11/03/2011 10h53 - Atualizado em 11/03/2011 12h50

Terremoto e tsunami no Japão preocupam bairro da Liberdade

Abalo era principal assunto do tradicional bairro oriental de SP nesta sexta.
Pessoas com parentes no Japão relatam dificuldades de contato.

Juliana Cardilli e Letícia MacedoDo G1 SP

comerciante liberdade (Foto: Juliana Cardilli/G1)A comerciante Mitiê Urayama só teve notícias dos filhos que moram no Japão pela internet (Foto: Juliana Cardilli/G1)

A notícia de um terremoto de magnitude 8,9 na costa nordeste do Japão, seguido de um um tsunami (onda gigante com potencial destrutivo) que ameaça países da costa do Oceano Pacífico, pegou de surpresa a comunidade japonesa que trabalha e frequenta o bairro da Liberdade, no Centro de São Paulo. Desde o início da manhã desta sexta-feira (11), o assunto era o tema das conversas nas lojas e ruas. Comerciantes e clientes trocavam informações sobre a gravidade do ocorrido e formas de contato com os parentes no Japão.

Administradora de uma livraria especializada em importados, Mitiê Urayama tem dois filhos morando no país asiático. Ela ainda não conseguiu falar com eles, mas sabe que estão bem. “Minha filha que mora no Brasil me ligou logo depois que acordei, contando que tinha falado com o irmão que mora em Guma, e ele estava bem, em casa. Ele já falou com o irmão que mora em Tóquio, que também está bem”, contou ela.

A maior preocupação da comerciante era o neto de 2 anos, que vive com os pais em Tóquio. “No Japão já estavam esperando um terremoto de grande intensidade há dois, três anos. Eles estão preparados para isso, mas mesmo assim não esperavam tanto. Se fosse em um país subdesenvolvido os prédios teriam caído”, afirmou. “Lá é tudo preparado, a família dos meus filhos tem mochilas com kits para terremoto que ficam perto da porta.”

A maior dificuldade foi conseguir o contato – a filha de Mitiê só conseguiu falar com um dos irmãos pela internet. Sem televisão em sua loja, é pela web que a comerciante vai acompanhar as notícias do terremoto nesta sexta.

Apesar da intensidade do tremor, quem nasceu no Japão ou já visitou o país se mostra mais tranquilo em relação às consequências. Era o caso da aposentada Lucia Barros, de 65 anos, que tem um filho morando no país e ainda não havia conseguido contato com ele nesta manhã.

liberdade (Foto: Juliana Cardilli/G1)Yuriko acompanha as notícias pela TV de seu salão
desde cedo (Foto: Juliana Cardilli/G1)

“Fiquei sabendo pela TV hoje cedo, não consegui falar com ele, mas acredito que onde ele mora nada tenha acontecido”, afirmou. Conversando com outras pessoas, ela descobriu que a província onde o filho mora não foi afetada. “Quando chegar em casa vou ligar o computador e ver se ele fala.”

A outra filha de Lucia embarcou para o Japão na noite de quinta-feira (10), com escala em Londres. Ela também ainda não havia conseguido falar com a filha. “A província na qual ela vai pousar não foi afetada, mas não sei se o voo vai seguir.”

Apreensão
Nem na pausa para um café no meio do trabalho a cabelereira Yuriko Kayachi, de 62 anos, conseguiu se desligar das notícias. A TV de seu salão está ligada desde cedo, e ela acompanha com apreensão as atualizações. “Para o terremoto o pessoal já está preparado, o problema é o tsunami. Morreram mais pessoas na água. Dá uma dor no coração ver o país da gente assim”, contou ela, que nasceu no Japão e mora há 48 anos no Brasil.

Yuriko disse ter apenas uma prima morando em Tóquio, e ainda não teve notícias dela. “Tomara que não tenha acontecido nada.”

Na Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa e de Assistência Social (Bunkyo) foram recebidas algumas ligações nesta manhã de pessoas que não conseguiam falar com parentes no Japão e pediam uma orientação.

