Pará pop
Nos dois, três últimos anos, a música regional e pop do Pará tem sido anunciada como a bola da vez. Algum sucesso na grande mídia (leia-se Gaby Amarantos) e prestígio entre formadores de opinião. Para quem quiser conhecer mais sobre o fenômeno, o CD/DVD “Terruá Pará 1″ (Secr. de Est. de Comunicação/Governo do Pará) é uma boa introdução. Dois CDs e um DVD (que recebi por correio, ontem, sábado) com o registro do show coletivo realizado no Auditório Ibirapuera (SP), em março de 2006, e que reuniu veteranos e então novos nomes de guitarradas, tecnobrega, chamegado, enfim, o que por aqui no Sudeste conhecemos como carimbó. Participam também veteranos que já tinham levado algo desse sotaque à MPB, como Fafá de Belém e o compositor Nilson Chaves.
Como se vê, a atual febre teve um suporte oficial bem arquitetado, com direção geral e produção musical de um hábil articulador entre a cena alternativa e o sistema, o mainstream, o gaúcho Carlos Eduardo Miranda (que conheci como jornalista na revista “Bizz”, no fim dos anos 80, e mais recentemente virou personagem pop como jurado de “Ídolos”, e também do último Multishow que premiou, entre outros, Gaby e seu “Ex-my love”). Ele atua em parceria com Cyz Zamorano (que desconhecia e, após pesquisa na internet, vejo ser DJ pernambucana e também ex-jurada de “Ídolos” e similares).
Assisti ao DVD (mas, agora, sem relação alguma, rola a coletânea “El alma del Peru Negro”, que conferira na época de seu lançamento, há uns 15 anos, e desde então repousava entre os CDs pop internacional, não sei bem por que, eu me interessei pela cultura peruana, aqui filtrada por David Byrne)… Bem, quase duas horas dos ritmos puladinhos do Pará é dose. Mudam os “mestres” de guitarradas e saxofones, mas tudo acaba parecendo show do Gogol Bordello, aquele punk-polka-cigano-aeróbico que soa interessante na primeira música, mas acaba se repetindo e virando tédio por vinte, trinta intermináveis outras. Os caras já começam no auge, é meio como axé, cumbia, salsa… Para piorar, ali no grande Auditório, a sequência soa desafinada, os timbres são óbvios, as melodias, idem. Sim, balançante, previsível e música que pode servir para ótimos momentos de jams, improvisos, charangas, jazz. No rock dos anos 80, “Alagados”, dos Paralamas, fazia tanto a ponte com a juju music africana quanto com esse pop do Norte/Nordeste, e soou visceral naquele momento. Mas não avançou.
Quanto a Gaby, não me incomoda, é melhor que… Beyoncé. O tecnobrega é o mesmo que a lambada, que teve como rei Beto Barbosa (também do Pará, mas ignorado pelo Terruá, e que voltou à mídia há uns dois anos graças ao comercial na TV), e já era um carimbó mais pop, assim como a da grupo franco-brasileiro Kaoma… Ou a macarena.
O “1″ do título indica que um segundo pacote deve vir por aí - no ano passado, no mesmo local, um outro concerto, com elenco na sua maioria diferente, entre novos como Lia Sophia e Felipe Cordeiro e veteranos, entre esses, o violonista virtuose Sebastião Tapajós e o compositor Paulo André Barata, foi realizado -, e, pelo visto, um terceiro também, já que esse primeiro será lançado com o “Terruá Pará 2012″, entre 7 e 9 de outubro, novamente no Auditório Ibirapuera.
No texto de apresentação oficial, assinado pelo secretário de Estado Comunicação do Pará, Ney Messias Jr., encontro a informação de que terruá é uma corruptela da palavra francesa “terroir” (wiki: “O terroir, na ampliação do conceito desenvolvido por geógrafos franceses, é um conjunto de terras sob a ação de uma coletividade social congregada por relações familiares e culturais e por tradições de defesa comum e de solidariedade da exploração de seus produtos”).
@@@@@Lembrança da peça da última sexta
Acabou o passeio pelo Peru Negro e botei “Obligatory Villagers” – este, um dos raros CDs da última década que eventualmente me tirou da opção shuffle em meus players -, mas agora para reouvir sua segunda e jazzística faixa, “Oversure”, que tem longa introdução instrumental, sopros, sinos, cordas, piano, bateria…, antes das vozes da pianista e compositora Nellie McKay e de seu convidado especial, o cantor bebopper Bob Dorough. Na noite desta sexta, para minha surpresa, essa foi a intro musical usada em “Eu quero um milionário” pelo diretor Joaquim Vicente na hilariante nova peça de Luiz Carlos Góes. Ou seja, a abertura já nos botou no clima. Em síntese, é um show de cabaré protagonizado por quatro atrizes e um ator alternando sketches e números musicais, com canções originais e paródias – entre essas, “Emilinha e Marlene” a partir de “Lili Marlene”, que Góes fez com Dussek. Texto, direção e atuação também comentam o ambiente que ocupam, um inferninho em Copacabana, com direito a strip tease de duas das jovens atrizes. Sensso é o nome, na Rua Princesa Isabel 7, quase na Atlântica, e, na hora em que saímos, pouco depois das 21h, a fauna local ainda era pequena.
PS: pretendo conferir a estreia de “The voice”, mas não sei se voltarei aqui hoje…
parabéns pelo retorno, a internet sente falta de pessoas inteligentes.