soul de hoje

sáb, 26/01/13
por Antônio Carlos Miguel |
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“Descobri” hoje numa webrrádio soul e fui atrás… Tem cara de anos 60, entre James Brown e Wilson Pickett, mas o disco “Faithful man” é recente, de março de 2012.

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Lee Fields e The Expressions, a banda base do  selo nova-iorquino Truth & Soul, investem em material original com cara de vintage, mas há pelo menos uma regravação, a balada “Moonlight mile”, que os Rolling Stones lançaram em “Sticky fingers”, e está bem ambientada em meio a outras baladas torturadas e rascantes.

Também comprei seu disco anterior no mesmo selo, “My world” (2007), que é tão bom quanto nesse onda retro soul. Vi na bio do sujeito que, aos 61 anos, ele está na área desde 1969, quando lançou o single “Be wildered”/”Tell her I love her”. Benvido, portanto, velho soulman.

referências

sex, 25/01/13
por Antônio Carlos Miguel |
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“Habitat”Mauricio Pessoa (Sony Music): Na primeira audição as referências foram tão… visíveis que quase me incomodaram. Mas, fortes e boas, elas acabam por fazer desse um disco curioso, bacana, que cresce a cada dose.

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Vai de Chico Buarque (já na canção de abertura, “Boca no lodo”) a Tom Jobim (ecos do maestro Brasileiro, que completaria 86 anos nesse 25 de janeiro, marcam o tema de encerramento, “Estrada de terra”, com vocais femininos que parecem saídos da Banda Nova), passando por Baden Powell (em “Saudade”), Paulinho da Viola (em “Água da fonte”, samba que abusa de clichês do gênero em sua letra ingênua). Sim, algumas das composições, todas com letra e música de Mauricio Pessoa, pouco avançam, em terreno mais do que batido, mas não tiram o chão de “Habitat”.

Carioca de 34 anos, ele vive em Nova York desde 2009, onde se formou em orquestração na Juilliard School of Music e gravou esse disco, produzido por dois outros brasileiros radicados por lá, o saxofonista  Zé Luís Oliveira e Béco Dranoff. É MPB com um pé fincado na estética dos anos 60, ancorada no violão de Mauricio, que se vira como cantor, mesmo sem muitos recursos vocais.

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“Amor inventado”Karina Zeviani(Som Livre): Cantora e compositora que também fez carreira fora do Brasil, essa paulista de Jaboticabal viveu nove anos entre Nova York, Paris e Londres, participando de discos e shows das bandas Nouvelle Vague e Thievery Corporation. Em 2007, Karina chegou a ser anunciada pelos Mutantes como a substituta de Zélia Duncan (que, por sua vez, ocupou por quase dois anos o papel de Rita Lee no grupo), mas o acerto não se confirmou. Cinco anos e pouco depois, ela reaparece com esse “Amor inventado” e sem identidade alguma. Gravado entre Nova York (com alguns dos músicos do Forró in the Dark) e Salvador, seu repertório vaga por um pop banal, quando muito, remetendo ao trabalho de Vanessa da Mata ou de Marisa Monte em seus últimos discos. Mais uma para engrossar a lista de cantoras/compositoras que nada acrescentam.

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“Vambora lá dançar” - Elba Ramalho (Saladesom Records): Leio no texto enviado à imprensa que esse é o disco de número 31 da cantora paraibana. Ela se mantém fiel ao repertório nordestino e dançante, de xotes, forrós, frevos, em meio a algumas baladas com o rasteiro perfil radiofônico contemporâneo. Quase tudo é inédito – entre as exceções está “Mucuripe”, a antiga parceria de Fagner e Belchior e, ainda hoje, entre o melhor que os dois já fizeram na vida – e previsível. Poderá interessar aos fãs de Elba, mas não vai mudar a opinião de quem nunca se empolgou com seu estilo.

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“Vou à Vila”Mauro Sta Cecília (independente): Compositor e escritor, Santa Cecília tem sido um dos parceiros de Roberto Frejat e Maurício Barros no Barão Vermelho ou na carreira solo do guitarrista. Mas pelo que mostrou até agora só conseguiu aumentar a saudade de Cazuza, o mais original e visceral letrista do rock brasileiro dos anos 80 – aliás, aproveitando a lembrança, a inédita de Cazuza com o Barão, recuperada para a edição comemorativa dos 30 anos do grupo, poderia ter ficada guardada, é raspa da raspa.

