Presença de Anitta
O título desse post é apenas uma associação livre, em parte pela razoável semelhança física entre a jovem cantora libanesa que quase por acaso conheci e a poderosa de 2013 no Brasil.
Foi graças a um amigo, que me repassou um email com o link para diversos artistas de uma agência de shows europeia. Após checar a esmo, conhecer pelo menos dois outros interessantes artistas de world music, fui fisgado por essa conterrânea de meu pai. Meu conhecimento de música libanesa ou árabe é perto de zero, assim como do idioma, mas bateu. Nascida em Beirute, Yasmine Hamdan também estreou solo no ano que passou, mas antes desse “Ya Nass” manteve um duo eletrônico em sua cidade natal, Soapkills, e em seguida, já em Paris, junto ao produtor Mirwais (de Madonna e demais subs) usou o codinome Y.A.S. e lançou em 2009 o álbum “Arabology”, descrito como mais uma forte fusão de batidas e levadas eletrônicas e sons étnicos. Ou seja, receita mais que disseminada na música do mundo e que raramente me interessa. No entanto, pretendo conferir este, mesmo porque as 13 faixas de “Ya Nass”, editado em abril pela gravadora parisiense Crammed (a responsável pelos discos internacionais de Bebel Gilberto), sobreviveram bem ao teste do Spotify. Assim como os vídeos que conferi no seu site.
Nada de muito pesado, fica entre o folk e a eletrônica suave. O violão que introduz a canção de abertura, “Deny”, parece chupado de uma canção do escocês Donovan Leitch (mas não vou agora procurar qual é).
Estivéssemos nos anos 1980/90, Yasmine já seria notícia entre nós, afinal, ela tem uma participação no último filme de Jim Jarmusch, “Only lovers left alive”, de 2013. Passou no Festival do Rio (e não vi), mas não entrou no circuito brasileiro.
Ainda à guisa de comparação com o Brasil, a sonoridade de Yasmine é mais para Silva do que para a citada Anitta. Por sinal, o primeiro distribuiu hoje o seu vídeo de despedida do álbum “Claridão”, chama-se “Imergir” e anuncia o CD que o selo Slap lançará ainda nesse semestre, “Vista pro mar”.
Voltando a Yasmine, em Paris, ela também trabalhou com a dupla CocoRosie (que ao conhecer, há quase uma década, aguentei por alguns segundos) e agora, para “Ya Nass”, contou com o produtor Marc Collin (do duo francês Nouvelle Vague). Segundo as infos oficiais, esse disco presta homenagem a obscuras e quase esquecidas figuras da música árabe no século XX, cantoras como Aisha El Marta, Nagat El Saghira, Asmahan, Shadia, Mounira El Mehdeyya, “com letras de sensualidade sutil e irônica crítica social, lembranças de um período de liberdade e emancipação das sociedades do Oriente Médio”, cantadas em diferentes dialetos árabes (libanês, palestino, egípcio, beduíno e do Kuwait). O clipe de “In Kan Fouadi”, feito a partir de filmes dos anos 1960/70, passa algo desse passado recente.
PS: “Ya Nass” foi lançado originalmente por Kwaidan Records, em 2012, e ganhou cinco faixas novas para a versão da Crammed que ouvi (e reouvi) ontem. Aos 36 anos, Yasmine fez três CDs no duo Soapkills, “Bater” (2001), “Cheftak”(2002) e “Enta Fen” (2005). Entre suas referências ocidentais na música ela lista Chet Baker, Grace Slick, Janis Joplin e Nina Simone.