O então presidente do México, Felipe Calderón, discursa durante a COP20 (Cúpula sobre as Mudanças Climáticas da ONU de 2014), que foi realizada em Lima, no Peru, em dezembro de 2014 — Foto: Enrique Castro-Mendivil/Reuters
Em nota, a empreiteira diz que colabora com as autoridades (veja mais no fim deste texto).
As informações foram retiradas de documentos do departamento de operações estruturadas, o setor da companhia que pagava propina a funcionários de governos do Brasil e de países da América Latina e da África.
A reportagem do site Quinto Elemento revela que, entre os anos de 2006 e 2011, durante o governo de Felipe Calderón, a Odebrecht realizou 25 pagamentos ilegais a pelo menos seis pessoas.
O departamento de "caixa dois" da construtora utilizava codinomes e pseudônimos para identificar os beneficiados pelos subornos, por isso não é possível saber ainda os nomes dos mexicanos envolvidos no esquema de corrupção.
Logo da Odebrecht — Foto: Paulo Whitaker / Reuters
Mas, pelos dados obtidos pelos jornalistas, somente em 2011 foram realizados 22 depósito ilegais para a construção de uma barragem no estado de Michoacán, no oeste do México.
A barragem começou a ser construída em 2007, e o contrato com a Odebrecht foi assinado por Lázaro Cárdenas Batel, ex-governador de Michoacán e atual chefe dos assessores do presidente Andrés Manuel Lopez Obrador.
Histórico de propinas
Até então, o que se sabia era que a Odebrecht pagou US$ 10,5 milhões a Emilio Lozoya, ex-presidente da Pemex (a empresa estatal de petróleo do México, equivalente à Petrobras), entre 2010 e 2014, durante o governo do ex-presidente Enrique Peña Nieto.
Os subornos foram realizados para fechar o contrato de construção de uma refinaria antes mesmo de ele assumir o cargo, pois Lozoya era visto pela Odebrecht como um nome de muito poder na política mexicana.
Os pagamentos ilegais foram confirmados pelos diretores da Odebrecht em depoimentos à Justiça, e Lozoya fechou um acordo com a Justiça do país para delatar outras figuras públicas que possam ter envolvimento com o caso Odebrecht e aguarda o andamento das investigações em liberdade.
Os chefes de empresas de petróleo Helge Lund (BG), Claudio Descalzi (Eni), Emilio Lozoya (Pemex), Bob Dudley (BP), Amin Nasser (Aramco), Patrick Pouyanne (Total), Eldar Saetre (Statoil) e Josu Jon Imaz (Repsol) em foto de 2015 — Foto: Jacky Naegelen/Reuters
Sequência das investigações
O importante agora é saber como a Justiça mexicana vai agir diante dessas novas denúncias e se esses documentos serão solicitados de maneira oficial à Justiça brasileira, para que os beneficiados pelos pagamentos ilegais sejam identificados.
Desde o início das investigações do caso Odebrecht, enquanto a Justiça peruana já entrou com mais de 170 pedidos de colaboração ao Ministério Público do Brasil, os promotores mexicanos pediram apenas 16. O último foi há um ano e meio.
O portal de jornalismo investigativo Quinto Elemento faz parte da rede colaborativa de profissionais latino-americanos que há anos acompanha as investigações do caso Odebrecht e da Operação Lava Jato na região.
O projeto é coordenado por uma organização peruana que teve acesso a mais de 250 páginas de relatórios enviados pela Justiça brasileira ao Ministério Público do Peru.
Além do México e do Peru, os documentos revelam também pagamento de subornos na Argentina, na Venezuela, na República Dominicana e no Panamá.
O que diz a Odebrecht
Após a publicação desta reportagem, a Odebrecht entrou em contato com a RFI e enviou a seguinte nota, com o posicionamento da empresa, que publicamos na íntegra:
A informação decorre da colaboração prestada desde 2016 pela empresa aos órgãos competentes, que mantêm a custódia da base de dados e dos sistemas eletrônicos relativos ao extinto “setor de operações estruturadas”.
A companhia permanece à disposição do Procurador-Geral da República do México.
Nos últimos cinco anos, a partir da implantação de reconhecidos mecanismos rígidos de fortalecimento de sua governança corporativa e de seu sistema de integridade, a Companhia tem conseguido demonstrar uma atuação ética, íntegra e transparente em todos os países em que atua, prevenindo e evidenciando a inexistência de qualquer novo delito.