Entre os três anos que separam os discos "Pra ser amor" e o recém-lançado "Tudo novo", Belo diz que emagreceu 17 quilos, parou de fumar, retomou parcerias e mudou o penteado. O cantor conta que tentou durante 15 anos deixar de ser "aquele loirinho do pagode". "De quinze em quinze dias, tinha que pintar cabelo. Às vezes fazia show desanimado, com cabelo preto e amarelo. O dread foi ótimo para mim. Os caras vão ao show por causa do meu cabelo e acham maneiríssimo", comemora.
No novo CD, Belo continua a cantar o pagode romântico que o fez se destacar no Soweto, banda da qual foi vocalista entre 1993 e 1999. Em entrevista por telefone ao G1, conta que uma volta do grupo é possível, assim como uma carreira gospel, já pavimentada por meio de duetos como os que gravou com Padre Marcelo. Mas, ao menos por enquanto, Belo ainda é um pagodeiro em carreira solo. Parece ciente de sua importância para o gênero no Brasil, como mostra nas declarações abaixo. "Eu me sinto lisonjeado em fazer parte da nata da música popular. Eu tracei minha carreira para que a minha forma de interpretar seja uma só", resume, ao ser perguntado sobre seu timbre característico.
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G1 - Por que cita 'Farol das estrelas', do Soweto, no início de 'Um herói'?
Belo - A primeira música do disco é "Nos desejos de uma paixão", do Altay [Veloso]. Ele é dono do "Farol das estrelas", e de músicas que venderam muito. Estava há uns 10 anos sem gravar o Altay. Quis resgatar um cara da minha história. "Um herói" é um samba canção lindo e maravilhoso. A coisa de releitura está na moda, Alexandre [Pires] voltou para o Só Pra Contrariar. Sou cobrado para cantar músicas do Soweto. Elas fazem parte da história do Belo. Sou bem sucedido com carreira solo, mas devo ao Soweto. Não sou ingrato e nunca vou ser. Por isso quis músicas do Altay. Este é o primeiro disco que produzo na minha vida.
G1 - Quem pega o disco e o julga pela capa, pelo novo visual, pensa que houve uma mudança de sonoridade. Espera esse tipo de reação?
Belo - Pode ser que aconteça. Mas já sabem que continuo o mesmo. Hoje tenho a terceira música mais tocada do Brasil. O shape é novo, a concepção é nova, o visual é novo... Mas ainda sou romântico. Meu show hoje é dançante, tem corpo de baile com 14 bailarinos. Está tudo novo. Tenho um espetáculo. Antes, só entrava no palco e cantava. Tenho caminhão e quatro toneladas de equipamentos. Concordo que quando você pega o CD, e vê o visual, você pensa: "Será que ele está cantando reggae?". Nego vai ver que o visual mudou, mas não mudou a concepção musical que me faz vender muitos discos.
G1 - Além do Altay, você grava músicas do Umberto Tavares, que tem como trabalho mais recente o disco de estreia da Anitta. Qual sua relação com ele?
Belo - Betinho trabalhou comigo, era meu backing vocal. Ele é o maior sucesso hoje do funk... Produz Naldo, Buchecha, Anitta. Ele é um grande compositor. Assina várias músicas para mim. "Provocação" tem um balanço maravilhoso. O Betinho viaja em toda as vertentes da música popular. O Lulu Santos e Fiuk gravam ele. É um cara muito versátil. Eu também tenho compositores da nova geração. Hoje eu faço show em São Paulo às quatro da tarde para gente de 12 a 15 anos. Estou 17 quilos mais magro e tudo está diferente.
G1 - Na contra-capa do disco tem uma foto em que você está rezando. O que esta imagem representa?
Belo - Eu sou um cara muito temente a Deus e não tenho vergonha em dizer isso. Todos os meus objetivos da vida foram traçados. Eu me libertei foi quando acreditei em Deus. Eu procurei mudar pela dor, não só pelo amor. Essa foto é um agradecimento e uma referência à dor. Agradeço a Deus pela saúde, paz, mulher e filhos. Até minha hoje mulher é diferente: ela me coloca pra cima.
G1 - Você é bem recebido quando canta em missas e faz dueto com padres?