Voltando a Santa, ele ainda compôs com, entre outros, George Israel, Luiza Possi, Jota Quest e Wilson Sideral, e, agora, em seu primeiro trabalho como cantor também divide músicas com Humberto “Picassos Falsos” Effe, Hyldon, Rodrigo Santos, Jards Macalé e Omar Salomão; enquanto nos estúdios se alternaram alguns dos Barões atuais (Rodrigo Santos, Guto Goffi, Fernando Magalhães, Peninha). O repertório traz, é claro, os dois maiores sucessos do letrista com Frejat e Barros, as baladas “Por você” e “Amor pra recomeçar”, mas suas versões para essas duas insossas babas conseguem ser piores do que as na sofrível voz de Frejat.

E quais as referências? Rock-pop-folk… algo de Leonard Cohen, mais para o mal do que o bem. Mauro me enviou o disco acompanhado de seu novo livro, o romance “Argus” (Móbile Editorial), que será conferido em breve. Espero que com melhor sorte.

 

 

pop

qui, 24/01/13
por Antônio Carlos Miguel |
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Na linha entendo quem possa detestar o estilo do Swing Out Sister, tenho uma ligação especial com a dupla inglesa, que, em setembro de 2011, tocou pela primeira vez no Brasil. Naquele show, em São Paulo, mostraram o formato acústico e levemente jazzy que marcará seu novo disco (detalhes no elo abaixo):

https://shanachie.com/music/1532-swing-out-sister-private-view/.

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É um projeto de apelo comercial, recriando alguns dos sucessos que lançaram a partir de 1986 com o single “Breakout”, seguido de álbum de estreia em 1987, “It’s better to travel”, recheado de hits. A partir da década de 90, Corinne Drewery e Andy Connell sumiram das paradas mas têm editado discos com alguma regularidade, a maioria graças a selos japoneses. Alguns dos últimos discos são melhores que os da fase de maior êxito comercial, alternando seu pop-soul com temas e vinhetas orquestrais à la Burt Bacharach.

“Private view” será lançado na semana que vem, selo Sanachie, com distribuição digital no iTunes e na Amazon e ao lado de “Breakout” estão “Are you the same girl?”, “La la means I love you” (recriação de um sucesso soul dos anos 60), “Now that you’re not here”, entre outras. O disco é acompanhado de um DVD com o SOS ao vivo em Tóquio, com cenas de bastidores e passeios pela cidade. Quando tiver acesso, comento, sem muita expectativa.

endvdado

qua, 23/01/13
por Antônio Carlos Miguel |
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Após a conferida habitual, mesmo que seja bom, raramente volto a algum título de DVD musical. Ele fica na estante, aguardando uma improvável nova dose, eventuais consultas a título e demais infos da ficha técnica ou empréstimos a amigos. Mas entendo que essa mídia tenha seu público, principalmente no Brasil, onde vem conseguindo compensar um pouco a queda na venda de discos físicos. Então, feita a ressalva habitual, passemos ao lote que ocupou parte de meu tempo nos últimos dias.

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“The Beach Boys 50 / Live in concert” (Universal): Entendo quem deteste as harmonizações vocais dos Beach Boys em seus rocks e baladas de verões sem fim. E esse DVD duplo dificilmente fará alguém mudar de ideia sobre os agora setentões rapazes, flagrados na turnê de 2012 , quando comemoraram 50 anos de carreira. A data redonda e o cachê gordo conseguiram reunir Brian Wilson e seu primo Mike Love, estremecidos desde os anos 70, com algumas brigas na Justiça no meio. Eles retornaram ao lado de Al Jardine (outro do quinteto original) e mais dois músicos que passaram pelo grupo, David Marks (substituto de Jardine por um ano e meio, entre 1962 e 63) e Bruce Johnston (que, desde 1965, vinha ocupando no palco o lugar do genial e estressado Brian), para recriar muitos de seus clássicos com  perfeição. O disco 1 é dedicado ao show, com abrangente repertório, mesmo que com alguma predominância de sucessos da ingênua e esquemática surf music inicial (na qual misturaram ingredientes do doo-wop e do rock and roll de Chuck Berry) e, em menor número, exemplos dos sofisticados e psicodélicos temas que gravaram entre 1966 e o início dos anos 70. Para conseguir isso quatro décadas depois, o quinteto conta com o apoio de uma dezena de instrumentistas e vocalistas, boa parte saída da banda que na última década vinha acompanhando Brian Wilson em sua renascença artística.

