porcalhões?!
Com blocos e escolas campeãs a postos para este sábado de pós carnaval, os estragos do último furacão momesco continuam expostos no Rio graças à (parcial) greve dos garis. Expostos e boiando em alguns pontos, graças às águas de março que começam após um dos verões cariocas mais secos em décadas. Imagino que o prefeito não repita o erro do governador, que, três anos atrás, tentou jogar a população contra os bombeiros. São os garis que garantem a excelência da Comlurb, caso raro de empresa pública eficiente e admirada, e eles merecem salários melhores, sim.
Esbarrei no interrobang que ilustra este post em série de (ótimos) artiguetes encomendados pela revista “Intelligent Life” a escritores sobre sinais de pontuação: vírgula, exclamação, interrogação, ponto e vírgula, reticências (que uso agora para seguir)… Como se percebe, o interrobang é uma junção dos sinais de exclamação e interrogação e, como nos conta o texto de Rosie Blau, teria sido criado no início do século XX para tentar expressar a mistura de surpresa e dúvida mas não emplacou.
Mas uso do interrobang para me surpreender questionar com aqueles que chamam os garis de porcalhões. Esses somos nós cariocas, espalhando lixo pela cidade sem consciência.
Enquanto isso, ao fundo, “Choro nº 5, Alma brasileira”, de Villa-Lobos, nas mãos (e pulmões, pés) do Projeto B, que entrou a esmo no iTreco e me leva a selecionar para reouvir na íntegra o precioso “A viagem de Villa-Lobos”, disco lançado há cerca de cinco anos pelo grupo instrumental paulistano.
Aproveitei mais um efêmero reinado de Momo para navegar musicalmente sem rota definida, trilha sonora entrando a esmo a partir dos diversos playlists espalhados por diferentes iTrecos, entre computador, celular, tocador digital… De novo, apenas algo que baixei por curiosidade, “The soul of all natural things”, um folk-new age de uma senhora de 70 anos, Linda Perhacs, californiana que vive como dentista e volta à música 44 anos depois de lançar “Parallelograms”, disco de folk-psicodélico ignorado na época e que foi descoberto por gente como Devendra Banhart, Sufjam Stevens e a dupla francesa do Daft Punk. Após as recentes muitas doses algo folk de Beck e David Crosby tentei embarcar “na alma de todas as coisas naturais” mas tudo soou velha new age demais.
Mas, nesse Dia Internacional da Mulher, um disco de outra mulher de 70 anos também ligada ao folk, a canadense Joni Mitchell, entrou a esmo e caiu bem, “Shine”. É de 2007 e na época não me empolgou. Com esse atraso de sete anos percebo que mais por minha falta de sensibilidade, já que as canções são bacanas, brilham mesmo. Então, que mulheres, homens e demais seres, porcalhões ou não.
PS: antes que puxem o meu pé, e usando de recurso que vai acabar, sim, Roberta Joan Anderson foi muito além do folk, incluindo trabalhos com Charles Mingus. Na única vez que passou pelo Brasil, Joni Mitchell foi levada a um show de Rita Lee no Rio, em meados nos anos 1970, fase Tutti-Frutti, e não gostou. Soou rock demais para ela, já flertando com o jazz; enquanto Rita só se reinventaria musicalmente na dupla com Roberto de Carvalho.