raspa de tacho em tempo de muda

sex, 28/02/14
por Antônio Carlos Miguel |
categoria Todas

Em minha carta de intenções ao retomar esse blogquasedeliriosentimusical havia o propósito de comentar mesmo que brevemente qualquer título novo que chegasse às minhas mãos. No mínimo, listaria nomes de álbum, artista, gravadora, como costumava fazer no blog que mantive entre 2003 e 2010 no site de “O Globo”.  Tal item acaba de ser revogado por decisão do que batuca essas teclas. A partir de agora, só o que me estimular, para o bem e para o mal, será comentado. Entre os objetivos, diminuir o volume de música que escuto por obrigação.

Reprodução

Portanto, para não frustrar artistas, gravadoras, assessores, amigos que enviaram o lote abaixo, promovo a tal raspa que também pode servir de guia para quem insistir em me enviar coisas como…

Tina Turner e seu “novo” disco, “Love songs” (Parlaphone/Universal). Nada pessoal, ela tem seu lugar no pop, mas a fase solo dos anos 1980 aqui reunida é musicalmente datada, num soul-rock de arena intragável. O CD é mais um fruto da recente incorporação à Universal do catálogo fonográfico da EMI, enquanto o braço editorial foi para a Sony. Até o momento, a fórmula parece ser coletâneas com sucessos, fisgando os compradores de CD que restam.

Outra coletânea da parceria, “Eu e você” reúne fonogramas de Sylvia Telles tanto da Universal quanto da EMI e pode ser boa introdução à cantora que foi uma das vozes fundadoras da bossa nova e partiu cedo, num desastre de carro em 1966. Não é o meu caso, tenho muitos dos discos de Sylvia, portanto, dispenso coletâneas em geral.

Ainda no pacote da Universal um título novo, em CD e DVD, gravado em junho de 2013 num hotel na Barra da Tijuca , mas que também beira o intragável: “Um barzinho, um violão / Novelas anos 80, Vol. 2” (selo Zecapagodiscos). O elenco vai de Michel Teló (em “Faltando um pedaço”, de Djavan) a Zeca Pagodinho (em “Tempo de Don Don”, de Nei Lopes), todos recriando canções que fizeram sucesso em novelas globais. Da mesma forma que aconteceu com o gasto formato “acústico”, de “um barzinho e um violão” ficou só o nome, já que outros instrumentos se somam no palco do salão de convenções, entre percussão, acordeom, guitarra, ukelele… Com raras exceções, novas versões que nada acrescentam a sucessos efêmeros ou clássicos.

Nesse carnaval, melhor rodou o DVD “Ao vivo” (Canal Brasil/DaLapa) da carnavalesca o ano todo Orquestra Imperial. O Teatro Rival está longe de ser o palco adequado para a gravação de um show mas a edição, alternando imagens do cotidiano de viagens e ensaios da troupe, cria um mosaico em sintonia com a autêntica e anárquica musicalidade que sai das caixas de som. Bom para o carnaval, incluindo a marchinha de Jorge Mautner: “Na matemática do meu desejo eu sempre quero mais um, mais um beijo”.

A Cidade das Artes tem um palco perfeito para a gravação de um show, como prova “Homenagem a Tom Jobim” (Universal/Gionva), com o encerramento da turnê do 24º Prêmio da Música Brasileira protagonizada por Adriana Calcanhotto, João Bosco, Roberta Sá, Zélia Duncan e Zé Renato. Nos arranjos, Jaques Morelenbaum teve como diretriz a fidelidade, até na instrumentação, reunindo uma formação similar à da Banda Nova que acompanhou Tom em sua última década de vida. O resultado é respeitoso, jobiniano.

Não faltam novas e boas cantoras de samba, e se Marienne de Castro nem é tão nova assim, confirma em “Colheita” (Universal)  o quanto boa continua. Mesmo que influenciada demais por Clara Nunes, ainda mais após o tributo “Um ser de luz” que lançou no ano passado. Se falta alguma identidade, sobram timbre, alcance, técnica, divisão… Nos quesitos técnicos a baiana é nota 10.

Elzira E tem identidade, compensando as notas mais baixas nos tais tecnicismos. Em “O que vim fazer aqui” (Traquitana) a cantora, compositora e violonista ainda conta com a presença de Itamar Assumpção, coautor de dez das 12 faixas, entre inéditas (“Norte”, “Chuva no deserto”, “Conversa mole” e uma sem título, a faixa-bônus, voz e dub a partir de um conto de Itamar) ou regravações. A formação é de uma banda pop, assim como o caminho seguido pelos arranjos para violões, guitarras, baixo e eventuais violoncelo e viola de arco. Sem percussão ou bateria, mas com ritmos marcados.

Em “Amigos” (independente) o compositor, instrumentista e arranjador carioca Sidney Mattos comemora 45 anos de carreira com repertório instrumental quase todo inédito e 100% autoral. Cercado de duas dúzias de amigos que se alternaram através das 12 faixas, ele prova que tem combustível para  mais.

Para fechar em instrumental autoral, “Êxodo” (independente), do Entrevero Instrumental, é de uma leva mais antiga e acabei comentando de passagem, mas desde então tem frequentado o CD player. É um surpreendente quinteto de um jazz brasileiro e sulista com instrumentação interessante: acordeom (Diego Guerro), saxofone (Jota P Barbosa), bateria (Filipe Maliska), baixo (Rodrigo Moreira) e violão de sete cordas (Arthur Boscato). Três dos instrumentistas se alternam como compositores de nove dos dez belos temas. A longa “Sono”, que inicialmente parece contradizer seu título com um riff algo hard bop mas depois abre lugar para oníricos desenhos de acordeom, é um dos destaques. Ao lado de “Dununojé”, esta fechando o disco com a escaleta de Hermeto Pascoal; ou “Palaciana” (com vocais do outro convidado do Entrevero, Filó Machado) e o quase frevo “Folha negra”. No site oficial (https://www.entreveroinstrumental.com/),  onde “Êxodo”  está disponível para download, vejo que o grupo estreou em 2010 com “Siri al Presto”. Desse, irei atrás.

Bom carnaval!

 



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