(Foto: Pedro Triginelli/G1)
A delegada Alessandra Wilke acompanha o quarto dia do júri do caso Eliza Samúdio, que vai definir o futuro do goleiro Bruno Fernandes, acusado de envolvimento na morte da ex-amante. “Ele é o mandante, ele dominava toda a situação, ninguém faria nada deste tamanho sem o aval dele”, afirmou na manhã desta quinta-feira (7). Alessandra participou da investigação do crime na época do desaparecimento da jovem.
(Acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)
“O depoimento do Bruno foi um teatro, ele tentou melhorar a situação dele, mas não conseguiu. As provas do inquérito mostram que ele é o responsável pelo mando de toda essa trama criminosa”, afirmou. Para ela, no interrogatório, ele perdeu a chance de dizer a verdade. “É o último momento. O laço da corda está no pescoço dele. É o momento de ele tentar dizer que está arrependido por não ter ajudado a polícia”, afirmou.
A delegada criticou a personalidade do jogador e disse que não reconhece a postura “cabisbaixa”. “Não, não acredito neste Bruno, até pela personalidade dele. Foi uma recomendação dos advogados”. Ela destacou detalhes do interrogatório do réu, em que Bruno relatou ter ido a três festas nos dias que se seguiram à morte de Eliza. “Dizer que tomou conhecimento da morte e depois bebeu, viajou a noite toda para o Rio de Janeiro, depois foi a três festas. Isso mostra a personalidade dele”, acrescentou.
Júri entra na reta final
O júri popular do goleiro Bruno Fernandes e da ex-mulher dele, Dayanne Rodrigues, entrou na reta final, nesta quinta-feira (7), no Fórum de Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Antes do debate entre Promotoria e defesa, a ré Dayanne voltou a responder a algumas perguntas.
De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), na hora do debate, primeiramente, o promotor poderá expor seus argumentos. Em seguida, os advogados dos réus falarão no plenário. Por fim, há espaço para réplicas e tréplicas. A fase do debate deve durar até nove horas.
Depois que acusação e defesa apresentarem suas alegações, o conselho de sentença se reunirá para decidir se os réus serão condenados ou absolvidos. Bruno é acusado de homicídio triplamente qualificado (motivo torpe, meio cruel e recurso que impossibilitou a defesa da vítima); sequestro e cárcere privado de Bruninho e ocultação de cadáver. Já Dayanne responde pelo sequestro e cárcere privado de Bruninho.
A expectativa do TJMG é que a sentença seja proferida pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues , que preside o júri popular, ainda no quarto dia de julgamento.
Terceiro dia
O goleiro Bruno Fernandes de Souza disse nesta quarta-feira (6) que aceitou o fato de que Eliza Samudio havia sido assassinada a mando do amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, sem tomar qualquer atitude e sem denunciar os envolvidos no crime. "Como mandante, dos fatos, não, eu nego. Mas de certa forma, me sinto culpado", afirmou o atleta. "Eu não sabia, eu não mandei, excelência, mas eu aceitei", disse à juíza Marixa Rodrigues.
O interrogatório do jogador começou por volta das 14h e terminou perto de 20h15 no Fórum de Contagem. Ele respondeu a todas as perguntas feitas pela juíza e por seu advogado, além de pelo menos 30 questões formuladas pelos jurados. Bruno, no entanto, permaneceu calado ao ser questionado pela Promotoria e por Ércio Quaresma, advogado de policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola.
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que defende Bola, ao falar (Foto: Léo Aragão/G1)
O goleiro disse que Macarrão contou a ele que contratou Bola para matar Eliza. Foi a primeira vez que Bruno implicou Bola na morte da modelo, com quem o atleta teve um filho. Até então, o policial era citado como "Neném" por Jorge Luiz Rosa, primo do jogador que era menor de idade á época do crime, que disse à polícia ter presenciado a execução da jovem.
O advogado perguntou a Bruno se achava que, quando Macarrão se referiu a Neném, queria dizer Marcos Aparecido dos Santos. O goleiro respondeu que sim e falou que ficou sabendo por meio da imprensa que Bola tinha vários apelidos, como "Neném" e "Paulista". Ele disse que tem medo do policial.
Macarrão, em sua confissão à Justiça em novembro, disse não saber quem seria o executor de Eliza Samudio. O amigo de Bruno afirmou no júri popular em que foi condenado a 15 anos de prisão que deixou a modelo em uma rua escura e que ela entrou em outro carro.
Bruno reconheceu pela primeira vez que Eliza foi morta, culpou Macarrão pelo assassinato, negou ser o mandante do crime e disse acreditar que poderia ter evitado esse desfecho. O jogador disse que, na noite em que a modelo foi morta, Macarrão e o primo Jorge Luiz Rosa deixaram o sítio com Eliza e o bebê Bruninho, voltando mais tarde somente com a criança.
"Perguntei para eles: 'poxa, cadê Eliza? Pelo amor de Deus, o que vocês fizeram com ela?'", afirmou. "Neste momento, Macarrão falou assim: 'ó, eu resolvi o problema, o problema que tanto te atormentava'", relatou no tribunal.
Bruno e a ex-mulher Dayanne Rodrigues enfrentam júri popular por crimes relacionados ao desaparecimento e à morte de Eliza Samudio, com quem o goleiro teve um filho. O atleta responde pela morte e ocultação de cadáver da modelo e pelo sequestro e cárcere privado da criança. A ex-mulher responde pelo crime de sequestro e cárcere privado de Bruninho.
