Guerra na Ucrânia

Por Giuliana Viggiano, g1


Imagem de arquivo. Crianças brincam enquanto pessoas seguram uma bandeira ucraniana gigante para protestar contra a intervenção russa na Ucrânia durante a celebração da independência da Lituânia em Vilnius, Lituânia, terça-feira, 11 de março de 2014. — Foto: AP Photo/Mindaugas Kulbis

Desde a invasão da Ucrânia em fevereiro de 2022, pelo menos 6 mil crianças foram levadas para campos de reeducação da Rússia, revelou uma análise da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, divulgada na terça-feira (14).

"O objetivo principal das instalações que identificamos parece ser a reeducação política", disse Nathaniel Raymond, um dos pesquisadores, em entrevista coletiva.

O relatório é o mais recente produzido pelo Observatório de Conflitos, projeto apoiado pelo Departamento de Estado norte-americano que examina violações de direitos humanos e crimes de guerra supostamente cometidos pela Rússia.

Os estudiosos afirmam que as autoridades russas, incluindo o governo federal, coordenam o sistema, que envolve pelo menos 43 instalações espalhadas pela Rússia e na Crimeia.

Os pontos mais importantes revelados pelo relatório foram:

  • Diversos grupos de crianças foram observados chegando nas instalações entre fevereiro de 2022 e janeiro de 2023,
  • A idade das crianças mantidas em "campos de reeducação" ou outras instalações russas variavam de 4 meses a 17 anos;
  • Em alguns campos, jovens de até 14 anos estavam recebendo treinamento militar. Não há evidências de que eles tenham sido enviados para combate;
  • Na maior parte das instalações (78%), os jovens foram reeducados de acordo com a visão do governo russo sobre a cultura nacional, história e sociedade;
  • A análise identificou 43 alojamentos espalhados pela Rússia e na Crimeia onde as crianças ucranianas foram mantidas, sendo que dois deles estão associados à deportação de órfãos: um hospital psiquiátrico e um centro familiar;
  • Entre os jovens estavam aqueles com pais ou tutela familiar clara, russos considerados órfãos, os que estavam sob os cuidados de instituições estatais da Ucrânia antes da invasão, e aqueles cuja custódia não era clara ou incerta devido à guerra;
  • Em diversas situações, os responsáveis foram coagidos a autorizarem a ida dos jovens aos "acampamentos". Foram registrados relatos de pais que negaram a participação dos filhos, mas foram ignorados;
  • As crianças em 10% das instalações avaliadas tiveram a data de retorno suspensa ou adiada pelas autoridades russas. Em muitos casos, os responsáveis não receberam mais informações;
  • Algumas das crianças foram transferidas pelo sistema e adotadas por famílias russas, ou enviadas para um orfanato na Rússia.

“O que está documentado neste relatório é uma clara violação da 4ª Convenção de Genebra”, o acordo que protege os civis em tempos de guerra, disse Raymond.

De acordo com ele, o relatório poderia ser uma evidência de que a Rússia cometeu genocídio durante sua guerra na Ucrânia, já que a transferência de crianças para fins de mudança, alteração ou eliminação da identidade nacional pode constituir um ato componente do crime de genocídio.

Promotores ucranianos disseram que estão examinando as alegações de deportação forçada de crianças como parte dos esforços para construir uma acusação de genocídio contra a Rússia.

"Esta rede se estende de um extremo a outro da Rússia", afirmou Raymond, acrescentando que os pesquisadores acreditam que o número de instalações em que crianças ucranianas foram mantidas excede 43.

A análise indica que o sistema de campos e a adoção por famílias russas de crianças ucranianas retiradas de sua terra natal "parece ser autorizado e coordenado nos níveis mais altos do governo da Rússia", começando com o governo federal e estendendo-se às autoridades locais.

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