16/01/2013 17h06 - Atualizado em 16/01/2013 20h33

Rock em ritmo de pagode faz fã 'se abrir ao samba', diz cantor do Sambô

Grupo faz samba com hinos do Nirvana, Beatles e U2.
CD supera venda no Brasil de 'grandes' do rock, de Pink Floyd a Coldplay.

Rodrigo OrtegaDo G1, em São Paulo

O grupo Sambô (Foto: Divulgação)O grupo Sambô (Foto: Divulgação)

O Sambô, grupo de pagode de Ribeirão Preto, ficou famoso por fazer versões em ritmo de pagode de clássicos do rock. Nirvana, U2 e Beatles estão no repertório. As versões começaram como brincadeira, mas acabaram disputando espaço nas paradas brasilieiras com grandes bandas "originais" do rock, de Pink Floyd a Coldplay. Desde o início de 2013, o disco "Estação Sambô - Ao vivo" domina a lista de álbuns mais baixados do Brasil. Exceto pelo primeiro dia da pré-venda de "The next day", de David Bowie, o álbum do Sambô ficou no topo do ranking do iTunes Brasil durante a maior parte do mês de janeiro - e já está à frente do inglês de novo.

Enquanto "Estação Sambô" vendeu 110 mil cópias - somados downloads e vendas físicas -, segundo a Som Livre, "Coldyplay live 2012" vendeu 60 mil no Brasil, e a coletânea "The best of Pink Floyd: A foot on the door" emplacou apenas 16 mil cópias no país, segundo a EMI. Os três lançamentos estão entre os 20 mais vendidos no iTunes Brasil atualmente.

"Não é uma coisa que ninguém espera", admite o tecladista e vocalista do Sambô, Gama, em entrevista ao G1, sobre competir nas paradas com originais do rock. Ele é um dos músicos que estava em uma roda de samba em 2009 e, de brincadeira, resolveram tocar "Mercedes Benz", de Janis Joplin, em ritmo de pagode. Da brincadeira surgiu a banda, que lançou em novembro de 2012 seu segundo álbum, primeiro pela Som Livre.

O repertório mistura faixas próprias com versões de rock como "Sunday bloody sunday", do U2, "Can´t buy me love", dos Beatles e "Pais e filhos", da Legião Urbana, todas com arranjo de pagode. A banda toca nesta quarta-feira (16), em São Paulo (veja informações abaixo).

G1 - Vocês começaram 2013 com o álbum mais vendido no iTunes Brasil. No "top 20" há Pink Floyd e Coldplay. Imaginaram que competiriam com originais?
Gama - Nunca. Não é uma coisa que ninguém espera. Ainda mais falando em nomes consagradíssimos. É uma surpresa muito boa, A gente vem acompanhando sempre a evolução do disco. É muito legal ver seu disco no topo dos mais vendidos. Pra gente é uma alegria.

G1 - O que motiva as pessoas a baixarem a versão samba em vez da original?
Gama -
Porque a gente está no Brasil. Por mais que uma pessoa não consiga ver isso, todo mundo gosta de samba. É muito menor o número de gente que não gosta de que as que acham que não gostam. É um ritmo inserido na gente naturalmente desde criança. Como a gente toca as versões de músicas que não são originalmente samba, é uma oportunidade de muita gente dizer: “Eu gosto do ritmo”.

O grupo de Ribeirão Preto Sambô (Foto: Divulgação)O grupo de Ribeirão Preto Sambô (Foto: Divulgação)

G1 - Há gente que diz que passou a ouvir samba por causa de vocês?
Gama -
A gente ouve muito, pessoas que vêm até a gente pessoalmente. Ouvimos muito a frase: “Não gosto de samba, mas de vocês eu gosto”. Então, na verdade, ela tem disco de samba. A gente permite às pessoas se abrirem ao samba. Descobrir que gosta através de canções que já curtiam.

G1 - No YouTube há elogios e críticas às versões. Em “Smells like teen spirit”, do Nirvana (clique para ouvir), um fã disse: “Esses caras estragaram o hino do Nirvana”. O que responderia a ele?
Gama - São poucos. Mas é interessante, porque o rock é uma mistura de ritmos. A gente nunca rebate, porque a gente respeita. Pode xingar a gente do que quiser. Mas aí o próprio público vai no YouTube e fala: “Cara, abre a cabeça”. A banda de rock Hangar já postou um vídeo nosso no Facebook deles dizendo: “Olha que legal”. Já tocou música nossa na rádio de rock Kiss. Mesmo os mais puristas entendem que a gente não está pegando o negócio que eles têm para ganhar dinheiro. A gente também admira as músicas como eles.

G1 - O que acha que o Paul ou o John diriam do cover de “Can´t buy me love”?
Gama - Das músicas dos Beatles que envolvem o John, quem toma conta é a Yoko. Ela escuta a versão para aprovar ou não. Então nós tivemos que mandar a nossa gravação, e ela achou legal, senão não teria autorizado. São pessoas que estão tomando conta de uma obra conceituada. E permitem que a gente transforme isso. Isso aí para a gente é como receber um diploma.

G1 - O que o rock e o samba têm de semelhante?
Gama -
Não sei dizer. Depende da canção. Tem música que a gente brinca: “Esse cara nasceu no morro, isso aí é um samba”. É mais simples virar samba, já tem uma vibração. Por exemplo “Suddenly I see”, da KT Tunstall. A gente ouviu dentro de uma loja de roupa de um shopping e falou: “Opa, está tocando um samba aí”.

G1 - “Sunday bloody sunday”, do U2, fala de uma tragédia. Porque gravaram a música com ritmo alegre?
Gama - Não é porque transforma em samba que passa a ser alegre. Mas talvez por muita gente do público nem saber o que a letra diz, passou a ter uma cara mais de festa. Quando a gente presta atenção na letra, até soa estranho, mas conseguimos abstrair isso. Por exemplo: “Gostava tanto de você”, do Tim Maia, é tristíssima, e o público canta de braços abertos, há anos, como se fosse a letra mais feliz do mundo. É um momento que você tem que respeitar, o público está a fim de colocar o braço pra cima.

Sambô em São Paulo
Onde: Club A - Avenida das Nações Unidas, 12559
Quando: Quarta-feira (16), 21h
Quanto: R$ 30 (mulher até às 0h), R$ 40 (mulher após às 0h), R$ 50 (homem até às 0h) e R$ 80 (homem após às 0h)

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