05/03/2013 23h04 - Atualizado em 05/03/2013 23h16

No 2º dia, Bruno chora e ex diz que o goleiro pediu para mentir sobre bebê

Em 3 horas e meia, Dayanne negou acusações e falou onde criança esteve.
Bruno chorou com vídeos sobre o caso e será ouvido nesta quarta-feira (6).

Rosanne D'AgostinoDo G1, em Contagem (MG)

Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno Fernandes de Souza, disse nesta terça-feira (5), em depoimento no seu júri popular no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, que "não são verdadeiras" as acusações contra ela e que o jogador e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, pediram para ela mentir sobre o paradeiro do filho de Eliza Samudio com o atleta. No segundo dia do julgamento, a fase de testemunhas foi encerrada. Durante a exibição de vídeos sobre o caso, o jogador chorou e a mãe da vítima, Sônia Moura, passou mal ao ver uma reportagem em que a filha denunciava ter sido ameaçada pelo atleta.

05/03/2013 - Ilustração mostra momento de exibição de vídeo no julgamento (Foto: Léo Aragão/G1)Ilustração mostra momento de exibição de vídeo no
julgamento em Minas Gerais (Foto: Léo Aragão/G1)

(Acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)

Bruno e Dayanne enfrentam o banco dos réus por crimes relacionados ao desaparecimento e à morte de Eliza Samudio, com quem o goleiro teve um filho. O atleta responde pela morte e ocultação de cadáver da modelo e pelo sequestro e cárcere privado da criança. A ex-mulher responde pelo crime de sequestro e cárcere privado de Bruninho.

O goleiro, que na época do crime era titular do Flamengo, é acusado pelo Ministério Público de planejar a morte para não precisar reconhecer o filho nem pagar pensão alimentícia. Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para o sítio do goleiro em Esmeraldas (MG), segundo a denúncia, onde foi mantida em cárcere privado. Depois, foi entregue para o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado.

Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010, em Vespasiano (MG). A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial. O bebê, que foi encontrado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.

'Bruno veio nervoso, inquieto'
O depoimento de Dayanne começou às 18h55 e terminou às 22h29. Em seguida, a sessão foi encerrada. A ré esteve tranquila, falou com calma e respondeu a todas perguntas.

Ela detalhou os dias em que esteve no sítio e para onde levou o bebê Bruninho, filho de Eliza, dizendo que cuidou da criança a pedido de Bruno e que não sabia o que havia acontecido com a modelo.

A ex-mulher afirmou que Bruno estava no sítio no dia 10 de junho e 2010, data que a polícia acredita ter sido a da morte, e que Macarrão chegou à noite e falou para Eliza: "Tá na hora".

Dayanne falou que a noiva de Macarrão estava passando mal e que acompanhou a mulher até o hospital. Quando voltou ao sítio, Macarrão chegou logo em seguida. Lá também estavam Bruno e Sérgio Rosa Sales, primo do goleiro. Jorge Luiz Rosa, outro primo de Bruno, menor de idade na época dos fatos, desceu do carro "com o olho desse tamanho", disse ela. Dayanne afirmou que perguntou onde estava a mãe do menino, mas que "ele não respondia".

A acusada afirmou que Bruno, Jorge, Macarrão e Sérgio ficaram conversando e que, em seguida "Bruno veio nervoso, inquieto, pediu para eu cuidar da criança". Segundo Dayanne, Macarrão disse a Bruno que Eliza tinha deixado o bebê e falado para o jogador "se virar".

Dayanne disse que a criança estava no sítio sob os cuidados da caseira quando, no dia 25 de junho, ela ficou sabendo de um boato de que Eliza tinha sido morta por Bruno. A ré afirmou que recebeu um telefonema de um assessor de imprensa, que não sabe falar quem é, dizendo que, se ela fosse questionada sobre a morte da modelo, deveria dizer que estava tudo bem.

O promotor perguntou se Bruno e Macarrão pediram que ela negasse que estava com o bebê e Dayanne disse que sim.

A ex-mulher do goleiro disse ao júri também que já foi agredida por Bruno, mas ponderou que ela “partia para cima dele”. “A gente brigava muito, mas a primeira agressão sempre partia de mim", disse.

O promotor perguntou se Bruno e Macarrão pediram que ela negasse que estava com o bebê, e Dayanne disse que sim.
ATUALIZADO Arte estática Caso Eliza Samúdio (Foto: arte)

Segundo Dayanne, Bruno a orientou a não falar nada quando ela foi presa porque seu telefone poderia estar "grampeado". O goleiro disse que iria mandar um advogado.

Bruno chora novamente
Antes do depoimento da ex-mulher, Bruno foi dispensado pela juíza Marixa Fabiane e retornou à penitenciária Nelson Hungria. O goleiro não pode ouvir o interrogatório de Dayanne, segundo o Tribunal de Justiça.

