Por G1


Encontro entre o presidente Jair Bolsonaro e o presidente francês Emmanuel Macron, durante o G20, em Osaka, no Japão — Foto: TV Globo

O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, garantiu nesta terça-feira (27), durante uma reunião com governadores da região da Amazônia, que não tem nenhum problema em dialogar com a presidência da França.

Mas não é o que tem parecido ultimamente. Desde que o presidente francês, Emmanuel Macron, postou em uma rede social que as queimadas no Brasil deveriam ser discutidas "com urgência" durante o G7, as relações entre os dois ficaram delicadas.

Os dois presidentes não costumam concordar em questões ambientais, e a situação na Amazônia ampliou as diferenças entre eles. Veja a seguir frases que marcaram a escalada da tensão entre eles.

"Se o Brasil deixar o acordo de Paris, no que nos diz respeito, não poderemos assinar um acordo comercial com eles" – Emmanuel Macron (28 de junho)

Durante o G20, em Osaka, no Japão, o presidente francês alertou que, caso Bolsonaro cumprisse uma promessa de campanha e seguisse os passos de Donald Trump – que retirou os EUA do acordo de Paris – a França não poderia apoiar o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul. E justificou: "Por uma simples razão. Estamos pedindo aos nossos agricultores que parem de usar pesticidas, estamos pedindo a nossas empresas que produzam menos carbono, o que tem um custo de competitividade."

Ao final, após uma confusão de agendas, os dois presidentes se encontraram e Bolsonaro disse que o Brasil continuaria comprometido com o acordo de Paris e até convidou Macron a visitar a Amazônia. Foi nesta reunião que o presidente brasileiro teria “mentido” sobre seus compromissos ambientais, segundo acusações feitas esta semana pelo francês.

Presidente Jair Bolsonaro postou no Facebook filmagens de seu corte de cabelo em 29 de julho — Foto: Reprodução/Facebook

“O que ele veio tratar com ONG aqui?” – Jair Bolsonaro (1º de agosto)

Em 29 de julho, o presidente brasileiro desmarcou em cima da hora uma reunião com o ministro das Relações Exteriores da França, Yves Le Drian, ao saber que ele também tinha em sua agenda encontros com representantes de Organizações Não Governamentais. No horário em que a reunião deveria estar terminando, postou em redes sociais um vídeo ao vivo, no qual aparecia cortando o cabelo.

Questionado sobre o motivo do cancelamento da recepção ao ministro francês, afirmou: “Ele marcou audiência comigo. Daí fiquei sabendo que ele tinha marcado com o [vice-presidente, Hamilton] Mourão, tinha marcado com ONGs. Quem é que ferra o Brasil aqui? ONG. O que ele veio tratar com ONG aqui? Quando fala em ONG, já nasce um alerta na cabeça de quem é que tem o mínimo de juízo”.

O ministro Relações Exteriores da França, Jean-Yves Le Drian, em declaração à imprensa no Palácio do Itamaraty, em Brasília — Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

“Obviamente, houve uma emergência capilar. Essa é uma preocupação que é estranha para mim" – Yves Le Drian (ministro francês de Relações Exteriores, 4 de agosto)

Em entrevista ao “Journal du Dimanche”, o ministro francês que não foi recebido por Jair Bolsonaro ironizou a decisão do presidente em cancelar a reunião em Brasília. “Todo mundo conhece as restrições que acompanham as agendas dos chefes de Estado. Então, obviamente, houve uma emergência capilar. Essa é uma preocupação que é estranha para mim", disse.

“Nossa casa está pegando fogo. Literalmente...É uma crise internacional” – Emmanuel Macron (22 de agosto)

Dois dias antes da abertura do G7, em Biarritz, o presidente francês chamou os demais participantes do evento para debater as queimadas na Amazônia “com urgência”. Porém, usou uma foto antiga, feita pelo fotógrafo Loren McIntyre, que morreu em 2003. Ele esteve na Amazônia em expedições desde a década de 70, quando trabalhou para a National Geographic. McIntyre publicou um livro na década de 90 sobre a Amazônia.

O presidente francês, Emmanuel Macron, fala sobre meio ambiente e igualdade social a empresários na véspera da abertura do G7, em Paris, na sexta-feira (23) — Foto: Michel Spingler/Pool via Reuters

“A sugestão do presidente francês, de que assuntos amazônicos sejam discutidos no G7 sem a participação dos países da região, evoca mentalidade colonialista descabida no século 21" – Jair Bolsonaro (22 de agosto)

O presidente brasileiro reagiu com irritação à convocação de Macron e acusou o presidente francês de “instrumentalizar uma questão interna do Brasil e de outros países amazônicos p/ ganhos políticos pessoais”. “O tom sensacionalista com que se refere à Amazônia (apelando até p/ fotos falsas) não contribui em nada para a solução do problema", escreveu ainda em uma mensagem em rede social.

