Furto coletivo e simultâneo nos EUA acaba com 50 presos
O ex-presidente Donald Trump simplificou a sua solução para conter a onda de roubos e saques que vêm abalando grandes cidades dos Estados Unidos: o fuzilamento de saqueadores.
“Se você roubar uma loja, espere ser baleado ao sair”, conclamou, em discurso na convenção do Partido Republicano da Califórnia.
Favorito a obter a indicação da legenda para disputar as eleições presidenciais do próximo ano, ele foi ovacionado pela multidão de correligionários e passou a destilar factoides para o caso de sair vitorioso: encerrar rapidamente a guerra na Ucrânia e extinguir a votação por correio, apenas para citar alguns deles.
Seu objetivo é angariar apoio de eleitores da Califórnia, que desde 1988 votam em peso nos democratas, e recuperar o estado que, no seu entender, está nas mãos de “lunáticos da esquerda radical”.
Os insultos de Trump são dirigidos especialmente ao governador democrata Gavin Newson:
“Ele e os comunistas de extrema esquerda em Sacramento deram a vocês cidades-santuário, fronteiras abertas, enormes acampamentos de sem-teto, tiranos tecnológicos acordados, apagões contínuos, mutilação sexual infantil e bandos itinerantes de criminosos, saqueadores e bandidos, mas fora isso, estão fazendo um ótimo trabalho.”
A Califórnia é um dos estados mais afetados por saques e roubos a estabelecimentos comerciais, que no último ano infligiram prejuízos de US$ 112 bilhões (cerca de R$ 564 bilhões) em todo o país.
Conservadores insistem na tese de que o aumento da violência está relacionado à aprovação da Proposição 47, que estabelece como menos graves alguns crimes contra a propriedade, se o acusado não tiver antecedentes criminais.
Para entidades de direitos civis, tal argumento não faz sentido, porque os episódios violentos ocorrem também em outros estados.
Na semana passada, por exemplo, o palco de saques e pilhagens se transferiu por duas noites seguidas para a Filadélfia, a cidade mais populosa da Pensilvânia, na Costa Leste, onde cinco lojas de departamentos foram fechadas após pilhagens de grupos de jovens.
A proposta de Trump para deter saqueadores sequer é inovadora e já foi anunciada anteriormente. Há três anos, durante os protestos deflagrados pela morte de George Floyd, asfixiado por um policial, o então presidente norte-americano alertou pelas redes sociais: “Nós assumiremos o controle. Quando o saque começa, o tiroteio começa.”
Com conotação racista, a mesma frase foi proferida pelo ex-chefe de polícia de Miami, em 1967, em resposta ao surto de crimes violentos em bairros habitados por negros durante o Natal.
Trump acabou suspenso do Twitter e do Facebook por incitar o ódio e a violência e alegou que não tinha conhecimento sobre a origem da frase.
Réu em quatro diferentes processos na Justiça, o ex-presidente se divide entre os imbróglios com a Justiça e a campanha para voltar à Presidência, que lhe tem dado vantagem sobre os demais pré-candidatos republicanos.
Como definiu o rapper Plies pelo X, antigo Twitter, a proposta de Trump revela, acima de tudo, hipocrisia:
“Eu me pergunto por que ele quer atirar e matar os saqueadores. E por que ele não achou que alguém deveria atirar nas pessoas que invadiram o Capitólio?
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