O advogado Lúcio Adolfo, que defende o goleiro Bruno Fernandes de Souza, disse durante o intervalo do júri popular do jogador pela morte de Eliza Samudio, na tarde desta quinta-feira (7), que já definiu as estratégias para convencer os jurados da inocência do atleta por crimes de homicídio, ocultação de cadáver e sequestro. Ele reforçou que, primeiramente, vai pedir a absolvição.
- FOTOS: julgamento do caso Eliza em MG
- ILUSTRAÇÕES: veja cenas do julgamento
- FRASES: júri popular do goleiro Bruno
- BLOG: Traduzindo o julgamento do caso
- Promotor pede absolvição de ex-mulher de Bruno, que chora em júri
- Promotor diz que Bruno 'mentiu' e foi 'articulador' de morte de Eliza
- 'Sabia e imaginava', diz Bruno sobre morte de Eliza em novo interrogatório
- Ex de Bruno volta e diz ter medo de suspeito após fala de goleiro em júri
- Delegada que investigou morte de Eliza assegura que Bruno é mandante
apresentação de promotores (Foto: Léo Aragão/G1)
defesa nesta quinta (Foto: Renata Caldeira / TJMG)
(Acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)
"Além do homicídio, nós temos mais dois crimes que o Bruno será julgado: ocultação de cadáver e sequestro. O promotor viu a absolvição do Macarrão na ocultação de cadáver e não houve recurso. O que me leva a crer que o promotor não insista na tese de Bruno seja condenado pela ocultação de cadáver", disse Adolfo.
"O promotor pediu a absolvição de Dayanne pelo sequestro. Se a Dayanne não sequestrou, muito menos o Bruno. Se eu conseguir convencer os jurados a esse entendimento, nós vamos tratar exclusividade do homicídio, brigando pela inexistência de qualificadoras".
Bruno e a ex-mulher Dayanne Rodrigues enfrentam júri popular por crimes relacionados ao desaparecimento e à morte de Eliza Samudio, com quem o goleiro teve um filho. O atleta responde pela morte e ocultação de cadáver da modelo e pelo sequestro e cárcere privado da criança. A ex-mulher responde pelo crime de sequestro e cárcere privado de Bruninho.
O goleiro, que na época do crime era titular do Flamengo, é acusado pelo Ministério Público de planejar a morte para não precisar reconhecer o filho nem pagar pensão alimentícia. Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para o sítio do goleiro em Esmeraldas (MG), segundo a denúncia, onde foi mantida em cárcere privado. Depois, foi entregue para Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado.
O advogado de Bruno disse que, se não conseguir a absolvição do cliente, vai buscar outra estratégia. "Se condenado, vou buscar a redução da pena", garantiu. "O promotor disse e pôs no papel que Bruno mandou matar a Eliza. Eu estou dizendo que não há prova de mando. Se os jurados entenderem como eu, que ele não mandou, absolvem. Se os jurados não entenderem assim, vamos para o instante seguinte", afirmou Adolfo sobre a primeira tese da defesa.
A segunda tese proposta por Adolfo é da hipótese de participação diferenciada de Bruno. "Ele teve participação diferenciada? Ele teve tanta culpa quanto os outros envolvidos? Os senhores jurados acham que a participação do Bruno é diferenciada, é menor? Se eles disserem que sim, autoriza a juíza a reduzir um pouco a pena, se disserem não, continuamos onde estávamos".
Se o plano não der certo, Adolfo disse que partirá para a terceira tese. "O Bruno quis participar de um outro crime? Se eles disserem sim, aí vamos analisar o que for menos grave. Se eles disserem não, continuamos como estávamos."
Se a partir daí caírem todas as teses da defesa, o advogado disse que vai perguntar aos jurados se houve asfixia. "Se disserem que sim, o homicídio é qualificado. Aí eu pergunto depois se o motivo era torpe, se disserem sim, é duplamente qualificado. Finalmente eu pergunto, se usou recurso que impossibilita a ampla defesa, se disserem sim, é triplamente qualificado. Se disserem que não, vai-se reduzindo ao alcance da reprimenda. Isso é de qualquer júri."
