Após três dias de julgamento, Marcos Aparecido dos Santos - o Bola - foi absolvido no fim da tarde desta quarta-feira (7) no processo sobre a morte do carcereiro Rogério Martins Novelo, em maio de 2000, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Por quatro votos a dois, os jurados decidiram que o ex-policial não era culpado pelo assassinato. Após o anúncio da sentença, Bola celebrou o resultado com os advogados e com a família. Já o promotor do caso, Henry Wagner Vasconcelos de Castro, disse que vai recorrer da decisão. No próximo dia 19, o ex-policial, o goleiro Bruno Fernandes e mais três vão a júri popular pela morte e pelo desaparecimento de Eliza Samudio.
Bola deixou a sala do Tribunal do Júri de Contagem sem falar com os jornalistas. Em seguida, de acordo com os advogados, foi levado para o presídio onde está detido, em São Joaquim de Bicas, também na Grande BH.
Perguntado sobre o veredito dado pelos jurados, o promotor afirmou que respeita a decisão do júri popular. Entretanto ele afirmou que não concorda com a absolvição. “A promotoria de Justiça apelará ao Tribunal de Justiça do estado de Minas Gerais”, declarou. Segundo Castro, a decisão desta quarta-feira (7) não vai exercer influência sobre o julgamento do caso Eliza.
Após a decisão, o defensor Ércio Quaresma disse que acredita que o seu cliente seja absolvido também no processo do caso Eliza Samudio. “O que nós verificamos hoje é que o conselho de sentença de Contagem não se curva a sensacionalismo, a programas baratos. Ele [o júri] se atém à prova, ele é justo, ele prolata decisões que vêm de acordo com a prova do processo”, disse Quaresma.
Para o advogado, a absolvição também não vai influenciar no julgamento do dia 19. “Qualquer sorte de resultado neste processo [morte de Novelo] não interfere no outro [processo do caso Eliza]. Cada processo tem a sua particularidade”, afirmou o defensor de Bola.
Middian Kelly dos Santos, filha de Marcos Aparecido dos Santos, disse que a família está muito contente. “Nós estamos muitos felizes. E nós agradecemos a Deus, primeiramente, e depois aos três advogados que graças a Deus levou de uma maneira correta e com a verdade. Eu acredito que Deus ainda vai continuar nessa batalha que a gente ainda tem que enfrentar”, afirmou a filha de Bola, chorando, após a decisão.
o julgamento em Contagem, na Grande BH
(Foto: Pedro Triginelli / G1)
Julgamento
A juíza Marixa Fabiane Rodrigues, responsável pelo processo sobre o desparecimento e morte de Eliza Samudio, presidiu julgamento, que durou cerca de 35 horas. Ao todo, seis testemunhas de defesa e acusação foram ouvidas. Durante os três dias, o julgamento movimentou o Fórum de Contagem, sobretudo nesta quarta-feira (7), quando houve debate entre a promotoria e a defesa.
No início da sessão nesta manhã, o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro caracterizou Bola como um “matador impiedoso e covarde” e afirmou que o carcereiro foi assassinado por motivo desconhecido num crime com “dinâmica própria de sujeitos que agem na pistolagem”. Segundo Castro, o réu tem características de um serial killer. O promotor citou o desaparecimento de Eliza Samudio, atribuindo a morte da modelo a Bola. “Ele matou na mão asfixiando Eliza Samudio. Incumbido de tal encargo pelos seus corréus, aqueles que a imprensa tanto mostra, o goleiro Bruno, anti-herói, falso ídolo, e o Macarrão”, disse.
O pronunciamento de Castro foi encerrado por volta das 11h20 com um pedido de Justiça em relação à morte do carcereiro. "Ele espreitou, emboscou e assassinou covardemente a vítima. A justiça é a condenação exemplar à altura do crime", pediu.
Na sequência, o advogado Ércio Quaresma deu início ao pronunciamento da defesa e pediu que Bola se sentasse de frente para os jurados. Segundo Quaresma, não há provas nos autos para condenar Bola pela morte do carcereiro. Ainda segundo ele, a irmã da vítima que teria reconhecido o matador e procurado a polícia não estava na cena do crime.
O advogado mostrou o retrato-falado do suspeito e alegou que as características descritas na ocorrência policial não condizem com as de Bola. O advogado Fernando Magalhães, que integra a defesa, também falou durante a sessão e disse que a vítima tem uma extensa ficha criminal.
Após intervalo, a sessão foi retomada por volta das 14h20, dando continuidade ao debate entre promotoria e defesa.
Interrogatório do réu e depoimento de testemunhas
Nesta terça-feira (6), Bola foi interrogado e declarou que é alvo de perseguições e que por isso estaria sendo acusado de matar o carcereiro. "Fizeram de mim um monstro", disse o ex-policial que, durante o depoimento, chorou e teve que ser medicado. No próximo dia 19, o ex-policial, o goleiro Bruno Fernandes e outras três pessoas vão a júri popular pela morte e desaparecimento da modelo Eliza Samudio.
Questionado pela juíza, Marcos Aparecido dos Santos disse que não é o assassino e que tampouco conhecia a vítima. “Jamais tirei a vida de ninguém”, declarou o ex-policial. Bola disse, ainda, que é acusado pelo assassinato de Novelo, por uma inimizade que teria com o delegado Edson Moreira, um dos responsáveis pelas investigações do caso Eliza. Por estar na condição de testemunha e reservado em uma sala, o delegado não pôde se pronunciar a respeito das declarações do réu.
Também no segundo dia de júri foram ouvidas três testemunhas de defesa, incluindo o delegado Edson Moreira, responsável pelas investigações do desaparecimento da ex-namorada do goleiro Bruno e que na época era chefe do Departamento de Investigações (DI), em Belo Horizonte.
Antes de responder a qualquer pergunta, Edson Moreira, primeira testemunha a depor, disse à juíza que o réu e os advogados de Bola estão sendo investigados por crime de calúnia. Eles teriam acusado o delegado de corrupção, conforme Moreira. Já a defesa declarou que o delegado interferiu nas apurações do assassinato de Novelo. Edson Moreira disse, ainda, que Bola é um "matador experiente", com características de um “serial killer”.
O julgamento de Bola começou na manhã desta segunda-feira (5). Na data, a juíza negou o pedido de adiamento do júri apresentado pelos defensores do réu e ouviu testemunhas de acusação. A primeira pessoa a depor disse que trabalhava na empresa em frente ao local onde o carcereiro foi morto. O homem afirmou que no dia do crime o assassino usava uma camiseta da Polícia Militar e fez três disparos. A segunda testemunha era amigo da vítima. O homem disse que tinha uma amizade de mais de 20 anos com Novelo.
Na sequência, o delegado Edson Moreira se apresentou para prestar depoimento, o que gerou impasse de mais de uma hora. A defesa do ex-policial convocou o delegado para responder a perguntas sobre a condução dos trabalhos de apuração sobre o desaparecimento da modelo.
Os advogados de Bola estariam insatisfeitos porque informações sobre o caso Eliza foram anexadas aos autos do processo sobre a morte do carcereiro. Após votação dos jurados, ficou decidido que Edson Moreira não falaria sobre as investigações.
Ainda na segunda-feira (5), uma ex-namorada da vítima prestou depoimento.
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