Os BBs comemoram 50 anos, mas, como também vimos na recente volta dos Rolling Stones, o que vale mesmo é o que produziram em sua primeira década de carreira. E material não só das mãos do celebrado Brian. Jardine, Love e Carl Wilson (este o caçula dos Wilson, morto em 1998, vítima de câncer, enquanto o irmão do meio, Dennis, o único surfista dos Rapazes da Praia, se afogou em 1983) são os autores de uma preciosa pedra, lapidada pelas suas etéreas harmonizações vocais, “All this is that”. É uma canção lançada num quase obscuro disco do grupo, “Carl and The Passions – ‘So tough’”, de 1972, período que Carl convocou os músicos sul-africanos Ricky Faatar (baterista, cantor e compositor) e Blondie Chaplin (vocalista, compositor e guitarrista, que, nas duas últimas décadas tem participado das eventuais turnês dos Rolling Stones).

O disco 2 é ocupado por um documentário com entrevistas recentes, trechos da gravação de seu último disco de estúdio, “That’s why God made the radio” (lançado em junho de 2012), e inéditas cenas filmadas durante as sessões de estúdio de “Good vibrations”, em 1966. Esse foi o período em que os Beach Boys competiam artisticamente com os Beatles. Como Brian relembra mais uma vez, ele concebeu o disco “Pet sounds” fortemente influenciado por “Rubber soul”, enquanto os Beatles já afirmaram que “Pet sounds” foi uma das inspirações para “Sgt. Peppers”.

Pode não ser a melhor introdução ao grupo, mas, para quem já foi fisgado pelos Beach Boys, esse título tem seu interesse – no meu caso, me fez tirar da estante e injetar no tocador digital “Carl and the Passions”, “Wild honey”, “Pet sounds” e “Smiley smile”.

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“Hungarian Rhapsody: Queen live in Budapest” (Universal): Enquanto a banda esteve em atividade, entre 1971 e fins da década de 80, nunca entendi muito o culto à Rainha. Seu hard-rock operístico me soava exagerado, mesmo com eventuais canções  arrebatadores. Minha opinião mudou aos poucos, ou melhor, após a forte participação do Queen no primeiro Rock in Rio, em janeiro de 1985.  Meses depois, em julho, com um set de apenas 17 minutos, Freddie Mercury e companhia também roubaram a festa no Live Aid, em Londres. Esse DVD flagra a passagem por Budapest da turnê do disco “A kind of magic”, que eles gravaram e lançaram no início de 1986, revigorados pelo êxito dos shows carioca e londrino. Filmado em 33mm, por um cineasta húngaro, János Zsombolyai, tem boa qualidade de som e imagem e, como extra, um documentário de 26 minutos.

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“Músicas para churrasco Vol. 1 / Ao vivo na Quinta da Boa Vista”Seu Jorge (Universal):  Por falar em roubar o show, é o que faz Sandra de Sá, com uma devastadora versão de “Olhos coloridos”, fechando o disco 1 desse DVD duplo de Seu Jorge. Há outros bons momentos, mas, gravado em 20 de novembro de 2011, Dia de Zumbi, ele sofre do mal que abate a maioria desses projetos, muitos e heterogêneos convidados, de Zeca Pagodinho (ótimo) a Caetano Veloso (deslocado), de Alexandre Pires (fraco) a Racionais MCs (nulos), e até uma constrangedora menina então de 10 anos, Flor de Maria, que vem a ser filha de Jorge.  A grande banda, uma usina samba-pop-funk no padrão criado quatro décadas atrás por outro Jorge, Ben, é poderosa e  tem espaço para solos na longa versão de “Tive razão”, o destaque do disco 2, que, no fim do show, traz também uma patética “Ilariê” (como Caetano aceitou participar daquilo?). Seu Jorge esbanja musicalidade e presença de palco, mas também comete muitos equívocos, em trajeto similar ao de Carlinhos Brown, outro desperdício de talento.

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“Ao vivo na Lapa”Farofa Carioca (Da Lapa Música): Um ano antes, Seu Jorge tinha sido o destaque na noite em que sua antiga banda comemorava, com algum atraso, uma década de carreira. Sob a lona do Circo Voador, ele se juntou aos ex-companheiros numa poderosa versão de “São Gonça”, lançada no disco de estreia do Farofa Carioca, “Moro no Brasil” (1998/ ver PS abaixo). Dois outros “farofeiros”, o cantor e violonista Gabriel Moura e o flautista francês Bertrand Doussain, participam do show, que ainda tem Elza Soares numa visceral “A carne” (mais uma do único álbum do grupo com Seu Jorge, parceria dele com Marcelo Yuka).

Nos extras, o indefectível “making of” e “Farofa na areia” (este, o registro de um informal reencontro no Posto 9 de Ipanema) garantem mais algum interesse ao DVD.