“Não somos nós que divulgamos fotos do século passado para potencializar o ódio contra o Brasil por mera vaidade” – Jair Bolsonaro (23 de agosto)

Após as críticas de Bolsonaro, o gabinete de Macron acusou o presidente brasileiro de mentir durante o encontro do G20, em Osaka, ao minimizar as preocupações com as mudanças climáticas. Por isso, o país se oporia ao acordo comercial entre União Europeia e Mercosul, opinião compartilhada pela Irlanda – que ameaçou votar contra o acordo se o Brasil não respeitar seus “compromissos ambientais”.

Em uma rede social, o presidente brasileiro rebateu a acusação: "Lamento a posição de um chefe de Estado, como o da França, se dirigir ao PR brasileiro como 'mentiroso'... Nosso país, verde e amarelo, mora no coração de todo o mundo".

Macron em coletiva de imprensa, após plenária do G7 — Foto: Ludovic Marin/AP

“A Amazônia é nosso bem comum. Estamos todos envolvidos, e a França está provavelmente mais do que outros... A Guiana Francesa está na Amazônia” – Emmanuel Macron (24 de agosto)

Em seu pronunciamento de abertura do G7, o presidente francês afirmou que todos os países participantes lançariam uma mobilização em parceria com os países da Amazônia e para ajudar o Brasil e os outros países atingidos com as queimadas. Na reunião do G7, a “emergência climática” foi inserida no tópico “combate às desigualdades”, um dos três temas principais da cúpula, além de segurança e economia.

“Ferro no cretino do Macron, não nos franceses...” Abraham Weintraub (ministro brasileiro da Educação, 25 de agosto)

Em uma série de posts em uma rede social, o ministro brasileiro ofendeu o presidente francês o chamando de “apenas um calhorda oportunista buscando o lobby agrícola francês” e dizendo que os franceses “elegeram um governante sem caráter”. No dia seguinte, Macron afirmou que, provavelmente, Bolsonaro tinha achado uma boa ideia ter seu ministro o xingando.

Antes, no dia 23, Weintraub tinha dito que a crise na Amazônia era falsa. “A crise Amazônica falsa é fruto do acordo comercial fechado com a Europa. O lobby dos agricultores europeus reagiu diante da iminente invasão de produtos brasileiros. Isso, combinado com ONGs, esquerda e "artistas", revoltados com o fim da mamata. Podem prejudicar os brasileiros", afirmou o ministro.

O presidente Jair Bolsonaro respondeu, no sábado (24), a um comentário sobre a primeira-dama da França, Brigitte Macron. — Foto: Reprodução/Facebook Jair Bolsonaro

“Rodrigo Andreaça não humilha kkkkk" – Jair Bolsonaro (24 de agosto)

O presidente brasileiro foi duramente criticado por um comentário considerado sexista em um post de um seguidor em uma rede social, comparando as primeiras-damas do Brasil e da França. O seguidor postou fotos dos presidentes acompanhados de suas mulheres com a seguinte pergunta: "Entende agora pq Macron persegue Bolsonaro?". O seguidor ainda acrescentou "é inveja presidente do Macron pode crê (sic)". Bolsonaro respondeu ao comentário dizendo: "Rodrigo Andreaça não humilha kkkkk". Os dois casais presidenciais, brasileiro e francês, têm em comum a diferença de idade, sendo que Brigitte Macron, de 66 anos, é mais velha que o marido, que tem 41 anos. Já Bolsonaro tem 64 anos, enquanto sua esposa, Michelle, tem 37.

“Como tenho uma grande amizade e respeito pelo povo brasileiro, espero que eles rapidamente tenham um presidente que se comporte à altura" – Emmanuel Macron (26 de agosto)

Ao comentar a publicação de Jair Bolsonaro sobre a comparação entre suas esposas, o presidente francês lamentou, dizendo que o comentário foi extraordinariamente desrespeitoso. "O que eu posso dizer? É triste, é triste. Mas é triste, em primeiro lugar, para ele e para os brasileiros. Eu penso que as mulheres brasileiras têm, sem dúvida, vergonha de ler isso de seu presidente. Creio que os brasileiros, que são um grande povo, têm também vergonha de ver esse comportamento - eles esperam, quando se é presidente, que nos comportemos bem em relação aos outros", disse.