Ele chorou novamente, nesta terça-feira, segundo dia do júri popular dele e da ex-mulher. O jogador se emocionou durante uma exibição de vídeos sobre o caso. Bruno responde pela morte e ocultação de cadáver da modelo e pelo sequestro e cárcere privado da criança.

Sônia Moura, mãe de Eliza Samudio, passou mal ao ver uma reportagem em que a filha denunciava ter sido ameaçada pelo atleta e deixou o plenário chorando, amparada por uma acompanhante.

'Cuidou como se fosse dela'
A testemunha Célia Aparecida Rosa Sales, prima de Bruno e irmã de Sérgio Rosa Sales, réu no processo morto em agosto de 2012, disse em seu depoimento que a ex-mulher do atleta Dayanne Rodrigues, que enfrenta o júri, pediu para que ela entregasse o bebê Bruninho para Wemerson Marques, o Coxinha, amigo do goleiro. Ele é acusado de ajudar a esconder o filho de Eliza Samudio, além de participar do cárcere privado no sítio, e vai ser julgado em 15 de maio.

A entrega da criança teria ocorrido no dia 18 de junho de 2010, quando, segundo o Ministério Público, Eliza já havia sido morta. Célia Aparecida afirmou que não perguntou a Dayanne por que ela pediu para entregar a criança. O promotor Henry Castro perguntou se ela não achava estranho uma criança bem tratada ser entregue em uma rodovia, no meio da noite, para um "marmanjo".

A testemunha estava no sítio de Bruno no período em que a polícia acredita que Eliza tenha sido mantida sob cárcere privado. Ela disse aos jurados que que Bruno e Dayanne tratavam a vítima "super bem" e que conversou muito com Eliza.

Segundo Célia Aparecida, Eliza Samudio afirmou que, se contasse as "coisas pesadas" que sabia de Bruno, a vida dele iria "acabar". Em determinado dia, de acordo com a testemunha, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, disse que "estava na hora de ir" e entrou em um carro acompanhado de Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno adolescente na época dos fatos, e Eliza.

Depois, relatou a testemunha, Macarrão e Jorge Luiz Rosa retornaram para sítio. "Chegaram com o neném", disse. Segundo ela, Macarrão afirmou que Eliza voltaria para pegar Bruninho. Ela afirmou que o bebê ficou com Dayanne porque os demais precisavam viajar e garantiu que a criança não foi maltratada. "Cuidou como se fosse dela", disse sobre Dayanne.

A testemunha também afirmou que Bruno era um pai presente e exigente para os filhos de Dayanne. E também confirmou que Macarrão tomava conta de assuntos do goleiro.

05/03/2013 - Ilustração de Bruno e Dayanne, durante o depoimento de Célia (Foto: Leonardo Aragão/G1)Bruno e Dayanne lado a lado, durante o depoimento
de Célia Aparecida (Foto: Leonardo Aragão/G1)
05/03/2013 - Ilustração mostra Célia Sales, prima de Bruno, a 2ª testemunha a falar nesta terça-feira (5) (Foto: Leonardo Aragão/G1)Célia Aparecida, prima de Bruno, foi 2ª testemunha
a falar nesta terça-feira (Foto: Leonardo Aragão/G1)

'Muito seguro'
Em depoimento curto aos jurados, João Batista Guimarães, que acompanhou o depoimento do motorista Cleiton Gonçalves no inquérito, falou por cerca de 15 minutos. A juíza Marixa leu depoimento anterior dado no processo para questioná-lo se ele mantinha o que havia dito.

João Batista afirmou que Cleiton estava "muito seguro" no inquérito. O motorista do goleiro à época do crime sofreu duas tentativas de homicídio em agosto do ano passado. Na segunda (4), ele chegou a ir ao Fórum de Contagem para prestar depoimento como testemunha, mas já havia sido substituído, e não foi avisado.

Em sua fala, João Batista também afirmou que, quando Cleiton prestou depoimento sobre a morte de Eliza, não estava algemado. O depoimento foi encerrado sem nenhuma pergunta da defesa.

'Condições tranquilas'
A assistente social e advogada Renata Garcia, testemunha de acusação, que foi ouvida em outro local por meio de um instrumento chamado carta precatória, usado quando a pessoa está fora da comarca do caso, teve o depoimento lido para que os jurados soubessem seu conteúdo. 

Ela disse que o então menor de idade Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno, prestou depoimento em condições tranquilas quando delatou o goleiro à polícia. Ela achou muito importante ele ter tido a companhia da família para falar.

Ex de Macarrão acusa Bruno
Andreia Rodrigues Silva, ex-namorada de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, disse que o réu condenado contou a ela que "a ordem partiu de Bruno”, em referência à morte de Eliza Samudio. Andreia estava acompanhada do assistente de acusação José Arteiro e não está arrolada como testemunha no júri popular. Ela afirmou ainda que havia uma relação de submissão entre os amigos. "Quem manda é o Bruno, quem obedece é o Macarrão".

