Por g1


Bolivia já teve 194 tentativas de golpe, diz pesquisador

Bolivia já teve 194 tentativas de golpe, diz pesquisador

A Bolívia sofreu nesta quarta-feira (26) uma tentativa de golpe de Estado, a 194ª de sua história, segundo o pesquisador Maurício Santoro. Tanques do Exército e militares armados chegaram a invadir o palácio presidencial, em La Paz, mas se retiraram do local poucas horas depois.

A tentativa de golpe, segundo o governo, foi arquitetada pelo general Juan José Zuñiga, que foi afastado do cargo de comandante do Exército após fazer ameaças ao ex-presidente Evo Morales -- ele afirmou que prenderia Morales caso o ex-presidente volte ao poder. (Leia mais abaixo)

"A Bolívia tem 193 golpes ou tentativas de golpe de Estado em sua história. Hoje foi a de número 194 e pelo que estamos vendo ela deu errado. Que bom que deu errado, a democracia boliviana mostrou que tem esses anticorpos para se defender", disse Santoro, que é cientista político e colaborador do Centro de Estudos Político-Estratégicos da Marinha do Brasil.

Segundo Maurício Santoro, é "muito preocupante" que a tentativa de golpe de hoje tenha acontecido, porque não foi um caso isolado no contexto da América Latina. Ainda neste ano na Guatemala houve uma tentativa de impedir a posse de um presidente eleito Bernardo Arévalo. No ano passado, houve uma tentativa de golpe de Estado no Brasil com as invasões de 8 de janeiro ao Palácio do Planalto.

"Então é um momento delicado para a democracia na América Latina. Até agora a democracia tem conseguido a responder a isso, mas existem problemas estruturais que vão permanecer como risco. No caso específico da Bolívia, tem toda a tensão envolvendo o ex-presidente Evo Morales. Se ele voltar a se candidatar no ano que vem, como a sociedade boliviana vai lidar com isso? Para muitas pessoas na Bolívia, ele representa ameaças de medidas autoritárias. É um país que ficou muito polarizado", afirmou Santoro.

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Presidente da Bolívia denuncia golpe do Exército

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Arce, que no momento da invasão estava na sede atual do governo, em um prédio ao lado do palácio presidencial, chegou a confrontar pessoalmente Zuñiga durante a invasão ao palácio (leia mais abaixo). Na discussão, o presidente ordenou que o ex-comandante do Exército desmobilizasse as tropas. Mais tarde, em pronunciamento, Arce trocou toda a equipe do Exército boliviano e reforçou a ordem de retirada das tropas.

Polêmico, Zuñiga já vinha protagonizando um embate com o governo nos últimos meses. Na segunda-feira (24), no entanto, ele subiu o tom de suas declarações ao afirmar que prenderia Evo Morales caso o ex-presidente, que vai concorrer às eleições no país, volte a se eleger. Na terça-feira (25), senadores anunciaram um processo judicial contra o agora ex-comadante do Exército.

O presidente também destitui os outros dois comandantes das Forças Armadas.

O novo comandante, segundo a agência de notícias Reuters, desmobilizou as tropas, e os tanques começaram a se retirar do palácio presidencial e da praça Murillo, em frente ao palácio.

Zuñiga, que foi à praça Murillo disse a TVs locais que o movimento era uma "tentativa de restaurar a democracia" na Bolívia e de libertar prisioneiros políticos.

Presidente da Bolívia discute com comandante do Exército acusado de tentar golpe

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A Suprema Corte da Bolívia também condenou a tentativa de golpe e pediu à comunidade internacional que se mantenha "vigilante e apoio a democracia na Bolívia".

Presidente da Bolívia diz que país sofre tentativa de golpe de estado

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Veja o que se sabe até agora sobre o episódio:

  • O presidente, Luis Arce, e o ex-presidente Evo Morales falaram em golpe de Estado.
  • Em comunicado em suas redes sociais, Arce também pediu que a democracia seja respeitada.
  • Algumas unidades do Exército foram vistas agrupadas em praças e ruas da capital.
  • Segundo testemunhas da agência de notícia Reuters, um tanque do Exército foi visto entrando no palácio presidencial, em La Paz.
  • O presidente da Bolívia, Luis Arce, afirmou nesta quarta (26) que as Forças Armadas de seu país estão fazendo "mobilizações irregulares".

