raspa de 2013

ter, 31/12/13
por Antônio Carlos Miguel |
categoria Todas

Programara a minha “lista definitiva” para esse derradeiro dia de 2013 mas, esqueçamos a lista, a programação, o calendário. Mesmo porque, vivendo o aqui e agora, é mais um dia como qualquer outro – enquanto ao fundo, Donny Hathaway cantando “The Ghetto” é apenas uma velha canção que entrou aleatoriamente e me desviou da rota.

Arpoador, Rio, 27-12-2013 / Foto: Kati Pinto

Mas, se pensarmos num balanço do ano, mais do que a música, 2013 vale ser lembrado por alguns sinais que vieram das ruas. Gente pedindo mais do que pão e circo, brigando por seus direitos e conseguindo mudanças. Ainda tímidas e ignoradas por muitos, como o implante de cabelo de Renan confirma.

Sim, nesse Rio de 40 graus, ensolarado e úmido, a cidade invadida por gente do mundo todo, a impressão é de que o Gigante embarcou no seu período de pré-folia e quem sou eu para jogar água no chope. Ficam os votos de 2014 com mais avanços.

Reprodução/DVD Ana Cañas

Então, vai para o lixo a lista da música com os melhores e os piores (medalhões da MPB sujando suas biografias), mas, para não dizer que não falei de meu assunto preferencial, promovo uma raspa no material recebido em 2013 que restava sem registro. Vai que alguém se interesse pelo DVD “The Truth about love tour / Live from Melbourne” (Sony), com o pop aeróbico de Pink. Música é o que menos importa nesse show da cantora (e acrobata, não seria melhor dizer?) americana. Ou então o CD/DVD “Coração inevitável” (Som Livre), mais uma tentativa da eclética e algo desorientada Ana Cañas, agora sob a direção de Ney Matogrosso. Mudou a direção mas o show sofre do mesmo mal dos anteriores, alternando as previsíveis baladas pop da compositora paulistana com cansadas “La vie en rose” (Piaf), “Blues da piedade” (Cazuza e Frejat), “Stormy weather” (Arlen e Koehler), “Retrato em branco e preto” (Jobim e Chico). Nada que acrescente.

Melhor os novos de dois compositores e arranjadores cariocas. O também instrumentista João Nabuco escalou as cantoras Barbara Mendes e Joana Duah para as 13 canções de “Cine Samba vol. 2”(Biscoito Fino) e mantém sua MPB contemporânea.

Reprodução/CD Thiago Amud

Já o também cantor Thiago Amud  volta com mais pretensões em “De ponta a ponta tudo é praia-palma”  (Delira). A canção que dá título ao seu segundo disco é baseada na carta de Pero Vaz de Caminha e dá o mote para muito das outras: textos musicados, com arranjos e instrumental tangenciando o clássico (a partir de células expandidas de frevo, baião, toada…). Na lista de agradecimentos, Amud escreve, “pela genialidade, Guinga”, o que diz muito sobre sua música. Para o bem e para o mais ou menos, já que, quase sempre, a genialidade de Guinga se torna um beco sem saída para seus admiradores. Impressão que o segundo solo de Amud reafirma, tanto que um dos melhores momentos é quando ele troca de referências em “Outro acalanto”, para e a partir de Caymmi, em canção de tratamento bacana: apenas voz (Amud) e vibrafone (Arthur Dutra) e, ao fim, trovões (gravados pelo produtor JR Tostoi).

Ainda na pilha, três que vagam entre a MPB e o regional – “Viagem fora do tempo”, de Wimer e Trio Santo Degrau (ind.); “Giro solto”, do grupo Pé de Mulambo (ind.); e “De mim”, do cantor Gonzaga Leal (Muzak) –;  o pop que patina no pop do cantor e compositor “Nando Monteiro” (Bolacha); o simpático tributo “Sérgio samba Sampaio”, do cantor Chico Salles (Zeca PagoDiscos); o curioso EP “Respiramundo” (ind.) , com seis faixas de áudio e seis multimídias (com clipes e documentário) do cantor e compositor Mihay; e o óbvio “Meu coração brasileiro”, do pianista e compositor americano Jeff Kunkel (Delira).

Se o professor de música americano que fechou o parágrafo acima faz uma comportada homenagem aos sons do Brasil, em “Freeman blues” (Delira Blues), Cristiano Crochemore & Blues Groovers  fazem clichês do blues-rock. Daí que, mesmo abusando do formato disco de baixista, com seu instrumento sempre na frente, seja mais interessante “Clássicos” (Delira), de Dudu Lima Trio. Ou então, dois outros títulos bons na praia instrumental: “Raiz” (Delira), do guitarrista e guitarrista Pedro Araújo, e “Que nem o mundo (Oficinas da Música Universal” (Delira), no qual Itiberê Zwarg prossegue na trilha de Hermeto Pascoal. Como Guinga, Hermeto Pascoal é ótima trilha, que me permite retornar aos óbvios e sinceros desejos de um bom Ano Novo para todos.

PS: a foto que abre esse post foi feita por K no fim de tarde de sábado, mas, certamente, a imagem vai se repetir nesse 31 de dezembro de 2013. E em muitos fins de tarde, sempre.



Formulário de Busca


2000-2015 globo.com Todos os direitos reservados. Política de privacidade