Pronunciamento do presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol no qual decreta lei marcial — Foto: Anthony Wallace/AFP
A Coreia do Sul está no centro das atenções internacionais após o presidente Yoon Suk Yeol decretar lei marcial nesta terça-feira (3). A medida foi tomada em meio a uma escalada de tensões políticas internas e derrubada horas depois, sob intensos protestos em Seul e uma votação contrária da Assembleia Nacional.
A lei marcial restringe o acesso a direitos civis e substitui a legislação normal por leis militares. Entre as medidas, estão limitações de atuação e controle dos veículos de imprensa, do Parlamento e das forças policiais. Todas as atividades políticas, incluindo manifestações, ficam proibidas.
A oposição, que controla o Legislativo e que votou de forma unânime pela derrubada do decreto, disse que não reconhece a medida e que aponta uma tentativa de golpe por parte do presidente.
Essa é a primeira vez que a Coreia do Sul implementa uma lei marcial desde o fim da ditadura militar, na década de 1980. A nação, além de ser um importante aliado dos Estados Unidos, conquistou relevância global nos últimos anos por meio da difusão de sua música, gastronomia e cultura, impulsionada pelo fenômeno Hallyu — a onda sul-coreana.
Com uma população de 51,3 milhões de habitantes e um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,925 (considerado muito elevado), o país ocupa a 12ª posição no ranking mundial dos países mais desenvolvidos do mundo.
Lei marcial na Coreia do Sul: Parlamento vota para derrubar decreto do presidente
Nesta reportagem, você vai ver:
1. O milagre do Rio Han: a economia e a tecnologia sul-coreana
Distrito de Gangnam, em Seul, em imagem de 2014 — Foto: AP Photo/Ahn Young-joon
Após a devastação causada pela Guerra da Coreia, nos anos 1950, a Coreia do Sul adotou políticas econômicas que transformaram o país de uma nação predominantemente rural em uma das economias mais industrializadas do mundo, com um crescimento vertiginoso do PIB até os anos 1990.
Esse fenômeno ficou conhecido como o "Milagre do Rio Han" e foi impulsionado por fatores como a economia focada na exportação e a industrialização acelerada. O país é considerado um dos Tigres Asiáticos, ao lado de Singapura, Hong Kong, e Taiwan.
Sede de gigantes como Samsung, Hyundai e LG, o país se tornou uma potência tecnológica. Além disso, o país se destaca em inovações nas áreas de 5G, robótica e inteligência artificial.
2. Relação com a Coreia da Norte
Imagem divulgada em junho de 2024 mostra movimentação de soldados norte-coreanos perto da fronteira com a Coreia do Sul — Foto: Handout / Ministério da Defesa da Coreia do Sul / AFP
Após a Segunda Guerra Mundial, a península coreana foi dividida em duas nações: a Coreia do Sul, apoiada pelos Estados Unidos, e a Coreia do Norte, sob a influência da União Soviética. A Guerra da Coreia (1950–1953) consolidou essa separação, iniciando mais de 70 anos de tensões.
Embora houvesse a expectativa de unificação, divergências ideológicas impediram qualquer acordo. A Coreia do Sul passou por regimes autoritários até a transição para a democracia, nos anos 1980, enquanto a Coreia do Norte segue sob um sistema de controle estatal rígido.
Nos últimos anos, as tensões aumentaram com ações como testes de mísseis e até o envio de balões com lixo e fezes para o território sul-coreano. A escalada recente foi marcada pela suspensão, em novembro de 2023, pela Coreia do Norte, de um pacto de não agressão assinado em 2018.
3. Política
Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, em foto de arquivo — Foto: Reuters/Kim Hong-Ji/Pool/File Photo
Yoon Suk Yeol, atual presidente da Coreia do Sul, foi eleito em 2022 sendo considerado um novato na política. Antes de ingressar na carreira política, ganhou notoriedade como promotor, liderando investigações sobre alguns dos mais notórios escândalos de corrupção do país.
Desde que assumiu o cargo, Yoon tem enfrentado dificuldades para avançar com sua agenda, devido a um Parlamento dominado pela oposição. Essa situação, combinada com sua recusa em apoiar investigações independentes sobre escândalos envolvendo sua esposa e altos funcionários de seu governo, têm resultado em uma queda significativa de sua aprovação popular nos últimos meses.
4. Relação com os Estados Unidos
Presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk-youl, e presidente dos EUA, Joe Biden, se encontram em Seul no dia 21 de maio de 2022 — Foto: REUTERS/Jonathan Ernst
Os Estados Unidos e a Coreia do Sul são aliados estratégicos desde o fim da Segunda Guerra Mundial e realizaram diversos exercícios militares conjuntos nos últimos anos.
Atualmente, cerca de 28 mil soldados americanos estão no território sul-coreano, com o país contando com esse apoio para garantir sua segurança frente às ameaças da Coreia do Norte.
Em março, Seul foi sede da terceira Cúpula pela Democracia, uma iniciativa lançada em 2021 pelo presidente dos Estados Unidos, Joe Biden. Outro marco da amizade entre os dois países é mais recente, com a parabenização da vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, pelo presidente sul-coreano.
5. K-pop e a 'onda coreana'
A banda de k-pop BTS se apresenta durante o VMA — Foto: VIACOM via REUTERS
A influência cultural da Coreia do Sul tem ganhado força mundialmente, sendo popularizada por meio do fenômeno Hallyu, também conhecido como a "onda coreana".
Esse movimento globalizou o K-pop, os dramas televisivos (K-dramas) e o cinema sul-coreano, culminando com a vitória de "Parasita" no Oscar de Melhor Filme em 2020, o primeiro prêmio desse tipo para uma produção do país.
A onda coreana rende ao país o chamado "soft power", termo que descreve influência de uma nação através dos seus produtos culturais. Os k-dramas, como são chamadas as novelas coreanas ganharam o coração até dos vizinhos coreanos do norte, que pirateiam e contrabandeiam fitas dos programas.