Grande SP
A aeromoça Agnes Kate Tizuru Akagi Sanches, de 35 anos, de Arujá, na Grande São Paulo, conseguiu falar com seus pais que moram no Japão, mas não conseguiu ainda entrar em contato com seu tio brasileiro que mora na região de Miyagi, a província mais próxima do epicentro do terremoto que devastou o Japão nesta sexta-feira.

“Eu faço uma ligação atrás da outra, mas operadora afirma avisa que, por causa do terremoto, as ligações estão interrompidas”, afirmou ao G1 por telefone. Ela também não conseguiu falar com a avó, dois tios e três primos que habitam em Ibaraki. “Dá fora de área. Já tentei pelo Skype, mas não consigo”, lamentou.

Ela conseguiu falar com seus pais que moram na província de Gifu, que fica na região central do país. “Eles sentiram o tremor, mas não houve destruição perto deles”, contou. Os pais contaram que em Tokyo o fornecimento de gás foi cortado e que as autoridades solicitaram aos moradores a racionarem o uso de energia.

O pai dela afirmou que está difícil obter notícias sobre a situação do país após o terremoto na imprensa japonesa. “Eu contei para ele o número de mortes confirmadas”, disse.

A representante de vendas Machiko Mori, de 62 anos, de São Bernardo do Campo, no ABC, ainda não conseguiu falar com seus irmãos que moram no Japão. “Estou mais preocupada com a minha irmã, que mora em Shizuoka, no litoral do pacífico”, contou Machiko, que é japonesa.

“Estou tentando falar com eles desde cedo. O telefone só dá ocupado. Já tentei fazer contato pela internet também não consegui. Eles pedem para ter calma, mas as imagens são muito impressionantes”, disse a japonesa que mora no Brasil desde os 5 anos.

Essa é a primeira vez que a representante de vendas não consegue ter contato com seus familiares. “É a primeira vez que eu não consigo falar com eles. Das outras vezes, tinha pelo menos uma mensagem da operadora pedindo para ligar mais tarde. Dessa vez só dá ocupado”, contou.

Presidente Prudente
A gerente administrativa e coordenadora de um colégio em Presidente Prudente, a 558 Km de São Paulo, Adriana Yumi Kawabata, afirmou que não está conseguindo entrar em contato com parentes que estão nas regiões de Aichi, Miyagi, Tochigi, Kagoshima.

“Estou tentando conversar com meu irmão, tios, primos e amigos que estão lá, mas está impossível. Alguns amigos de outras províncias ainda têm energia e conseguem me enviar notícias pela internet”, contou. De acordo com Kawabata, os tremores ainda não cessaram. “O tsunami continua engolindo várias regiões. Não tem como saber se há brasileiros mortos”, declarou.
 

Mobilizaçãono interior
O presidente da União Cultural e Esportiva Nipo-brasileira de Sorocaba (Ucens), Carlos Munetachi Hayashida, afirmou na manhã desta sexta que vai tentar facilitar o contato de seus integrantes que não estejam conseguindo falar com parentes e amigos no Japão depois do terremoto seguido de tsunami que atingiu o país.

“O telefone da associação não para de tocar. Ao longo do dia, vamos fazer contatos com as associações das províncias japonesas e com a Embaixada do Japão no Brasil para passar as informações aos associados”, afirmou.

Hayashida, cujo pai é japonês, tem um irmão na região de Nagoya. Embora ele não more em região litorânea japonesa, Hayashida se diz preocupado. “Já falei com ele várias vezes nesse número, mas hoje eu não consegui ainda falar”, disse.

“A sensação é de muita tristeza e de muita angústia para saber o que aconteceu. As imagens são assustadoras”, afirmou. A Ucens tem cerca de 500 integrantes, mas estima que cerca de 2 mil famílias em Sorocaba, no interior de São Paulo, sejam nikkeis, isto é, tenham algum familiar japonês ou descendente.

 

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