O ex-presidente da Bolívia Evo Morales, que rompeu com Arce no ano passado, mas faz parte do mesmo movimento do atual presidente, afirmou tratar-se de um golpe de Estado. Segundo Morales, um regimento do Exército colocou francoatiradores em uma praça de La Paz. O ex-presidente o general Juan José Zuñiga de estar por trás da mobilização.

"Convocamos uma mobilização nacional para defender a democracia diante do golpe de Estado que o general Zuñiga está gestando", disse Morales. "Não permitiremos que as Forças Armadas violentem a democracia e amedrontem o povo".

Em comunicado, Zuñiga falou que "as coisas vão mudar", embora não tenha confirmado o golpe de Estado.

"Os três chefes das Forças Armadas vieram expressar a nossa consternação. Haverá um novo gabinete de ministros, certamente as coisas vão mudar, mas o nosso país não pode continuar assim", disse o general Juan José Zuniga a uma estação de televisão local.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva expressou apoio a Luis Arce e disse condenar a tentativa de golpe.

"A posição do Brasil é clara. Sou um amante da democracia e quero que ela prevaleça em toda a América Latina. Condenamos qualquer forma de golpe de Estado na Bolívia e reafirmamos nosso compromisso com o povo e a democracia no país irmão", declarou Lula.

O presidente de Honduras, atualmente na presidencia da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), também falou em golpe de estado e pediu uma reunião de emergência dos Estados-membros -- o Brasil é um deles.

Soldados bolivianos protegem palácio presidencial na Praça Murillo em La Paz, na Bolívia, em 26 de junho de 2024. — Foto: AP Photo/Juan Karita

A Organização dos Estados Americanos (OEA) condenou a movimentação e pediu respeito à democracia.

A ex-presidente da Bolívia, Jeanine Añez -- de oposição a Arce -- também condenou a movimentação dos militares.

"Repúdio total à mobilização de militares na praça Murillo (em frente ao palácio presidencial) pretendendo destruir a ordem constitucional", disse. "Nós boliviamos defendemos a democracia".

Em um comunicado em suas redes sociais, Arce também pediu que a democracia seja respeitada.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou que está torcendo para que a democracia prevaleça no país, e que "golpe nunca deu certo". O Itamaraty disse que o govero brasileiro "está atento ao que está ocorrendo na Bolívia".

Turbulência política

Nos últimos cinco anos, a Bolívia viveu diversos momentos de turbulência política.

Em 2019, o terceiro mandato de Evo Morales foi interrompido por um golpe de estado que se seguiu a um movimento de protesto e greves reunindo setores populares, de classe média e empresariais. Evo havia acabado de ser eleito no primeiro turno das eleições presidenciais, em outubro, para um quarto mandato --que não tinha cobertura institucional. Ele renunciou à presidência e deixou a Bolívia.

Após Morales deixar o cargo, Jeanine Áñez Chávez se autoproclamou presidente interina da Bolívia. Ela os apoiadores do golpe foram presos em 2021, junto com o excomandante do Exército boliviano Jorge Pastor Mendieta Ferrufino, que liderou o golpe em 2019, segundo a Agência Boliviana de Informação.

Em 2008 também houve tentativa de golpe, mas que fracassou. O governo da Bolívia denunciou o início de um "golpe civil" realizado pela oposição conservadora do Departamento de Santa Cruz, mas descartou a possibilidade de decretar um estado de sítio para diminuir a tensão política.

Arce e Evo Morales, que eram aliados, agora são adversários por causa das eleições presidenciais de 2025. Morales será o candidato do MAS.

A legenda governista que Morales lidera afastou Arce por ele se recusar a participar do congresso do (MAS), realizado entre terça e quinta-feira em Cochabamba.

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