-chiclete, ele aposta em "Fofoca é lixo", primeira faixa de trabalho do disco, como hit de "Molejo Club". Mas diz que não sabe a receita para fazer um refrão grudar na cabeça do público. "Quem dera eu pudesse gravar dez 'Cilada'. De repente até seria um intérprete mais respeitado."
Gaga não é cilada
Para quem não acompanhou o fluxo recente de memes, aqui vai um breve resumo. Em seu mais recente single, "Perfect illusion", Lady Gaga lamenta um romance mal-sucedido com os versos: "Não era amor / Não era amor / Foi uma ilusão perfeita". A reclamação lembra muito um clássico do Molejo: "Não era amor, ô, ô / Não era / Não era amor / era Cilada”.
A coincidência já foi suficiente para balançar as redes sociais, e aumentou em 102% o número de reproduções de "Cilada" no Spotify logo após o lançamento da música de Gaga. Mas foi quando, na semana passada, a própria estrela pop citou no Facebook a canção dos pagodeiros que os fãs foram à loucura.
As piadas sobre o assunto estão bem longe de ser uma cilada para o grupo, diz Anderson. "É uma brincadeira sadia, que alavanca nosso trabalho. Todo o mundo vai mandando de grupo em grupo. Para nós foi simplesmente maravilhoso", comemora.
Andrezinho de volta
Outro motivo de comemoração para o líder do Molejo é a reconciliação com o parceiro Andrezinho, que o ajudou a criar o grupo em 1988. O segundo vocalista deixou a banda há sete anos, em meio a brigas com o amigo. Sem detalhes, Anderson conta que "coisas mínimas" causaram o desentendimento, que levou os dois a ficarem anos sem se falar. "Aos 20 anos, já estávamos fazendo sucesso, ganhando dinheiro. Quem não pira o cabeção? Uma pessoa tão jovem não consegue ouvir. É difícil não ficar brigando", reflete.
Agora, Lennon e McCartney do pagode se preparam para retomar a parceria em um projeto especial em 2017. O grupo ainda não sabe se Andrezinho permanecerá depois disso, e Anderson fala do futuro como numa letra dos anos 90: "Espero que a gente consiga passar por cima dos nossos erros. Vamos deixar fluir."