A trilha do momento, entrando a esmo aqui no computador, é um piano algo frenético, que não reconheço, tenho que ir ao iTreco e ler: “Departure No. 2″, com Stanley Cowell, jazz dos anos 60 e 70, que baixei da internet há alguns anos, quando usava um programa de troca de arquivos, soulseek, que não roda bem em mac. Essa foi uma das razões para ter parado com isso, o troca troca (legal ou ilegal, a discussão continua) de arquivos digitais pela rede.
Mas, por que as gravadoras não funcionam como clubes, dando acesso, mediante quantias mensais dos associados, a seus acervos? Com diferentes planos, para ouvir como rádio, por streaming, ou baixar em seu aparelho. Muita gente ainda embarcaria nessa.
Tenho comentado aqui de como a Apple avançou no negócio da música, mas, fora dela também há muitas opções. Através do YouTube, por exemplo, é possível acesso a quase tudo, independentemente do aparelho que estejamos usando – aliás, fui lá para fazer um teste, digitei Stanley Cowell e apareceram diversas faixas de discos dele, com a capa do álbum ou sequência de fotos ilustrando a música, é como um rádio ilustrado.
A essa altura o que toca ao fundo já mudou, é “Seven Samurai”, de e com Ryuichi Sakamoto, disco “Chasm”, o que me lembra que, em recente entrevista, Gilberto Gil me contou que, a partir de dezembro, Jaques Morelenbaum retoma sua colaboração com o pianista, compositor, produtor japonês. Os dois, mais Paula Morelenbaum, fizeram há mais de uma década um belo tributo a Tom Jobim, “Casa”, que rendeu ainda o ao vivo “A day in New York”. Morelenbaum, que também já trabalhou com, entre outros, Egberto Gismonti, Tom Jobim e Caetano Veloso, está no atual “Concerto de Cordas e Máquina de Ritmo” de Gil, que rodou cinco países da vizinhos, Chile, Argentina, Colômbia, Peru e Equador.
Coincidentemente, do Equador, recebi há menos de um mês o curioso e interessante, ”Más allá del Carnaval: Una semblanza sobre la Música Popular Brasileña”, de Francisco Aguirre Racines, sociólogo e demógrafo que é apaixonado pela MPB. O livro traz entrevistas, perfis e ensaios sobre artistas brasileiros e, pelo visto, deverá ter um segundo volume – Racines me conta num e-mail que aproveitou a recente passagem do show de Gil por Quito para entrevistá-lo.
@@@@@Ryoichi Kurokawa
E, em outra conexão com Sakamoto, um conterrâneo e eventual parceiro dele, Ryoichi Kurokawa, participa nesta quinta, dia 27, do Festival Multiplicidade, no Oi Futuro Flamengo. Ele fará duas sessões de “Rheo”, projeto que é descrito como “espécie de cinema multimídia”.
@@@@@A “Lux” de Brian Eno
PS: a instalação de Eno na Lapa carioca vai acontecer entre 19 e 21 de outubro!
Divulgação
Por falar em multimídia, um dos artistas estrangeiros que, no momento, está com instalação no Rio (projeções nos Arcos da Lapa, dentro do projeto de ocupação urbana artística OiR), o inglês Brian Eno trocou, nos anos 70, a carreira de rockstar no Roxy Music pela livre experimentação. Desde então, atuou tanto como músico (e produtor, incluindo entre seus clientes, dos Talking Heads ao U2) quanto artista plástico. Seu novo disco, “Lux”, que a gravadora Warp anuncia para novembro, avança nessa fronteira: é uma composição de 75 minutos, dividida em 12 seções, que começou a nascer a partir de um trabalho que atualmente está em exposição numa galeria em Turim, na Itália. Segundo o texto de divulgação de Eno, “Lux” desenvolve temas e texturas sônicas que estiveram presentes em álbuns anteriores, como “Music for films” e “Music for airports”. É algo que ficou conhecido como “ambient music”, e no fundo não passa de uma “musak” (aqueles anódinos sons para elevadores, escritórios) com pretensões.
@@@@@Novo Cantuária
Divulgação/Vinicius Cantuária
Radicado em Nova York há quase duas décadas e rodando o mundo com sua música, Vinícius Cantuária comemora o nascimento de seu novo filho, Tom Cantuária, com Claire Bower, a produtora de TV inglesa com quem está casado.
Desde 1994, quando trocou o Brasil pelos EUA, Vinicius tem batido um bolão com músicos como Arto Lindsay, Ryuichi Sakamoto, Bill Frisell, Brad Mehldau, Marc Ribot, Mauro Refosco, João Donato, Marcos Valle, David Byrne, Michael Leonhart, Jeff Harris e Norah Jones. Também lançou nove discos solo – o último deles, “Samba carioca”, 2009, finalmente ganhou uma edição brasileira, no ano passado, pela Biscoito Fino. A esses, soma-se um álbum composto e gravado em dupla com o guitarrista de jazz Bill Frisell, “Lágrimas Mexicanas”, lançado em 2011 na Europa e nos Estados Unidos – a BF tinha ficado de editá-lo também aqui, em negociação da qual participei, mas, pelo visto, esqueceu do combinado.
