Por G1


População do Peru vai às urnas neste domingo para decidir novo presidente. — Foto: OSCAR DEL POZO / AFP

A população do Peru vai às urnas neste domingo (6) para eleger o seu novo presidente. A votação foi aberta às 7 horas (local, 9h em Brasília) e espera-se que haja um resultado já por volta das 23h30 (1h30 em Brasília). Em uma eleição marcada pela polarização, os peruanos devem decidir entre dois candidatos com posicionamentos políticos opostos.

  • Pedro Castillo, pertence ao partido de esquerda Perú Libre. Professor de uma escola rural, ganhou notoriedade após liderar uma prolongada greve nacional da categoria em 2017. Tem como lema a promessa de "não haver mais pobres em um país rico".
  • Keiko Fujimori, candidata pela direita com o partido Força Popular, é filha do ex-presidente preso Alberto Fujimori e é investigada por receber dinheiro ilegal da construtora brasileira Odebrecht para suas campanhas de 2011 e 2016. Suas propostas são sobre reativar a economia do país, duramente atingida pela pandemia.

As pesquisas mostraram que os candidatos praticamente empatam no segundo turno. No primeiro, com 18 concorrentes, nenhum recebeu mais de 20% de apoio e ambos são fortemente contestados por setores da sociedade peruana.

Quem ganhar terá que buscar acordos em um Congresso fragmentado para evitar que persista a instabilidade dos últimos cinco anos, que provocou a sucessão de três presidentes em cinco dias em novembro de 2020.

Além disso, o presidente eleito terá que encarar todo o rastro da pandemia, que não só colapsou a infraestrutura médica e de cemitério do Peru, como também deixou milhões de desempregados e colocou sob holofotes as desigualdades.

Estes problemas aprofundaram a desconfiança das pessoas no governo devido à resposta precária à COVID-19 e ao escândalo dos imunizantes, em que 500 pessoas, inclusive integrantes do governo, foram vacinadas em segredo, comentam especialistas à agência de notícias Associated Press.

Esquerda conservadora

O candidato presidencial do Peru, Pedro Castillo, durante coletiva de imprensa antes de votar, em Chugur, Peru. — Foto: REUTERS / Alessandro Cinque

O candidato do partido Perú Libre, de esquerda, Pedro Castillo, chega às urnas com ligeira vantagem sobre Keiko Fujimori, nas últimas pesquisas divulgadas após vencer o primeiro turno em 11 de abril com 18,9%.

Aos 51 anos, Castillo canaliza o sentimento de indignação de uma parte do Peru com sua mensagem: "Chega de pobres em um país rico". Seu nome começou a ganhar destaque em 2017, quando liderou uma prolongada greve nacional de professores.

Com um posicionamento que une a moral conservadora e reivindicações sociais, o candidato costuma citar passagens bíblicas quando apela à moralidade para justificar sua rejeição ao aborto, casamento homossexual e eutanásia.

Com um chapéu branco típico de Cajamarca, percorreu as regiões do Peru, até a cavalo, para obter votos.

"Castillo é uma espécie de Lula do campo, sem as habilidades sindicalistas do ex-presidente brasileiro, mas se mostra um bom comunicador", disse à agência de notícias France-Presse a jornalista e analista Sonia Goldenberg.

Entre suas promessas, estão a criação de um milhão de empregos em um ano e expulsão dos estrangeiros que cometem crimes, em alusão aos migrantes venezuelanos que chegaram desde 2017. Ele nega que pretenda confiscar os fundos de pensão dos trabalhadores, como afirmam seus críticos.

O seu partido, Perú Libre, é um dos poucos de esquerda que defende o regime do presidente venezuelano Nicolás Maduro. O candidato anunciou que se chegar ao poder o país recuperará o controle de sua energia e riquezas minerais, como gás, lítio e ouro, agora sob controle de multinacionais. No entanto, não especificou como o fará.

Candidata investigada

A candidata Keiko Fujimori e sua família tomam café da manhã no distrito de San Juan de Lurigancho na manhã da votação do segundo turno para presidência do Peru. — Foto: Luka GONZALES / AFP

Keiko Fujimori tenta conseguir o cargo de presidente do Peru pela terceira vez. Sua carreira política é marcada pela reconstrução do movimento político de direita, o fujimorismo, que foi fundado por seu pai, ex-presidente Alberto Fujimori, em 1990.

Sua campanha tem um tom moderado e conciliador, após passar 16 meses em prisão preventiva, até maio de 2020. Ela é investigada pelo Ministério Público por supostamente receber dinheiro ilegal da Odebrecht para suas campanhas de 2011 e 2016, acusação que ela nega.

A prisão e a crise que atingiram seu Partido Fuerza Popular com o escândalo da Odebrecht a enfraqueceram. Mas ela conseguiu se recuperar para esta votação contra o esquerdista Pedro Castillo.

O MP, que se prepara para levá-la a julgamento, anunciou no dia 11 de março que pedirá 30 anos de prisão pelos supostos crimes de lavagem de dinheiro e obstrução da justiça, entre outros.

Se conquistar a presidência, terá imunidade e só poderá ser julgada após o término de seu mandato de cinco anos.

Entre suas propostas estão bônus às pessoas, incluindo um pagamento único de US $ 2.500 para cada família com pelo menos uma vítima do COVID-19, e a distribuição de 40% de um imposto para a extração de minérios, óleo ou gás entre as famílias que moram perto dessas áreas.

Seus apoiadores incluem os ricos, vários jogadores da seleção nacional de futebol e Mario Vargas Llosa, o principal autor do Peru e ganhador do Prêmio Nobel de Literatura. Vargas, que perdeu uma eleição presidencial há três décadas para o pai do candidato, Alberto Fujimori, deixou de chamá-la de “filha do ditador” em 2016 para considerá-la a representante da “liberdade e progresso”.

Peruanos nas urnas

Pessoas chegam a uma seção eleitoral para votar no segundo turno da eleição presidencial em Lima, Peru. — Foto: REUTERS / Liz Tasa

Mais de 25 milhões de cidadãos estão convocados às urnas em um país onde o voto é obrigatório, após uma campanha marcada pela polarização e exacerbação de medos.

Para este turno das eleições, foram habilitados 11.402 centros de votação e a distribuídas 380 toneladas de material eleitoral em aviões, caminhões e barcos.

Os centros eleitorais, incluindo centenas que serviram de local de vacinação contra a covid-19, ficaram sob vigilância policial e militar após a chegada de material como boletos de voto, urnas, registros e máscaras para os cidadãos que devem fiscalizar a votação.

Além dos cidadãos que residem no país, um milhão de peruanos também votarão em 75 países, incluindo 140.000 na Venezuela, Chile, Paraguai e Aruba, que não puderam votar no primeiro turno devido a restrições devido à pandemia.

Peruanos em Buenos Aires, na Argentina, votam nas eleições presidenciais de seu país. — Foto: REUTERS/Agustin Marcarian

Os primeiros resultados oficiais serão conhecidos no domingo por volta das 23h30 (local, 1h30 em Brasília).

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