O "Fantástico" teve acesso a um vídeo com imagens inéditas gravadas no sítio do goleiro Bruno, em Esmeraldas, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. No vídeo, anexado ao processo judicial que apura o desaparecimento de Eliza Samudio, Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, reconstitui para a polícia o que aconteceu no sítio nos dias anteriores ao desaparecimento da ex-amante do jogador. Ele conta, com detalhes, o que aconteceu também depois que Bruno, Macarrão e o menor chegaram ao sítio sem Eliza.
Sérgio é considerado pela polícia a testemunha-chave do caso porque, desde o início das investigações, nunca mudou o depoimento. Segundo Sérgio, a última vez que ele viu Eliza no sítio foi quando ela deixou o local, acompanhada de seu filho. Macarrão e o menor teriam levado a moça em um carro.
Sobre o desabafo de Bruno na noite do crime, por exemplo, Sérgio disse no interrogatório: "Não era melhor você ter resolvido isso na Justiça?" Aí Bruno disse: "já tá feito, cara".
No vídeo da reconstituição, ele diz a mesma coisa:
Policial - E você falou o que com o Bruno?
Sérgio - Por que não resolveu na Justiça.
Policial - E ele?
Sérgio - Ele falou que já tava feito. Aí começou a chorar.
Este mês, a juíza que cuida do caso permitiu que, por medida de segurança, Sérgio não fosse às audiências. O primo do ex-goleiro está separado dos outros presos porque estaria sendo pressionado por advogados de outros envolvidos.
Segundo as investigações, Eliza foi assassinada no dia 9 de junho deste ano. Mas, até agora, o corpo não foi encontrado. Oito pessoas são acusadas pelos crimes de sequestro, cárcere privado, homicídio, ocultação de cadáver, formação de quadrilha e corrupção de menores.
Há também um menor de idade que confessou ter agredido Eliza Samudio a coronhadas horas antes do desaparecimento. O nome do menor, que já está cumprindo medida socioeducativa, foi suprimido desta reportagem.
Agora, a Justiça vai decidir se os demais acusados vão a júri popular.
O vídeo
Sérgio diz aos policiais que estava na porta da sala quando viu Eliza pela primeira vez. Era manhã do dia 8 de junho, véspera da morte.
Policial - Quem tava com você, do lado de fora aí?
Sérgio - O Macarrão.
Policial - E ele falou o que com você?
Sérgio - Que não era pra mim entrar.
Policial - Tá. Aí você perguntou pra ela alguma coisa?
Sérgio - Não, tava fechado. Perguntei pra ele por que eu não podia. Falou: eu não devo satisfação.
Sérgio diz que Eliza estava machucada na parte detrás da cabeça. Segundo o primo de Bruno, ela estava sozinha com o bebê no colo. Sérgio continuava sem poder entrar na sala.
No interrogatório, Sérgio contou que na noite do dia 9, quando Eliza foi levada do sítio, Bruno saiu às 19h num carro Fiat Uno. No vídeo, o primo do ex-goleiro repete a informação.
Sérgio - O Bruno saiu foi sete horas.
Segundo o primo do ex-goleiro, duas horas depois Macarrão e o menor apareceram do lado de fora da casa com Eliza e o bebê. Macarrão carregava uma mala vermelha. Todos entraram em outro carro, um Ford modelo Eco Sport.
Policial - E como é que foi a mala dela?
Sérgio - Vermelha.
Policial - Quem que botou?
Sérgio - O Macarrão.
Policial - Botou aonde?
Sérgio - Na traseira do carro, no porta-mala.
Sérgio diz que Macarrão e o menor não deixaram ele se aproximar. Alegaram que iam dar um passeio, e Eliza parecia bem.
Policial - E eles falaram o que pra você?
Sérgio - Só mandou sair, pra ficar lá no fundo, lá, que eles só iam passear com a menina.
Sérgio - Tava tranquila, tava normal.
Policial - Tava normal com eles. Falava alguma coisa ela, falou nada?
Sérgio - Não.