PS: Comentário blogueiro belga especializado em MPB Daniel Achedjian (https://daniel-achedjian.blogspot.com.br/) me corrige: “Moro no Brasil” foi editado em 1998.

estranheza

sáb, 19/01/13
por Antônio Carlos Miguel |
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O passeio que Diogo Vilela promove  pela obra formidável do ubaense já justificaria a montagem de “Ary Barroso do princípio ao fim”. Música que, hoje, me fez tirar da estante os três CDs do “Songbook Ary Barroso” (idealizado e produzido pelo saudoso Almir Chediak em 1994) e botar pra rodar a segunda faixa do segundo volume, “Pra machucar meu coração”, na preci(o)sa versão de Edu Lobo (voz, violão e arranjo) e Tom Jobim (piano, nesta que foi uma de suas últimas sessões num estúdio de gravação), mais Paulo Jobim (violão), Tião Neto (contrabaixo) e Paulo Braga (bateria). Essa foi a ausência que mais senti no repertório da peça que estreou ontem para convidados no Teatro Carlos Gomes, no Rio, mas, há compensação de sobra: Diogo, mais sete atores/cantores (incluindo Marcos Sacramento, Mariana Baltar e Tânia Alves) e um grupo de músicos dirigido pelo violonista/guitarrista e arranjador Josimar Carneiro passam por outras obrigatórias e também canções menos óbvias como “Aquarela do Brasil”, “Terra seca”, “Nem ela”, “Brasil moreno”, “Risque”, “É luxo só”, “Isto aqui, o que é?”, “Na batucada da vida”, “Na Baixa do Sapateiro”…

Divulgação

Se a trilha do musical me manteve interessado e, em alguns momentos, arrebatado, a dramaturgia e o texto provocaram a estranheza que botei no título desse poste. O enredo criado pelo ator (que também assina a direção) parte da rica biografia do compositor, compositor, cantor, radialista, locutor de futebol e vira-casaca (largou o Flu para se tornar rubro-negro doentésimo). Incluindo a morte num emblemático domingo de carnaval. A peça acontece nesse último dia, 9 de fevereiro de 1964, Ary aos 60 anos, numa cama de hospital devastado por uma cirrose hepática (decorrente dos muitos “litro e meio de cachaça” da personagem que retratou em “Na batucada da vida”), ele delira e revê sua vida e carreira enquanto aguarda o desfile  da Império Serrano que o homenageia com o samba-enredo de Silas de Oliveira “Aquarela brasileira”. Engenhosa ideia mas que resultou num musical entre o grotesco e o didático. Imagino que o ranzinza, genioso e genial Ary Barroso (incorporado por Diogo, como se percebe na foto de divulgação que pesquei para ilustrar esse post) mandasse soar o gongo.

PS: “ubaense” pode ficar meio cifrado, portanto, como na peça, explico que é o sujeito nascido em Ubá. Enquanto, ao fundo, já é a faixa 1 do volume 1 do “Songbook”, “Na batucada da vida”, essa cantada por Tom Jobim e, no lugar de Edu, Vittor Santos e seu trombone.

 

 

 

seca de discos

sex, 18/01/13
por Antônio Carlos Miguel |
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Antes mesmo da crise (sem fim, arrastando-se há mais de uma década) da indústria fonográfica que janeiro é um mês meio nulo, perto de zero de novidades.

Foto: Kati Pinto

Nesses 18 primeiros dias de 2013 foram apenas cinco títulos novos, e o primeiro deles, que toca agora ao fundo, o EP do Grizz Li, comprado numa praça de Ipanema há uma semana por K, que viu o grupo franco-brasileiro se apresentando ao ar livre. É uma charanga instrumental meio pop, como a quarta e última faixa, “Afro frevo”, que pouco tem de frevo, mas é interessante, com os metais servindo de base para boa guitarra. Além da foto, K conversou e ficou sabendo que, do Rio, o grupo subiria até o Nordeste, tocando pelas ruas e vendendo seus discos. Quem não cruzar com os ursos cinzas e se interessar, aqui o site: www.grizz-li.com.

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“Procurando Lola”Bondesom (Bolacha): Na mesma praia instrumental do Grizz Li, o Bondesom é um quinteto carioca formado há dez anos, aqui num CD que foi editado há alguns meses e agora chegou às minhas mãos (e ouvidos). Instrumental com balanço, toques caribenhos – como na terceira, “Vacas magras”, tema do baixista Pedro Mann e do pianista Lucas Reis, faixa na qual o quinteto (mais o baterista/vibrafonista Gabriel Guenther, o sax tenor e soprano Yuri Villar e o percussionista Matias Zibecchi) é reforçado pelo guitarrista André Poyart. Através do disco eles recebem mais músicos, como o trombonista Everson Moraes (em “Machucado”, samba-bossa-jazzy de Mann), o acordeonista Bebê Kramer (no baião com flertes de choro “Onda do mar”, também de Maan) e o trompetista José Arimatéa (em “Samba em três”, de Mann e Rodrigo Assad, que mistura samba e rumba). As dez faixas se sustentam, o disco soa com boa surpresa para quem, como eu, tinha poucas referências do Bondesom.