@@@@@Música Portuguesa Brasileira
Pierre Aderne trocou o Rio por Lisboa, onde gravou novo disco, “Bem me quer, mar me quer”, e uma série de programas para a TV, “Música Portuguesa Brasileira”, (aqui vai passar no Canal Brasil) na qual promove o encontro de cantores, compositores de Brasil, Portugal e países luso-africanos. O clipe abaixo, que gravou na Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio, em dueto com Susana Félix, é de uma das canções do CD e um dos exemplos dessas conexões.
@@@@@Nova Orleans-Rio
Divulgação/Jefferson Mello
fotógrafo apaixonado por jazz, o carioca Jefferson Mello já lançou um livro sobre o tema no qual fez uma ronda por clubes do gênero no mundo (de Tóquio a Santiago do Chile, de Nova Orleans a Moscou). Agora, ele se concentra em Nova Orleans, onde filma para o documentário “Jazz & Samba”, que levanta alguns dos muitos paralelos entre a cidade que é o berço do jazz e o Rio. A foto ao lado, com o trompetista Greg Stafford, é das recentes aventuras em Nola (como os locais chamam a Crescent City, outro dos apelidos da cidade).
@@@@@Arnaldo Antunes em espanhol
O cineasta espanhol Fernando Trueba, um apaixonado pela música brasileira, idealizou um disco com composições de Arnaldo Antunes em espanhol. O próprio diretor fez as versões e co-produziu (com Alê Siqueira, num estúdio em Salvador) o álbum, que será a estreia da jovem cantora Linda Kremer. Ouvi algumas faixas, há duas semanas, em Miami, no carro de um parceiro de Trueba nessas investidas musicais, Nat Chediak (autor do ótimo livro “Diccionário de Jazz Latino”), e o resultado é curioso, bem pop.
@@@@@Bossa no mundo
Divulgação/Marcos Vall
Marcos Valle se apresentou neste fim de semana num festival de jazz no Cazaquistão e agora volta a tocar em Moscou, onde já tinha feito shows no ano passado. Patrícia Alvi, no centro, cantora e mulher de Marcos, tem documentado a aventura e postado no facebook, de onde tirei essa imagem da banda.
O show na capital russa será neste sábado, dia 29, e é anunciado como ”Marcos Valle and All Stars”, com participações de Roberto Menescal, Paula Morelenbaun, Cristina Braga e Frank Colon (percussionista americano que está vivendo no Rio). No ano que vem, o produtor desse evento, Vartan Tonoian, pretende aumentar ainda mais o elenco, com um festival de bossa nova em Moscou.
@@@@@Gilvan Nunes expõe em Salvador
Divulgação/Kati Pinto
Já que me referi a artes plásticas em algumas das notas desse imenso poste, fecho com uma, a princípio, sem conexão musical. Mineiro radicado no Rio há quase três décadas, Gilvan Nunes inagura hoje nova exposição individual, na Galeria Paulo Darzé, em Salvador. São enormes telas a óleo, com exuberantes e exóticas criações que remetem à flora e à fauna, como essa na qual ele trabalha em seu ateliê, em foto de Kati Pinto. Workaholic, na semana passada, Gilvan abriu outra individual, na SIM Galeria, em Curitiba; e, há duas semanas, também participou da ArtRio, na Galeria Oscar Cruz, de São Paulo. Enquanto, ao fundo, já é “O céu e o som”, Gal Costa naquele que é um dos seus melhores discos, “Cantar”.
PS: Einhorn (e o trem de Strayhorn)
Foto ACM
craque da gaita e de composições, Maurício Einhorn se apresenta em dupla com o pianista Alberto Chimelli, hoje, às 20h, no Teatro Princesa Isabel, na avenida de mesmo nome, número 186, na área de Copacabana vizinha ao Leme que foi fundamental para a música brasileira. Einhorn é autor (com Durval Ferreira, mais eventuais parceiros como Regina Werneck, Bebeto) de músicas que ajudaram a formatar o que ficou conhecido como samba-jazz: “Estamos aí”, “Batida diferente”, “Tristeza de nós dois”, “Sambop”, “Samblues”.
Revi Einhorn no palco em junho passado, na última edição do Rio das Ostras Jazz & Blues Festival, quando fez uma apresentação arrasadora. Música densa, com balanço e improviso, em repertório que passou por alguns dos clássicos acima e diferentes temas de outros, incluindo, para meu deleite, “Take the A train”, de Billy Strayhorn. Na manhã seguinte, encontrei-o fazendo o check out no hotel e comentamos sobre como nasceu esse que virou o prefixo da orquestra de Duke Ellington… mas essa é uma história longa (que conheci na biografia de Strayhorn escrita por David Hajdu), e fica pra outro dia… Melhor recuperar uma iPhoto que fiz em junho com Maurício em ação.