Belo - Eu sou católico. O catolicismo impera no Brasil. Minha mãe é evangélica, casei na Igreja Católica, o Padre Marcelo fez meu casamento. Ele é meu amigo. Eu entrei na camada do religioso por causa dele. Eu estava em busca de Deus, e o Padre Marcelo me fez com que eu me encontrasse. A música católica é parecida com as músicas que eu canto. Não tenho exceção: posso cantar na Igreja. Eu sempre fui bem recebido ao cantar com padres.
(Foto: Divulgação)
G1 - Você poderia virar artista gospel ou lançar um disco só de música gospel?
Belo - Não que eu não vá cantar gospel, porque não tenho restrições. O futuro a Deus pertence. Eu penso agora no trabalho de "Tudo novo". Até janeiro vou gravar um novo DVD. Isso agora é o meu trabalho, mas depois...
G1 - E uma volta do Soweto, é possível?
Belo - A gente poderia daqui a um tempo fazer uma releitura de todas as coisas, uma coisa bonita. Uma coisa bonita, para comemorar. Poderia ser alguma coisa comemorativa, poderíamos fazer um CD e DVD. Eles continuam com a vida deles, a carreira deles. Sou bem sucedido e nunca deixei de cantar as músicas do Soweto. Poderia rolar.
G1 - Como foi a decisão de mudança de visual?
Belo - Tentei durante 15 anos sair do rótulo. Quando perguntavam "quem é o loirinho do pagode?", sempre falavam "Belo". De quinze em quinze dias, tinha que pintar cabelo. Às vezes fazia show desanimado, com cabelo preto e amarelo. O dread foi ótimo para mim. Os caras vão ao show por causa do meu cabelo e acham maneiríssimo. Eu consegui agregar várias coisas com o novo cabelo. Eu hoje tenho mais disposição, estou mais magro. Eu sou ex-fumante, estou felizaço. O corpo, o cabelo, o disco, a música, tudo mudou. Eu nunca fui de sair, mas hoje eu estou muito mais caseiro. Eu fico em casa curtindo os cachorros, vídeo game, filmes.
G1 - Qual seu filme preferido visto recentemente?
Belo - Eu assisto tudo de atualidade, vejo desenho, drama, terror. Eu assisto filme religioso. E jogo muitos games. Hoje eu tenho um ônibus na estrada que eu tenho [som] 5.1 para jogar um Playstation 3. Hoje tenho hábitos bons. Agora eu faço tênis, musculação. Antes eu só jogava bola de vez em quando. Também estou há 1 ano e 8 meses sem fumar. O cheiro hoje me incomoda.
G1 - Sem fumar, sente que está cantando melhor, tem mais fôlego?
Belo - Eu tenho disposição de fazer dois ou três shows por noite. Antes, ficava cansado muito mais fácil. A qualidade de vida é totalmente diferente. Eu perdi muito tempo com essa bobeira de fumar, sabe?
G1 - Você é conhecido por ter um timbre diferente. Quando se ouve no rádio, é fácil perceber que é você cantando...
Belo - É, isso todo mundo me fala...
G1 - Tem medo de envelhecer e mudar a voz? Ir cantando cada vez mais grave?
Belo - Eu já não sou mais nenhum jovem, estou com 39 anos. Eu me sinto criança no meio da galera nova. Consigo estar na estrada há 15 anos fazendo sucesso. Isso é muito bonito e gratificante. A gente vê muita coisa acontecendo no mercado e estou há um tempinho entre os 10 mais tocados do Brasil. Eu me sinto lisonjeado em fazer parte da nata da música popular. Meu diferencial é o modo de cantar, o timbre, é como você disse. Eu tracei minha carreira para que a minha forma de interpretar seja uma só.
G1 - Em 15 anos de carreira, já se sentiu injustiçado - seja por mídia, fãs de outros estilos, colegas cantores?
Belo - Eu sou muito na minha. Sou um cara que você pode analisar a trajetória e vai ver: eu não sou "entrão". Eu só vou onde sou bem-vindo. Tem gente que faz as coisas forçado. Eu não faço isso. Cada um, cada um. É outra parada. Não dá para forçar uma coisa que não é. Se um cara me convidar para festival de heavy metal, não vou lá cantar. Se um cara do metal for no pagode, não vai ser bem-vindo. Não quero ser esculachado. Nunca sofri preconceito, porque sei o que eu sou, qual o meu público e até onde posso ir. Onde eu vou, eu volto.