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“Índio de apartamento”Vinícius Cantuária (Naïve): Em 1994, ele trocou o Rio por Nova York e de lá iniciou uma carreira internacional que já acumula mais de uma dezenas de discos e frequentes turnês por Europa, Japão, EUA…  Trajeto praticamente ignorado no Brasil. Por sinal, há dois anos, fiz a ponte entre Cantuária e a Biscoito Fino, mas apenas metade do acertado aconteceu: a gravadora distribuiu por aqui seu “Samba carioca”, só que acabou ignorando o segundo, e de mais apelo, do pacote, “Lágrimas mexicanas”, que ele fez em dupla com o guitarrista Bill Frisell. “Índio de apartamento” é mais uma boa amostra do formato a que Cantuária  chegou, transitando por bossa e pop com delicadeza, em nove faixas dele (algumas com parceiros) e um clássico de Tito Madi, “Chove lá fora”. Ele gravou guitarras, vocais, bateria, teclados e percussão, alternando pontuais e estrelados convidados através do disco: Ryuichi Sakamoto, Norah Jones, Bill Frisell, Mario Laginha, Jesse Harris, Liminha, Dadi… Será que vai passar em branco por aqui?

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“Slowhand”Eric Clapton (Universal): Editado originalmente em 1977, o disco aberto pelo sucesso “Cocaine” (J.J. Cale) ganhou em 2012 uma “35th Anniversary Deluxe Edition”. Fãs do guitarrista que, nos anos 60, era chamado de Deus pelos jovens ingleses vão adorar, principalmente devido aos extras. Virou um CD duplo, com quatro faixas bônus completando o disco de estúdio (“Looking the the rain”, “Alberta”, “Greyhound bus” e “Stars, strays and ashtrays”), enquanto o disco 2 traz “Live at Hammersmith Odeon, April 27, 1977″.   Clapton foi acompanhado pelo mesma banda que um mês depois, também em Londres, gravaria “Slowhand”, e esse show agora em CD vale pelo pacote, em longas versões de “Tell the truth”, “Further on the road”, “Badge” (do repertório do Cream), “Can’t find my way home” (do Blind Faith), “I shot the sheriff” e “Layla”.

DVD “Live in concert”The Beach Boys (Universal): esse fica pra depois (agora temos que correr e conferir Ary Barroso na pele de Diogo Vilela, que também comentarei aqui).

 

 

 

 

 

índios

qua, 16/01/13
por Antônio Carlos Miguel |
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Na segunda-feira, misturando dois fatos impactantes, a algo frustrante sessão de “A luz de Tom Jobim” e as algo angustiantes temporadas na Aldeia Maracanã de nosso filho Y (o segundo, estudante de História que nos últimos tempos está mais interessado em atuar Nela do que observar lá da faculdade), K se lembrou de uma das “Jobim chansongs”, um dos clássicos com música e letra de Tom, “Borzeguim” :

“…Deixa o tatu-bola no lugar /Deixa a capivara atravessar / Deixa a anta cruzar o ribeirão /Deixa o índio vivo no sertão / Deixa o índio vivo nu/ Deixa o índio vivo / Deixa o índio / Deixa, deixa..”

Fotos de Kati Pinto

“Deixa o índio na Aldeia Maracanã!”, arrisco que, hoje, engrossaria o coro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, se juntando ao pajé ao lado, que K fotografou no fim dessa manhã.

Muitos mais exaltaram a cultura indígena na música brasileira, desde outro Antonio Carlos, Gomes, na ópera “O Guarani”; passando pela dupla Haroldo Lobo e Milton de Oliveira na marchinha “Índio quer apito” (“Ê, ê, ê /Índio quer apito /Se não der pau vai comer /Lá no Bananal mulher de branco /Levou pra índio colar esquisito /Índio viu presente mais bonito /Eu não quer colar / Índio quer apito.”); por Renato Russo e sua “Índios” (“Quem me dera, ao menos uma vez, / Como a mais bela tribo, dos mais belos índios, / Não ser atacado por ser inocente”); Caetano em “Um índio” (“Um índio descerá de uma estrela colorida e brilhante /De uma estrela que virá numa velocidade estonteante / E pousará no coração do hemisfério sul, na América, num claro instante”);  Jorge Ben em “Todo dia era dia de índio” (“Antes que o homem aqui chegasse / Às Terras Brasileiras /Eram habitadas e amadas /Por mais de 3 milhões de índios /Proprietários felizes /Da Terra Brasilis”)

