05/03/2013 10h15 - Atualizado em 05/03/2013 13h30

Goleiro Bruno volta a chorar durante júri pela morte de Eliza Samudio

Nesta terça (5), sessão foi aberta com depoimento de testemunhas.
Jogador e a ex-mulher Dayanne Rodrigues são julgados em Contagem.

Do G1 MG

O goleiro Bruno Fernandes voltou a chorar durante o segundo dia de julgamento do caso Eliza Samúdio, no qual responde pela morte e ocultação de cadáver da ex-amante e pelo sequestro e cárcere privado do filho que teve com a jovem. Nesta terça-feira (5), dependendo da duração do depoimento das testemunhas, o jogador pode ser interrogado. Na sessão desta segunda-feira (4), ele também se emocionou e foi amparado pelo advogado Lúcio Adolfo.

(Acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)

O júri popular de Bruno e da ex-mulher Dayanne Rodrigues recomeçou às 9h20 no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. O segundo dia de julgamento, que teve primeira sessão na segunda-feira (4), estava marcado para ser iniciado às 9h desta terça-feira, mas começou com 20 minutos de atraso. Dayanne Rodrigues responde pelo crime de sequestro e cárcere privado da criança.

Logo após o início da sessão, por volta das 9h35, aconteceu um problema na rede elétrica do Fórum de Contagem. A queda de energia afetou várias salas no fórum, mas não o plenário. A sessão foi retomada às 9h42 com o depoimento da testemunhas de acusação. O primeiroa a falar foi João Batista e, seguida, a promotoria dispensou o detento Jaílson Oliveira, que revelou ter ouvido uma confissão do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Outra testemunha da Promotoria é Renata Garcia, advogada que acompanhou o depoimento do então menor Jorge, que delatou Bruno à polícia. Ela foi ouvida por carta precatória (à distância) e seu depoimento será lido no plenário.

Nesta terça-feira (5), pela defesa, deve ser ouvida ouvida Célia Aparecida Rosa Sales, irmã do réu assassinado Sérgio Rosa Sales, como testemunha de Dayanne. Ela também havia sido arrolada pela defesa de Bruno, mas foi dispensada.

Chegada ao fórum
O goleiro Bruno chegou ao Fórum de Contagem por volta das 8h20 desta terça-feira para o segundo dia do júri. Ele deixou a Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, às 8h02, sob forte esquema de segurança. O comboio escoltado também levou o detento Jaílson Oliveira, que deve depor como testemunha.

A mãe de Eliza Samudio, Sônia Moura, também falou na porta do fórum. Ela espera que não haja acordo, e diz que acredita da condenação. "O choro dele não é verdadeiro, ele não é verdadeiro. Quem tem que perdoar é Deus, não sou eu", disse Sônia.

Primeiro dia de júri: choro e Bíblia
No primeiro dia do júri popular do goleiro Bruno e de Dayanne Rodrigues, o atleta chorou, leu a Bíblia e, de cabeça baixa durante as quase oito horas de sessão, viu sua defesa dispensar todas as testemunhas que havia arrolado.

O corpo de jurados composto por cinco mulheres e dois homens também foi escolhido na segunda (4).

Cinco mulheres e 2 homens no júri
Bruno chegou ao Fórum de Contagem na segunda-feira escoltado por policiais desde a Penitenciária Nelson Hungria. Vinte minutos depois foi a vez de Dayanne, que entrou pela porta da frente do fórum sob vaias e gritos de "justiça".

Com uniforme vermelho da Suapi (Subsecretaria de Administração Prisional), Bruno aguardou na carceragem do fórum até que os advogados apresentassem os pedidos preliminares ao julgamento.Todos os pedidos, que visavam adiar o júri, foram negados pela juíza Marixa Fabiane.

Bruno e Dayanne adentraram a sala do júri para assistir à escolha dos jurados, cinco mulheres e dois homens que agora compõem o Conselho de Sentença. Eles darão o veredicto – culpado ou inocente (entenda como funciona o júri popular).

ATUALIZADO Arte estática Caso Eliza Samúdio (Foto: arte)

Testemunhas dispensadas e ausentes
Após o sorteio do júri, os advogados decidiram dispensar sete das 15 testemunhas (5 de acusação e 10 de defesa) inicialmente arroladas. A dispensa deve acelerar o julgamento, segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), de cinco para três dias.

Considerado testemunha-chave no júri, o primo de Bruno, Jorge Luiz Rosa, não compareceu e também foi dispensado.

Com as dispensas e as ausências, Bruno ficou sem nenhuma testemunha de defesa. Para especialistas, trata-se de uma estratégia (entenda no blog Traduzindoo Caso Eliza Samudio).

Menor dizia a verdade, diz delegada
A única testemunha ouvida na segunda-feira foi a delegada Ana Maria Santos, que atuou na investigação da morte de Eliza Samudio. Testemunha  arrolada pela Promotoria, ela disse à juíza Marixa Fabiane que a polícia ouviu todos os envolvidos que foram encontrados no sítio de Bruno em Esmeraldas (MG), onde Eliza teria sido mantida em cativeiro, e que o menor à época, Jorge Luiz Rosa, "dizia a verdade" quando acusou Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, de ter executado a jovem.

Segundo a delegada, as investigações levaram até a ex-mulher de Bruno, Dayanne Rodrigues, depois que policiais encontraram Bruninho [filho de Eliza com o goleiro] graças a denúncias anônimas sobre o espancamento de uma mulher e sua morte. Conforme depoimento da delegada, Dayanne deu o bebê para outro acusado, Wemerson Marques, o Coxinha.

