Motociclista passa diante de mural com o rosto de Daniel Ortega, presidente da Nicarágua (à esquerda), e do revolucionário César Augusto Sandino, durante as eleições gerais deste domingo (7), em Manágua — Foto: Andrés Nunes/AP Photo
As urnas das eleições presidenciais que devem dar a Daniel Ortega o quarto mandato como presidente da Nicarágua foram fechadas na noite deste domingo (7), após um pleito duramente criticado pela comunidade internacional — praticamente todos os candidatos da oposição foram presos ou impedidos de concorrer.
Logo depois do fechamento das urnas, o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, elevou o tom contra o regime autoritário em Nicarágua e disse que a votação foi uma "farsa": "Nem livre nem justa, e quase certamente não foi democrática", escreveu.
"A prisão arbitrária de quase 40 opositores desde maio — incluindo sete possíveis presidenciáveis — e o impedimento da participação de partidos políticos manipularam o resultado muito antes do dia da eleição", disse Biden, em nota.
Joe Biden, dos EUA, durante o primeiro dia da COP26 em Glasgow, em 1º de novembro de 2021 — Foto: Yves Herman / POOL / AFP
Os Estados Unidos exercem forte pressão contra a Nicarágua, principalmente depois que Ortega endureceu o regime em 2018 — quando centenas morreram na repressão aos protestos contra o governo.
Ortega e a vice-presidente, Rosario Murillo — que é também esposa do presidente — devem conseguir sem dificuldades se reeleger, indicam projeções da mídia nicaraguense. O resultado não estava oficialmente confirmado até as 22h (de Brasília) deste domingo.
Presidente da Nicarágua, Daniel Ortega (dir.), sua esposa e vice-presidente Rosario Murillo (esq.) e filha Camila Ortega (cen.) em celebração dos 40 anos da revolução sandinista, foto de junho de 2019 — Foto: Inti Ocon/AFP
O atual presidente enfrentou cinco candidatos desconhecidos e acusados de colaborar com o governo, após a detenção de sete pré-candidatos em uma ofensiva que levou dezenas de políticos, empresários, agricultores, estudantes e jornalistas para a prisão, desde maio.
Uma pesquisa do instituto Cid-Gallup mostra que 65% votariam em um opositor e 19% em Ortega. Porém, o instituto pró-governo M&R afirma que 70% votarão no atual presidente e 11,2% nos candidatos desconhecidos.
Opositores presos ou em exílio
Homem passa por um outdoor de propaganda do presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, no início da campanha para as eleições presidenciais, em Manágua, em setembro — Foto: Reuters/Maynor Valenzuela
A favorita para ser eleita era Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios (1990-1997) e que está em prisão domiciliar.
Os detidos são acusados de atentar contra a soberania e promover sanções contra a Nicarágua, "traição à pátria" ou "lavagem de dinheiro", com base em leis aprovadas em 2020 pelo Congresso, sob controle governista, assim como o Poder Judiciário e as autoridades eleitorais.
Para Ortega, os mais de 150 opositores detidos desde 2018 não são políticos, e, sim, "criminosos" e "golpistas" patrocinados por Washington.
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Mais de 100 mil nicaraguenses partiram para o exílio, sobretudo Estados Unidos e Costa Rica, durante a crise política.
Assim, o governo de Ortega rejeitou a observação internacional de organismos como Organização dos Estados Americanos (OEA) e União Europeia.
O chefe da diplomacia europeia, Josep Borrell, afirmou na terça-feira que as eleições não serão legítimas porque Ortega prendeu todos os outros candidatos.
"O senhor Ortega se preocupou em prender todos os candidatos políticos que se apresentaram a essas eleições e não podemos esperar que este processo chegue a um resultado que possamos considerar legítimo, e sim o contrário", declarou Borrell.