Poderia ficar horas listando mais exemplos de nosso cancioneiro, mas aproveito para jogar um foco sobre a luta de indivíduos de diferentes regiões e etnias originais sobreviventes dessa terra (ajudados por estudantes, ativistas de diversas tendências, punks, anarquistas, sem-teto…) contra a destruição do prédio que ocupam desde 2006, ao lado do estádio do Maracanã. A centenária (e histórica) construção que abrigou o Museu do Índio, abandonada há cerca de quatro décadas, está sob a mira dos insensíveis governantes do Rio (a começar pelo governador Sérgio Cabral Filho e pelo prefeito Eduardo Paes).

Independentemente dos argumentos técnicos para a demolição, que são inconsistentes e alguns mentirosos, há um de teor moral, uma dívida de 513 anos. Cada vez mais acuados nos interiores do Brasil, com suas terras invadidas por interesses de todas as espécies, os índios têm feito daquele lugar em área central e histórica do Rio um símbolo de sua luta pela sobrevivência e pelos seus direitos.

Refutemos então alguns dos argumentos oficiais. Construído em 1862, o prédio foi residência oficial no Império, depois abrigou o marechal Rondon, a sede da Funai e, a partir de 1953, foi transformado pelo antropólogo Darcy Ribeiro em sede do Museu do Índio, até 1978, quando foi abandonado. Como afirmar que esse não é um edifício histórico?

Foi largado pelo poder público há quatro décadas, mas, como vimos hoje, tem paredes sólidas, com quase um metro de espessura. Uma restauração não custará mais do que a demolição.

A alegação de que a FIFA exigiu a demolição também não se sustenta. É negada por documento datado de 27 de setembro de 2012 e assinado pelo Diretor do Escritório da FIFA no Brasil, Fulvio Danilas.

Também poderia ficar outras horas listando mais evidências, mas prefiro voltar à canção de Tom Jobim… “Deixa o índio na Aldeia Maracanã!”

PS: Milton Nascimento, que tem muitas canções sobre índios, e um álbum inteiro dedicado a eles, “Txai”, se pronunciou hoje a favor da Aldeia Maracanã. Está no vídeo postado no SocialCam cujo elo acrescento agora, imagino que funcione:

https://socialcam.com/videos/fh89JwvL?autostart=true&no_fb_log=true&error_reason=user_denied&error=access_denied&error_description=The+user+denied+your+request.#_=

jobim

seg, 14/01/13
por Antônio Carlos Miguel |
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Sem religião de berço e desinteressado por especulações sobre o imponderável, o mistério, em suma, descrentotal das bulas prontas oferecidas por tantos livros sagrados, costumo brincar que se existe algo, alguém, um poder superior, a prova disso pode estar na música de Tom Jobim. É o que toca agora ao fundo, por sinal. Digitei “jobim” num site com música por streaming, botei pra rodar a seleção que apareceu e, nesse exato momento (que já será outro quando subir esse texto), Shirley Horn se arrasta, como sempre fez, numa versão late night de “Once I loved”.

Reprodução/Instituto AC Jobim

A escolha do tema para esse poste é motivada por uma cabine (no jargão do meio, uma sessão para convidados num cinema) de “A luz de Jobim”, na qual K e eu estivemos nessa manhã. O filme de Nelson Pereira dos Santos, que vai entrar no circuito brasileiro no dia 8 de fevereiro, a sexta-feira de carnaval, completa o díptico iniciado em janeiro do ano passado com “A música segundo Antonio Carlos Jobim”.

Se o primeiro, premiado pela Associação de Críticos de Cinema do Rio, e codirigido pela neta, Dora Jobim, era uma colagem de clipes, sem narração, entrevistas, diálogos algum, agora o diretor se concentra em três personagens femininas fundamentais na vida do compositor:  a única irmã, Helena; a primeira mulher, Thereza Hermanny (mãe de Beth e Paulo); e a segunda, Ana Lontra (mãe de João e Maria Luiza). Seguindo uma cronologia, sem alternância das entrevistadas, a infância, a adolescência e a juventude estão nos relatos de Helena (escritora, autora de uma das biografias do irmão, usada como base para o roteiro desenvolvido por Miúcha e o cineasta); Thereza segue a partir  do início do namoro em Ipanema, os primeiros anos do músico da noite e  do arranjador, passando pelo boom da bossa nova, pelas temporadas em Nova York e Los Angeles e pelo nascimento de alguns de seus clássicos, como “Águas de março”; enquanto Ana entra com lembranças a partir de seu encontro com Tom, no fim dos anos 70. Com exceção da abertura, o filme é todo centrado nas entrevistas, ilustradas com imagens das locações de cada uma: Helena em Florianópolis, ou melhor, nos muitos trechos ainda de natureza exuberante (mata e céu e mar e lagoa e fauna) que restam na ilha que abriga a capital de Santa Catarina; Thereza num sítio em Itaipava igualmente bucólico; e Ana no Jardim Botânico do Rio, quase o segundo lar de Jobim na sua última década de vida.