Questionada se Macarrão seria inocente em relação ao crime, Andreia respondeu: "Meio a meio". Ela disse que Eliza não ficou trancada em nenhum momento no sítio do goleiro, mas que estava com o olho roxo. Ainda segundo Andreia, macarrão nunca comentou sobre Bola, apelido de Marcos Aparecido dos Santos, ex-policial que também responde a processo pela morte da modelo.

No início da noite, em entrevista ao G1, Andreia Rodrigues Silva, disse que foi ao Fórum de Contagem passar informações ao promotor Henry Wagner, após um pedido do assistente de acusação José Arteiro. Questionada sobre o motivo pelo qual ela teria resolvido falar sobre o caso somente agora, Andreia disse que foi procurada após uma conversa de Macarrão com Arteiro.

Ao ser perguntada se havia coisas que não poderiam ser ditas, ela disse. "Com certeza, né? Tem muita gente do Bruno solta. Às vezes tem pessoas que a gente não conhece que pode ser gente do Bruno. O primeiro que falou rodou. Eu tenho medo".

Tem muita gente do Bruno solta. Às vezes tem pessoas que a gente não conhece que pode ser gente do Bruno. O primeiro que falou rodou. Eu tenho medo"
Andreia Rodrigues Silva,
ex-namorada de Macarrão
O Bruno não vai confessar aquilo que ele não fez. Por exemplo, confessar que ele mandou matar Eliza Samudio. Isso não aconteceu. Ele fala que não. Ele não conhece Bola, ele não arquitetou nada"
Tiago Lenoir, advogado de Bruno
Ele vai ser condenado, não tenho dúvida nenhuma [...] A cabeça do Bruno vai rolar"
José Arteiro, assistente de acusação

'Depoimento bombástico'
Pela manhã, o advogado Tiago Lenoir disse que Bruno contará toda a verdade envolvendo o desaparecimento e a morte da ex-amante. "Será um depoimento bombástico", afirmou sobre o momento em que goleiro falará ao júri. "Ele vai dizer o que teria ouvido e o que teria visto. Ele sabe de muita coisa. Ele é o Bruno. Ele é, em tese, o patrão. Ele é, em tese, quem tinha o dinheiro. Era ele quem sustentava aquele povo todo, então dizer que ele não sabia de nada seria ingenuidade".

Sobre a possibilidade de Bruno confessar ter mandado matar a modelo, Lenoir disse não ser uma orientação da defesa: "Se ele confessar será uma surpresa para nós".

Mais tarde, Lenoir declarou que o goleiro não foi o mandante da morte de Eliza. "O Bruno não vai confessar aquilo que ele não fez. Por exemplo, confessar que ele mandou matar Eliza Samudio. Isso não aconteceu. Ele fala que não. Ele não conhece Bola, ele não arquitetou nada", afirmou o defensor.

O outro advogado, Lúcio Adolfo, disse que o goleiro Bruno foi orientado a não responder a perguntas da Promotoria durante a sessão do júri do caso Eliza. Segundo ele, o cliente vai ficar calado. Adolfo afirmou ainda que a dispensa das testemunhas na segunda-feira (4) foi uma estratégia para acelerar o julgamento e deixar o júri menos cansativo.

'A cabeça do Bruno vai rolar'
Após comentar sobre a possibilidade de um acordo para a confissão de Bruno, o assistente de acusação José Arteiro disse na manhã desta terça-feira não estar interessado se o goleiro vai admitir ou não ser o mandante do crime contra a ex-amante. "Não estou interessado na confissão dele. Essa confissão para mim pouco importa. As provas do processo são muito boas e ele vai dançar", disse.

Arteiro ressaltou que Bruno não pode dizer onde está o corpo de Eliza Samudio porque não sabe e descartou a chance de uma sentença favorável ao goleiro. "Ele vai ser condenado, não tenho dúvida nenhuma", afirmou. "A cabeça do Bruno vai rolar".

Choro de Bruno no 1º dia
No primeiro dia do júri popular, o goleiro Bruno Fernandes de Souza também chorou durante a sessão. Ele leu a Bíblia e, de cabeça baixa durante as quase oito horas de julgamento, viu sua defesa dispensar todas as testemunhas que havia arrolado.

O corpo de jurados, composto por cinco mulheres e dois homens, também foi escolhido na segunda-feira, quando o julgamento começou às 11h45 e foi encerrado às 19h20.

Acusados e condenados
A Promotoria afirma que, além de Bruno e Dayanne, mais sete pessoas tiveram participação nos crimes. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, foram condenados em júri popular realizado em novembro de 2012.

No dia 22 de abril, Bola será julgado. Em 15 de maio, enfrentarão júri Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza, amigo de Bruno. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido (saiba quem são os réus).

Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, era adolescente à época do crime. Cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado testemunha-chave do caso.

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