O goleiro, que na época do crime era titular do Flamengo, é acusado pelo Ministério Público de planejar a morte para não precisar reconhecer o filho nem pagar pensão alimentícia. Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para o sítio do goleiro em Esmeraldas (MG), segundo a denúncia, onde foi mantida em cárcere privado. Depois, foi entregue para Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado.
Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010, em Vespasiano (MG). A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial. O bebê, que foi encontrado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.
'Eu perdoo por tudo'
Bruno disse que não denunciou Macarrão pelo crime por "medo de acontecer alguma coisa" com as sua filhas e com ele próprio e também "pelo fato de conhecer ele há muito tempo". Questionado pela juíza sobre quem ele temia, o atleta afirmou que era o próprio Macarrão e outras pessoas envolvidas. Sobre a relação com o amigo, condenado pela morte da modelo, Bruno disse que o perdoa. "Eu perdoo por tudo, mas ele vai cuidar da família dele e eu vou cuidar da minha família".
'Dayanne não sabia'
O goleiro também afirmou que a ex-mulher Dayanne Rodrigues não sabia que Eliza Samudio havia sido assassinada e que, "apesar de assustada com tudo o que estava acontecendo", em momento algum soube da situação. "Eu falei para ela só: 'fica com a criança para mim'. Ela perguntou o que eu estava acontecendo, mas eu quis protegê-la", disse no interrogatório.
Três festas e futebol após o crime
O jogador contou ainda que que foi a três festas e participou de uma partida de futebol com o time 100%, formado por ele e por amigos, nos dias seguintes à morte de Eliza, da qual sabia a partir de conversa com Macarrão e com o seu primo. Ele disse que na noite do crime viajou para o Rio de Janeiro e que, no dia seguinte, foi a uma festa do jogador Vagner Love e depois a outro evento, em Angra dos Reis. Dois dias depois do assassinato, ele participou do jogo do seu time e esteve em mais uma festa com os jogadores, realizada em uma casa alugada.
dos jurados em Minas Gerais (Foto: Léo Aragão/G1)
'Atrapalhando na transação'
Bruno disse ainda que conheceu Eliza em uma festa, que teve relação sexual com a modelo apenas uma vez e que, na oportunidade, ela tinha se envolvido com outras pessoas". Ele falou sobre os desentendimentos que surgiram quando ela disse que estava grávida e que a jovem passou a entrar em contato com a imprensa para falar coisas a seu respeito, o que teria atrapalhado uma transfer~encia para o futebol estrangeiro.
"Eu estava prestes a ser contratado por equipe fora do país, então estava atrapalhando na transação essas coisas ditas [por Eliza] na imprensa", disse Bruno. "Incomodava não só a mim mas todos que estavam a meu redor. [...] As pessoas que dependiam de mim, como família, como amigos, empresário".
O jogador falou que Macarrão ficou responsável por lidar com Eliza e que, no dia 3 de junho de 2010, o amigo chegou no hotel onde Bruno estava concentrado com o Flamengo e disse que havia trocado socos e agressões no carro com Eliza e que ela estava machucada.
Ao chegar em casa, segundo relatou no júri, Bruno viu o filho Bruninho com a ex-namorada Fernanda Castro, junto com o primo menor de idade e Macarrão. Eliza estava em outro andar do imóvel. "Ela estava lá machucada, com hematomas no rosto e na cabeça, mas não estava sangrando".
Ele disse que surrou o primo por ter agredido a modelo, que fez um curativo na jovem e que conversou com Eliza sobre um acordo, no valor de R$ 50 mil. Ele disse que parte do dinheiro estava no sítio em Minas Gerais, motivo pelo qual a vítima viajou junto com eles na mesma noite, levando o filho. Depois disso, segundo Bruno, Macarrão colocou o plano de matar Eliza em prática, sem que ele tivesse conhecimento prévio do combinado.
Dayanne depõe no 2º dia
Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno, disse na terça-feira (5), em depoimento no seu júri popular, que "não são verdadeiras" as acusações contra ela e que o jogador e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, pediram para ela mentir sobre o paradeiro do filho de Eliza Samudio com o atleta.
No segundo dia do julgamento, a fase de testemunhas foi encerrada. Durante a exibição de vídeos sobre o caso, o jogador chorou e a mãe da vítima, Sônia Moura, passou mal ao ver uma reportagem em que a filha denunciava ter sido ameaçada pelo goleiro.
Choro de Bruno no 1º dia
No primeiro dia do júri popular, o goleiro Bruno Fernandes de Souza também chorou durante a sessão. Ele leu a Bíblia e, de cabeça baixa durante as quase oito horas de julgamento, viu sua defesa dispensar todas as testemunhas que havia arrolado.
O corpo de jurados, composto por cinco mulheres e dois homens, também foi escolhido na segunda-feira, quando o julgamento começou às 11h45 e foi encerrado às 19h20.
Acusados e condenados
A Promotoria afirma que, além de Bruno e Dayanne, mais sete pessoas tiveram participação nos crimes. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, foram condenados em júri popular realizado em novembro de 2012.
No dia 22 de abril, Bola será julgado. Em 15 de maio, enfrentarão júri Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza, amigo de Bruno. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido (saiba quem são os réus).
Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, era adolescente à época do crime. Cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado testemunha-chave do caso.