Ana Maria Santos disse que foi até o centro de internação ouvir o então menor primo de Bruno, Jorge Luiz Rosa, sobre a morte de Eliza.

A delegada também disse como Jorge Luiz Rosa relatou a morte de Eliza. Ele disse que viu Bola esganar Eliza, passando o braço direito sobre seu pescoço. Segundo ele, Bola também pediu para Macarrão pegar uma corda, momento em que ele começou a "desferir bicudas" em Eliza.

Segundo a delegada, o menor dizia a verdade sobre o crime. "Tive razões para confirmar que ele [Jorge] dizia a verdade quando um parecer exarado por um médico legista confirmou que aquela narrativa leiga do jeito que fora feita tinha uma fundamentação científica", disse a delegada.

Expressão do goleiro durante o inquérito (Foto: Léo Aragão/G1)Expressão do goleiro durante o  primeiro dia do júri
(Foto: Leo Aragão/G1)

A defesa de Bruno, por sua vez, tentou desqualificar as palavras da delegada, questionando porque ela estava de férias durante as investigações e se ela tinha sido investigada por permitir uma filmagem de Bruno em um avião. A delegada disse que jamais foi denunciada.

A delegada afirmou ainda que o menor Jorge não citou em seu depoimento os policiais Gilson Costa e José Lauriano Assis Filho, o Zezé. Os dois são investigados em um procedimento cautelar mais recente. A polícia verificou que Zezé e Macarrão trocaram 39 ligações telefônicas nos dias do cárcere e morte de Eliza, e foi aberto um inquérito paralelo para investigar ambos.

Bruno e Dayanne no início do julgamento (Foto: Renata Caldeira / TJMG)Bruno e Dayanne no início do julgamento (Foto: Renata Caldeira / TJMG)
Procurei uma prova da morte da Eliza no processo e não achei. O atestado de óbito é uma fraude"
Lúcio Adolfo, advogado do goleiro Bruno
Todo mundo já sabe que foi ele que mandou matar a Eliza. Porque o Macarrão entregou isso no julgamento"
José Arteiro, assistente de acusação

Suposto acordo de confissão
Antes do júri na segunda-feira, a defesa de Bruno negou acordo para que o goleiro faça uma confissão, o que diminuiria uma possível pena por assassinato.

A hipótese foi levantada pelo advogado José Arteiro, assistente de acusação. Ele disse acreditar na possibilidade de um acordo no qual o goleiro Bruno Fernandes confesse ter mandado matar a ex-amante. "Todo mundo já sabe que foi ele que mandou matar a Eliza. Porque o Macarrão entregou isso no julgamento."

O advogado Lúcio Adolfo afirmou que não há provas no processo de que Eliza Samudio esteja morta. “Não existe acordo. Aquela imoralidade, indecência que aconteceu com o Macarrão é absolutamente irregular. Aquilo é ilegal, não existe no direito brasileiro”, disse.

"Procurei uma prova da morte da Eliza no processo e não achei. O atestado de óbito é uma fraude", disse. Segundo ele, diante da tentativa da acusação de afirmar que Eliza desapareceu e morreu, ele vai usar provas para mostrar o contrário. Lúcio Adolfo assumiu a defesa do goleiro Bruno no fim do ano passado, quando Rui Pimenta foi destituído pelo goleiro, provocando o adiamento de seu próprio julgamento.

Defesa de Bola presente
Outro contratempo inicial no julgamento foi a participação paralela de Ércio Quaresma, defensor de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. Ele obteve liminar para inquirir testemunhas do júri, mesmo seu cliente tendo julgamento marcado apenas para 22 de abril.

Na terça-feira, Ércio Quaresma, falou ao G1 na porta do fórum que pretende usar a nova investigação da policia no júri popular de seu cliente, que será no dia 15 de maio. Segundo o advogado, o promotor não denunciou o policial aposentado Zezé para não inocentar Bola. "Ele só não denunciou o Zezé porque sabe que se fizer isso, estará inocentando o Bola".

Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno, é vista no Fórum de Contagem (Foto: Maurício Vieira/G1)Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno,
no Fórum de Contagem (Foto: Maurício Vieira/G1)

O crime
O goleiro, que na época do crime era titular do Flamengo, é acusado pelo Ministério Público de planejar a morte para não precisar reconhecer o filho que teve com a modelo nem pagar pensão alimentícia.

Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, a vítima foi entregue para o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado. Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial.

O bebê Bruninho, que foi achado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.

Acusados e condenados
A Promotoria afirma que, além de Bruno, mais oito pessoas tiveram participação nos crimes. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, foram condenados em júri popular realizado em novembro de 2012.

No dia 22 de abril, Bola será julgado. Em 15 de maio, enfrentarão júri Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza, amigo de Bruno. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido (saiba quem são os réus).

Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, era adolescente à época do crime. Cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado testemunha-chave do caso.

Investigações
A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam a presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais ela relata o medo que sentia.

Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse proteção.

Apesar de os primos de Bruno terem alterado as versões, os depoimentos devem ser usados pela acusação no júri. Jorge Luiz Rosa, adolescente à época, foi o primeiro a delatar Bruno, confessando ter ajudado o goleiro a levar Eliza ao sítio. Ele contou que a vítima foi entregue a Bola e que ele presenciou a morte. Dias depois, negou tudo. O jovem, hoje com 19 anos, voltou a falar em entrevista ao "Fantástico" (veja o vídeo ao lado). Ele disse que não tinha como Bruno não saber que Eliza seria morta.

O outro primo, Sérgio Rosa Sales, ajudou na reconstituição do crime, mas foi morto com seis tiros, em agosto deste ano.

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