Atualmente ligação entre o Brasil e o Paraguai, por Porto Murtinho, é feita somente com o uso de balsas — Foto: Anderson Viegas/ G1 MS
O presidente Michel Temer (MDB) promulgou o acordo entre o Brasil e o Paraguai para a construção de uma ponte rodoviária binacional sobre o rio Paraguai, ligando Porto Murtinho, no sudoeste de Mato Grosso do Sul, a Carmelo Peralta, no país vizinho. A estrutura é um dos principais gargalos para viabilizar a rota bioceânica rodoviária que ligará o território brasileiro aos portos de Iquique e Antofagasta, no Chile.
O decreto com a promulgação foi assinado na terça-feira (14) e publicado na quarta (15), no Diário Oficial da União. Segundo o ministro da carreira diplomática da pasta de Relações Exteriores, João Carlos Parkinson de Castro, a próxima etapa do projeto é a criação de uma Comissão Mista, formada por representantes dos dois países, que vão definir os detalhes da licitação, fontes de financiamento e cuidar das questões relativas ao licenciamento ambiental.
O ministro adiantou ao G1 que existe uma meta ambiciosa, de lançar ainda no segundo semestre deste ano a licitação internacional da ponte para que as obras comecem já em 2019. O investimento previsto é de R$ 220 milhões, que deverá ser dividido entre os dois países.
Parkinson adiantou ainda que do lado brasileiro, deverá ser construído um anel rodoviário em Porto Murtinho, bem como um centro integrado, onde vão ficar as unidades dos órgãos alfandegários e sanitários. Atualmente a ligação entre os dois neste trecho ocorre apenas por meio de balsas.
Uma emenda da bancada federal de Mato Grosso do Sul conseguiu incluir no Orçamento Geral da União deste ano a destinação via Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT) de R$ 56,8 milhões para a construção da ponte.
Entre agosto e setembro do ano passado, uma expedição formada por empresários e autoridades percorreu todo o trajeto do corredor, batizado de Rota Latino-Americana de Integração. O grupo saiu do Brasil e passou pela Paraguai, Argentina e Chile para analisar viabilidade do corredor rodoviário terrestre. A expedição saiu de Campo Grande e depois de chegar a Antofagasta, no Chile, se deslocou até Assunção, no Paraguai, onde acompanhou o governo paraguaio reafirmar seus compromissos com a viabilização do projeto.
Além de Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Goiás, o leste do Paraná, o oeste de São Paulo e Minas Gerais podem ser os maiores beneficiados com a viabilização do corredor terrestre entre o Brasil e os portos chilenos. A avaliação é do Sindicato das Empresas de Transporte Rodoviário de Cargas e Logística de Mato Grosso do Sul (Setlog/MS), entidade que promoveu a expedição no ano passado.
Conforme o Setlog/MS, a ideia é inicialmente utilizar esse corredor rodoviário para o transporte de produtos com valor agregado destes seis estados para escoamento pelos portos do Chile principalmente para o mercado asiático. O transporte de commodities, como a soja, por exemplo, dependeria, conforme avaliação da entidade, de que os caminhões retornassem para o Brasil trazendo alguma carga, como feijão, que tem nas regiões argentinas por onde passa a rota (San Salvador de Jujuy e Salta), uma grande produção ou mesmo vinho (produzido no Chile ou na Argentina), entre outros.
Na avaliação do sindicato, mais do que encurtar em 8 mil quilômetros de rota marítima a exportações destes estados para a Ásia, a rota possibilitará também o incremento das negociações entre os quatro países por onde ela passa, a integração cultural e também o turismo.
Compromisso do Paraguai com a rota
Além da construção desta ponte, os governos do Brasil e do Paraguai firmaram no início desta semana outro acordo para a construção de mais uma ponte na mesma região, mas sobre o rio Apa, ligando Porto Murtinho, a San Lazaro, no Paraguai.
Os governos dos dois países apontaram que essa estrutura também era mais um passo para viablizar o corredor bioceânico. Além disso, em abril deste ano, em uma audiência no Senado brasileiro sobre a rota, o embaixador do Paraguai no Brasil, Manuel Maria Cáceres, disse que o país vai pavimentar todo o seu trecho do corredor, cerca de 650 quilômetros na região do Chaco, o Pantanal Paraguaio, ligando Carmelo Peralta a Pozo Hondo, na fronteira com a Argentina, com um investimento de aproximadamente R$ 3 bilhões.