Atualmente, ligação entre o Brasil e o Paraguai, por Porto Murtinho e Carmelo Peralta é feita por balsas — Foto: Anderson Viegas/ G1 MS
Os presidentes do Brasil, Michel Temer (MDB) e do Paraguai, Mario Abdo Benítez, assinaram na sexta-feira (21), autorização para a construção de duas pontes entre os países. Uma delas sobre o rio Paraguai, ligando Porto Murtinho, em Mato Grosso do Sul, a Carmelo Peralta, no Paraguai. Essa obra é uma das principais etapas para viabilizar o corredor rodoviário bioceânico, chamado de rota da Integração Latino-Americana (RILA), que vai ligar o Brasil aos portos chilenos no oceano Pacífico, passando pelos territórios paraguaio e argentino.
Atualmente a ligação entre os dois países neste trecho ocorre apenas por meio de balsas.
Na avaliação do secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar de Mato Grosso do Sul (Semagro), Jaime Verruck, o estado deve se tornar um grande hub – um centro para coleta, separação e distribuição de mercadorias, tanto para a exportação quanto para a importação.
Governo de MS fala sobre construção de ponte entre Brasil e Paraguai
“Vamos ser uma referência. O estado vai ser o centro das exportações. O estado vai se tornar um grande hub para as exportações que vão seguir pelos portos chilenos. Esse é o primeiro ponto. Muita carga vai centralizar aqui. A importação também. Existe uma grande possibilidade de Mato Grosso do Sul também ser um hub de distribuição de produtos importados para todo o país. De produtos que são oriundos da China hoje e que vão vir pela rota, chegando a Campo Grande e daqui sendo distribuídos para o Brasil”, explica.
Conforme o acordo assinado na sexta-feira entre os presidentes, as novas pontes ligando Brasil e Paraguai vão ser construídas pela binacional Usina de Itaipu. Além da ponte em Mato Grosso do Sul será construída uma nova estrutura em Foz do Iguaçu, no Paraná.
O custo previsto para as duas pontes é de US$ 270 milhões, pouco mais de R$ 1 bilhão, investidos ao longo dos próximos três anos, prazo também previsto para a conclusão das obras. A construção das pontes com recursos de Itaipu foi autorizada pela Advocacia-Geral da União (AGU). A parte paraguaia da usina financiará a construção da ponte no Mato Grosso do Sul e a brasileira entrará com recursos para a ponte em Foz do Iguaçu.
Os presidentes do Brasil, Michel Temer (MDB) e do Paraguai, Mario Abdo Benítez, assinaram na sexta-feira (21), autorização para a construção de duas pontes entre os países. — Foto: César Itiberê/PR
O ministro da secretaria de Governo da Presidência da República, Carlos Marun, comemorou muito a assinatura do acordo. “A última vez que construímos uma ponte foi há mais de 50 anos, a ponte da Amizade. E hoje celebramos esse acordo e que para nossa felicidade inclui a construção da ponte entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta. Isso vai permitir que Atlântico e Pacífico [os oceanos] se unam através do Brasil e Paraguai, passando por nosso Mato Grosso do Sul”, ressaltou.
Expedição destacou viabilidade da rota
Entre agosto e setembro do ano passado, uma expedição formada por empresários e autoridades percorreu todo o trajeto do corredor, O grupo saiu do Brasil e passou pela Paraguai, Argentina e Chile para analisar viabilidade do corredor rodoviário terrestre. A expedição saiu de Campo Grande e depois de chegar a Antofagasta, no Chile, se deslocou até Assunção, no Paraguai, onde acompanhou o governo paraguaio reafirmar seus compromissos com a viabilização do projeto.
Além de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, o leste do Paraná, o oeste de São Paulo e Minas Gerais podem ser os maiores beneficiados com a viabilização do corredor terrestre entre o Brasil e os portos chilenos. A avaliação foi feita várias vezes por Cláudio Cavol, presidente do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul (Setlog/MS). A entidade que promoveu a expedição no ano passado.
Conforme o presidente do Setlog/MS, a ideia é inicialmente utilizar esse corredor rodoviário para o transporte de produtos com valor agregado destes seis estados para escoamento pelos portos do Chile principalmente para o mercado asiático. O transporte de commodities, como a soja, por exemplo, dependeria, conforme avaliação da entidade, de que os caminhões retornassem para o Brasil trazendo alguma carga, como feijão, que tem nas regiões argentinas por onde passa a rota (San Salvador de Jujuy e Salta), uma grande produção ou mesmo vinho (produzido no Chile ou na Argentina), entre outros.
Na avaliação do sindicato, mais do que encurtar em 8 mil quilômetros de rota marítima a exportações destes estados para a Ásia, a rota possibilitará também o incremento das negociações entre os quatro países por onde ela passa, a integração cultural e também o turismo.
Sobre o potencial turístico da rota, o secretário Jaime Verruck, destacou que o corredor tem potencial para se tornar a principal rota turística da América do Sul. “Vamos ter nessa rota a possibilidade do turista conhecer o Pantanal sul-mato-grossense, Bonito, o Chaco Paraguaio, a Cordilheira dos Andes, o Deserto do Atacama, as vinícolas chilenas e argentinas. Esse também é o foco que queremos reforçar”, destacou Verruck.
Próximos passos
Encaminhada a questão da ponte sobre o rio Paraguai, que já tem um pré projeto e inclusive localização definida entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta, conforme Verruck, o próximo gargalo a superar para a viabilização da rota é a discussão de uma simplificação alfandegária entre os países que serão cortados pelo corredor bioceânico.
“O DNIT e todos os outros órgãos que trabalham com alfandega, como a Receita Federal, a Polícia Federal, a Iagro, e outros, estão trabalhando para formatar um acordo para a entrada e saída de mercadorias. Hoje, se a rota já estivesse pronta e pegássemos uma carga em Campo Grande e seguíssemos para um porto no Chile a carga teria de passar por pelo menos oito controles alfandegários. Então a nossa discussão é para criar a primeira rota alfandegada de toda a América do Sul, para que as cargas transportadas por ela tenham mais competitividade. Se tivéssemos todas essas paralisações, que o trecho teria hoje, ela não seria competitiva”, concluiu.