Lembranças, emocionantes e emocionadas muitas vezes,  e imagens paradisíacas costuradas pela trilha sonora produzida Paulo Jobim, praticamente toda a partir de gravações do próprio Tom – enquanto no primeiro entravam as versões mais diversas possíveis, de diferentes intérpretes através do mundo, algumas sem critério.

Reprodução

(Na minha trilha particular, interrompi a sequência por streaming ao ver que iria tocar na íntegra o  disco ao vivo tirado do tributo a Tom no Free Jazz Festival de 1993, com participação dele, Shirley, mais Herbie Hancock, Gonzalo Rubalcalba, Shirley, Gal Costa, Joe Henderson, e fui atrás de algo desconhecido, encontrando esse curioso “East travel”, inteiramente dedicado à obra de Jobim. Foi lançado em 2011 pelo saxofonista italiano Mario Marzi, mais um quarteto de cordas, dois percussionistas e uma acordeonista, com arranjos de Valer Sivilotti. Tem algumas tinturas orientais graças ao uso da indiana tabla, tangencia a música clássica em outros momentos, e soa entre o exótico e o interessante.)

Para um apaixonado pela música de  Jobim (na tal ilha deserta, se só tivesse direito a um compositor, esse cara seria Tom), há muito o que comemorar em “A luz de Tom” (no escurinho do cinema, K, ao meu lado, secou a face em muitos trechos), mas ele está longe de ser um grande filme. E, como um “manezinho da ilha” (se bem que esse termo só começou a existir pra mim na era Guga, décadas depois de meus pais trocarem, temporariamente, Floripa pelo Rio) é um prazer a mais assistir às sequências por praias como Moçambique, Barra da Lagoa, Joaquina, Santinho e na Lagoa da Conceição e no Ribeirão da Ilha, mas a justificava de que esse cenário representa o Rio dos anos 1930 a 50 não se sustenta. Não seria mais interessante procurar o que sobrou daquela cidade do jovem Tom no século XXI?

Assistido ao segundo, penso que o ideal era de alguma forma ter conseguido fundir os dois filmes. Mas essa foi a escolha do diretor, um mestre acima de qualquer suspeita, o pai do Cinema Novo, que bateu um bolão com a irmã mais nova Bossa Nova. Então, que viva Tom Jobim, cada vez mais eterno em sua música.

questões

qui, 10/01/13
por Antônio Carlos Miguel |
categoria Todas

Para não deixar sem resposta o comentário pertinente sobre aquele cara… Sim, a atitude de Roberto Carlos proibindo e tirando de circulação, em 2007, a (ótima e quase sempre elogiosa, a seu favor) biografia escrita por Paulo Cesar de Araújo foi lamentável e continua inaceitável. No entanto, esses detalhes (que, como na canção, “são coisas muito grandes pra esquecer”) não mudam minha opinião sobre a grande arte do cantor e compositor. Mesmo que há duas décadas ele raramente apresente uma nova composição boa (mas, no fim de 2012, voltou a acertar a mão com “Esse cara sou eu” e “Furdúncio”) e repita à exaustão suas fórmulas no palco e no estúdio, RC se garante com   o repertório que (quase sempre em parceria com Erasmo) criou nos anos 60 e, principalmente, 70.  Além das canções, atualmente, o cantor, já setentão, é tão bom ou até melhor que o rapaz das jovens tardes de domingo na Jovem Guarda. Voz usada na medida certa, técnica e suavidade a serviço da canção, sem abusar de malabarismos vocais.  Muita gente que ataca Roberto Carlos e sua música por suas supostas falhas de caráter, reacionarismo ou seja lá o que for, provavelmente, nunca experimentou duas horas ao vivo e a cores (com predominância do azul e suas tonalidades). Um show de RC continua irresistível, esse cara ainda é terrível.

Guardadas as muitas diferenças, esse também é o caso dos Rolling Stones, que estão aí comemorando 50 anos de carreira graças ao que a dupla Jagger & Richards compôs no mesmo período. A partir do fim dos anos 70, os Stones lançaram discos que soavam como pálidas cópias de seus clássicos juvenis, mas, no palco, esses caras também se garantem.