Policial - E o machucado dela?
Sérgio - Não tava sangrando, tava sem curativo.
Policial - E a criança?
Sérgio - Tava no colo dela.
Horas mais tarde, segundo Sérgio, Bruno, Macarrão e o menor voltaram, sem Eliza e o bebê.
Policial - Quem que chega três horas da manhã?
Sérgio - O menor, o Bruno e o Macarrão.
Policial - Chegou em qual carro?
Sérgio - Eco Sport.
Policial - Os três no mesmo carro?
Sérgio balança a cabeça afirmativamente.
Macarrão e o menor, segundo Sérgio, trataram de queimar a mala vermelha de Eliza.
Policial 1 - Exatamente aqui que queimou.
Policial 2 - Tá filmando aí.
Policial - Ilumina aqui com outra lanterna mais forte.
Câmera mostra local que tem manchas
Policial - Quem tava? Quem tava?
Sérgio - O menor e o Macarrão.
Policial - Aí o Bruno chegou aqui...
Sérgio - Ele falou: "volta, que eu vou conversar com os meninos". Aí ele levou os meninos pra lá.
Policial - Que que eles tavam conversando?
Sérgio - Eles tavam lá no fundo.
Policial - Assim gesticulando muito...
Sérgio - Tava xingando, os meninos só escutando.
Sérgio - Aí falei cadê a menina? Pro Bruno. Aí o menor falou pra mim: já era.
No depoimento na delegacia, Sérgio acrescenta que o ex-goleiro ainda disse: "acabou esse tormento".
Segundo o primo de Bruno, foi o menor de idade quem informou que Eliza tinha sido entregue ao ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola.
São as palavras do menor que Sérgio reproduz ao contar como Eliza foi morta por Bola.
Sérgio - Falou com ela assim: "vira de costas".
Ela falou com o cara: "ô moço, eu não quero apanhar mais não". Ele falou com ela assim: "cê não vai apanhar, não; cê vai morrer. Diz que ele foi e deu uma gravata nela. Aí, quando ela caiu, diz que o Macarrão foi e chutou ela".
O menor de idade chegou a detalhar, para Sérgio e para a polícia, como o ex-policial teria se livrado do corpo de Eliza. O cadáver teria sido cortado em pedaços e dado como comida a cães da raça rotweiller.
Sérgio - Tinha dois cachorros.
Policial - Quais eram os cachorros?
Sérgio - Rotweiller.
Policial - Rotweiller?
Sérgio - É.
Policial - Quem tava te contando isso?
Sérgio – O menor.
Policial - E ele tava te contando normal ou tava...
Policial - Tava feliz?
Sérgio - Tava.
Policial - E o Bruno?
Sérgio - Bruno, não.
Policial - O Bruno tava como?
Sérgio - Tava sério, de cabeça baixa.
Policial - Assustado... Alguém parecia que tava assustado?
Sérgio - Assustado, não. Tava arrependido.
O menor acabou mudando o depoimento. Seu advogado, Eliézer Jônatas de Almeida relata: "Eu perguntei pra ele, escuta, diga pra mim a verdade e o que que há de mentira, o que que não é real nessa história". Ele disse "doutor, eu inventei a primeira mentira e aí não teve mais jeito porque os delegados foram me pressionando, pressionado, pressionando, e eu dizia o que vinha na minha cabeça e deu no que deu."
Até agora, Sérgio não mudou o relato. O advogado dele, Marco Antônio Siqueira, acha que se ele resolver mudar no depoimento à Justiça pagará pela mudança. Segundo ele, “uma certeza eu tenho: que se ele mudar pra tentar beneficiar a, b ou c, certamente ele será condenado.”
Ércio Quaresma, o advogado de Bruno, não pôde gravar entrevista. O escritório dele informou que o advogado estaria internado num hospital. Ninguém da equipe de Ércio Quaresma foi indicado para se manifestar sobre a reconstituição.
A partir do mês que vem, em novembro, a Justiça começará a ouvir os acusados.