Macron rebate comentário de Bolsonaro sobre primeira-dama da França

Macron rebate comentário de Bolsonaro sobre primeira-dama da França

Na terça-feira, o jornal francês “Le Parisien” informou que a primeira-dama francesa, Brigitte Macron, ficou emocionada ao saber das mensagens de apoio e da hashtag #DesculpaBrigitte, com a qual brasileiros assinalaram posts em que pediam desculpas pelos comentários de Bolsonaro. Já o presidente brasileiro negou que tenha ofendido a primeira-dama. “A mulher dele [Macron]... Eu não botei aquela foto. Alguém que botou a foto lá, e eu falei para ele não falar besteira. É isso que eu botei lá”, disse a jornalistas na terça-feira (27). “[No] meu comentário, eu falava para não insistir neste tipo de postagem”, acrescentou. Diante da observação feita de que seu comentário tinha risadas (kkkkk), Bolsonaro encerrou a entrevista e não respondeu a indagação se pretende pedir desculpas à primeira-dama da França. “Tchau para vocês. ... Realmente, vocês não merecem a consideração”, disse.

“Será que alguém ajuda alguém – a não ser uma pessoa pobre, né? – sem retorno? [...] O que que eles querem lá há tanto tempo?” – Jair Bolsonaro (26 de agosto)

No encerramento do G7, Macron anunciou que os países do G7 vão providenciar, imediatamente, US$ 20 milhões (cerca de R$ 83 milhões) de ajuda emergencial para combater queimadas na Amazônia. A maior parte do dinheiro seria destinada ao envio de aviões Canadair de combate a incêndios, segundo a agência France Press. O G7 também propôs uma assistência de médio prazo para o reflorestamento, a ser apresentada na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) no final de setembro. Para recebê-la, o Brasil teria de concordar em trabalhar com organizações não governamentais (ONGs) e populações locais, disse governo francês.

Setores do governo brasileiro acharam o anúncio bem-vindo, mas, horas antes dele acontecer, Jair Bolsonaro questionou o interesse do presidente francês. "Não podemos aceitar que um presidente, Macron, dispare ataques descabidos e gratuitos à Amazônia, nem que disfarce suas intenções atrás da ideia de uma "aliança" dos países do G-7 para "salvar" a Amazônia, como se fôssemos uma colônia ou uma terra de ninguém", postou Bolsonaro em uma rede social.

O primeiro-ministro italiano Giuseppe Conte, o primeiro-ministro japonês Shinzo Abe, o presidente dos EUA Donald Trump, o presidente francês Emmanuel Macron, a chanceler alemã Angela Merkel, o primeiro-ministro canadense Justin Trudeau e o primeiro-ministro britânico Boris Johnson participam de uma reunião da cúpula do G7 em Biarritz, no sudoeste da França — Foto: Ian Langsdon/Pool via AP

“Notei que as inquietudes são sobretudo a falta de tato de alguns dirigentes que consideram que a soberania é, no fundo, agressividade, o que acredito ser um erro” – Emmanuel Macron (27 de agosto)

Nesta terça-feira (27), o presidente francês afirmou a questão principal neste momento é agilizar a entrega da ajuda prometida pelo G7. "Somos um país soberano se, quando temos grandes acontecimentos, aceitamos com alegria e bons olhos a solidariedade internacional, porque é um símbolo de amizade", declarou. "Mas, sobretudo, há 9 países na Amazônia. Há muitos outros países que solicitaram nossa ajuda e então é importante mobilizá-la rápido para que a Colômbia, a Bolívia e todas as regiões brasileiras que desejarem ter acesso a essa ajuda internacional possam tê-la e possam reflorestá-la rapidamente", prosseguiu.

"Primeiro ele retira, depois ele oferece, daí eu respondo" – Jair Bolsonaro (27 de agosto)

Na manhã desta terça, o presidente brasileiro condicionou aceitar o dinheiro oferecido pelo presidente francês em nome do G7 à retirada de comentários que considera ofensivos. Bolsonaro não quis responder se irá ou não aceitar os US$ 20 milhões (cerca de R$ 82 milhões), embora na noite de segunda o ministro Onyx Lorenzoni tenha dito que eles seriam recusados. "Eu falei isso? Eu falei? Jair Bolsonaro falou?", indagou Bolsonaro sobre a recusa em aceitar a ajuda do G7.

“Primeiramente, o senhor Macron deve retirar os insultos que fez à minha pessoa. Primeiro, me chamou de mentiroso. E depois, informações que eu tive, de que a nossa soberania está em aberto na Amazônia”, declarou Bolsonaro. “Para conversar ou aceitar qualquer coisa da França, que seja das melhores intenções possíveis, ele vai ter que retirar essas palavras e daí a gente pode conversar”, acrescentou.

Bolsonaro comanou reunião no Palácio do Planalto com governadores da Amazônia — Foto: Reprodução/EBC

“Ninguém é contra aqui dialogar com a França, em hipótese alguma" – Jair Bolsonaro (27 de agosto)

Em uma reunião com governadores da Amazônia, o presidente brasileiro disse que a postura de Macron em relação ao Brasil tem a ver com a baixa popularidade do presidente francês com população de seu país. Ele disse ainda que tinha conversado com outros líderes que participaram do G7, incluindo Donald Trump, pedindo que levassem “serenidade” para as discussões sobre Amazônia no encontro.

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