Ou de Jorge Ben Jor, que, como compositor, não chega aos pés do Jorge Ben das décadas de 60 e 70. E isso nada tem a ver com a mudança de seu nome artístico.

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Essa perda do vigor criativo não é uma regra e, entre os hoje medalhões revelados na década de 60 que continuam em atividade, há gente que continua produzindo música nova e boa. De Bob Dylan a Chico Buarque, passando por Caetano, Paul Simon, Marcos Valle, Egberto Gismonti… Isso sem falar nos veteranos também ainda em forma revelados nos anos 70, 80…

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Por sinal, David Bowie, que andava mudo e fora de circulação desde 2003, aproveitou o aniversário de 66 anos (na terça-feira passada) para lançar em seu site uma nova canção, “Where are we now?”, prévia do álbum “The next day”, que chegará ao mercado em março. É uma balada melancólica, com lembranças de Berlim, onde viveu alguns anos na década de 70, ilustrada no clipe por imagens da cidade e do rosto sem glamour algum do velho popstar. “Onde estamos nós agora?” pergunta, meio que respondendo, Bowie. E mesmo que pouco acrescente ao seu catálogo, é o suficiente para nos deixar a fim de conhecer “o próximo dia”.

PS: Independentemente dos medalhões, semi-aposentados ou não, há muita música boa rolando por aí. Para ficar no meu quintal, o Rio, nesse verão infernal, oferece opções variadas. Chega de lamentação.

PS2: trilha que rolaVA ao fundo e a esmo, uma versão funk disco de “Upa Neguinho”, com a United Future Organization. No mínimo, curiosa. Em seguida, outra curiosidade recente, a japonesa Monday Michuri num dueto com Ed Motta em “Bridges” (an English version de “Travessia”), de seu último disco, “Soulception” (2012).

música impopular

sex, 04/01/13
por Antônio Carlos Miguel |
categoria Todas

Não estou entre aqueles que pensam que a produção musical atual é inferior à do passado. Música ruim e boa (e as 48 outras tonalidades entre esses extremos) sempre co-existiram, geralmente com maior exposição da pior. Mas, muitas vezes, qualidade e sucesso comercial coincidiram – para ficar num só exemplo, os Beatles, principalmente entre 1966 e 70, fizeram grande arte frequentando o topo das paradas. O que talvez mudou é o fato de, nos últimos tempos, raramente isso acontecer. Daí a impressão generalizada de que o mundo está acabando, e ao som de Psy, Michel Teló, Paula Fernandes, Taylor Swift, Justin Bieber, Bruno Mars, Luan Santana, Cláudia Leitte e similares.

Uma conferida na lista dos mais vendidos da “Billboard” americana nesta primeira semana de 2013 traz… Psy, Bieber, Rihanna, Mars, Swift, Ke$ha, Flor Rida, em meio a medianos, genéricos como Maroon 5, Adele, Alicia Keys… Aqui no Brasil a parada também é dura, lamentável, tendo na liderança de CDs e DVDs (segundo a Associação Brasileira de Produtores de Disco e a empresa Nielsen) o intragável Padre Marcelo Rossi e seu “Ágape amor divino” (isso é música?).

A princípio, pode assustar. Mas, há anos, décadas, que sucesso não é parâmetro algum para qualidade. Costumo olhar as paradas por hábito, interesse profissional, já que raramente elas me apresentam a novos e bons sons. No entanto, antídotos musicais não faltam. Navegando a esmo pela internet, botando para rodar material que recebo, discos indicados aos prêmios que sou jurado, aplicado por amigos, volta e meia boas surpresas aparecem. E, além da boa música impopular que continua sendo feita Brasil e mundo afora, não paro de descobrir velhos artistas e discos que desconhecia e continuam poderosos, eternos.

Então, sem lamentação, tudo de bom e bem em 2013 e sempre, com muita música, impopular ou não. Enquanto, ao fundo, catei algo numa rádio do iTunes para ilustrar minha tese, e o velho Boz Scaggs segue com “Miss Riddle”, de um disco de 2001 que eu desconhecia, “Dig”. Sim, é um jazz-pop genérico gravado com cobras dos estúdios de Los Angeles que, para o bem e o mal, fazem de tudo (David Paich, Nathan East, Greg Phillinganes, Steve Lukather, Ray Parker, Jr…). Mas, assim, a esmo, caiu bem.

PS: logo após publicar esse texto, na tal web rádio Air Jazz entrou “Estopim”, com Ná Ozzetti (grande cantora, fora da grande mídia), canção-título de um disco de 1999 que ouvi e gostei na época e depois deixei na estante.



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