O primeiro-ministro da Holanda, Mark Rutte, durante cerimônia de pedido de desculpas pelo apoio da Holanda à escravidão, no Arquivo Nacional, em Haia, em 19 de dezembro de 2022. — Foto: Peter Dejong/ AP
A Holanda pediu perdão oficialmente nesta segunda-feira (19) pelo papel histórico que o país exerceu na escravidão e no tráfico de escravos desde entre os séculos XVII e XIX. O pedido foi feito em uma cerimônia pelo primeiro-ministro holandês, Mark Rutte, no Arquivo Nacional do país, em Haia.
“Hoje peço desculpas”, disse Rutte. "Durante séculos, o estado holandês e seus representantes permitiram e estimularam a escravidão e lucraram com isso. É verdade que ninguém vivo hoje carrega qualquer culpa pessoal pela escravidão. (No entanto) o estado holandês carrega a responsabilidade pelo imenso sofrimento que foi feito para aqueles que foram escravizados e seus descendentes."
O premiê anunciou ainda que o governo estabelecerá um fundo para iniciativas que ajudarão a combater o legado da escravidão na Holanda e em suas ex-colônias.
O discurso do primeiro-ministro é uma resposta a um relatório publicado no ano passado por um conselho consultivo nomeado pelo governo. O documento fez as seguintes recomendações:
- Um pedido formal de desculpas
- O reconhecimento de que o tráfico de escravos e a escravidão do século XVII até a abolição que aconteceram direta ou indiretamente sob a autoridade holandesa foram crimes contra a humanidade.
- O reconhecimento de que o que o relatório chamou de racismo institucional na Holanda “não pode ser visto separadamente de séculos de escravidão e colonialismo e das ideias que surgiram nesse contexto”.
Em paralelo, ministros holandeses se espalharam em visitas a ex-colônias como o Suriname, a países que ainda compõem o Reino dos Países Baixos - Aruba, Curaçao e Saint Maarten -, e às três ilhas caribenhas que são oficialmente municípios especiais na Holanda - Bonaire, Santo Eustáquio e Saba.
Antes da cerimônia, ativistas foram à Justiça para tentar fazer com que Rutte adiasse as desculpas formais. Os grupos queriam que o pedido fosse feito apenas no aniversário de 160 anos da abolição da escravatura no país, em 1º de julho de 2023, mas os tribunais travaram a tentativa de bloquear o discurso.
“Sabemos que não existe um momento bom para todos, palavras certas para todos, lugar certo para todos”, disse Rutte.