Para o advogado, a tese de participação diferenciada não obriga a magistrada a entender pela pena mínima, "igual ela fez com o Macarrão, com pena de 12 anos. Mas ela não está obrigada e nem se comprometeu a isso, mas se ela usar a mesma dosimetria, ela pode reduzir em um sexto, que são dois anos. Aí chegamos a pena de 12 anos que cairia para 10 anos. Se for condenado a 10 anos o regime é fechado. Não fico contente com outro resultado que não seja a absolvição."
"Se eles entenderem que a participação dele é menor, então, a redução é maior, de um terço, aí a pena cai para 8 anos. Se for a 8 anos, possibilita-se o regime semi-aberto."
Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010, em Vespasiano (MG). A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial. O bebê, que foi encontrado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.
Confissão
Adolfo disse que considera que Bruno tenha confessado duas vezes durante o júri na quarta-feira (6) e também nesta quinta-feira (7), quando foi reinterrogado por ele. "O Bruno confessou. Havia uma expectativa de que fosse confessar. Hoje, eu acordei com as notícias de que Bruno não tinha confessado. Eu perguntei para mim mesmo o que faltava ele falar. No plenário, perguntei para ele se sabia que Eliza iria morrer e ele respondeu que 'sabia e imaginava'. Perguntei novamente o motivo? Ele disse que porque havia constante agressão de Macarrão a ela. O que mais? Ele falou do dinheiro dado ao Macarrão", explicou o advogado.
Pedido para da Dayanne foi tardio
O advogado Tiago Lenoir disse que o pedido da Promotoria para a absolvição de Dayanne demorou para acontecer. "O pedido de absolvição da Dayanne foi tardio. Porque foi preciso que ela ficasse quatro meses presa? Porque foi preciso que fosse hoje?", questionou o defensor.
"Trabalhamos pautados na prova do processo, dentro da legalidade. Usamos as armas que estavam ao nosso favor para produzir uma defesa técnica em favor da Dayanne. O Ministério Público não fez favor algum pedindo a absolvição de Dayanne. O Ministério Público reconheceu a fragilidade de provas em relação à acusada Dayanne. Ela falou por si só. Ela teve a oportunidade de esclarecer alguns pontos que restaram no inquérito. Não existe acordo no processo penal", disse o advogado Tiago Lenoir.
Ele afirmou ainda esperar que os jurados levem em conta o pedido do promotor para a absolvição de Dayanne. "Esperamos que os jurados sejam coerentes com a prova do processo e com a explanação tanto da defesa como da promotoria sobre a Dayanne."
O promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro pediu a absolvição de Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno. Ele apresentou seus argumentos na fase de debates entre acusação e defesa no júri popular da morte da ex-amante do goleiro Eliza Samudio. Dayanne chorou ao ouvir as palavras do promotor. O veredicto, culpado ou inocente, deve sair ainda nesta quinta.
Segundo Henry, Dayanne deve ser inocentada porque foi "coagida" pelo policial aposentado Zezé, José Lauriano, que hoje é investigado por participação no crime. Segundo o promotor, ele "é a pessoa que chega na noite da morte de Eliza com Bola". O promotor diz também que Bruno deixou a "mãe de suas filhas à mercê" de Zezé. "E Bruno conhecia o Zezé."
'Dominava toda a situação'
A delegada Alessandra Wilke acompanha o quarto dia do júri do caso Eliza Samúdio, que vai definir o futuro do goleiro Bruno, acusado de envolvimento na morte da ex-amante. "Ele é o mandante, ele dominava toda a situação, ninguém faria nada deste tamanho sem o aval dele", afirmou na manhã desta quinta. Alessandra participou da investigação do crime na época do desaparecimento da jovem.
"O depoimento do Bruno foi um teatro, ele tentou melhorar a situação dele, mas não conseguiu. As provas do inquérito mostram que ele é o responsável pelo mando de toda essa trama criminosa", disse. Para ela, no interrogatório, ele perdeu a chance de dizer a verdade. "É o último momento. O laço da corda está no pescoço dele. É o momento de ele tentar dizer que está arrependido por não ter ajudado a polícia".
O goleiro Bruno Fernandes de Souza disse nesta quarta-feira (6) que aceitou o fato de que Eliza Samudio havia sido assassinada a mando do amigo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, sem tomar qualquer atitude e sem denunciar os envolvidos no crime. "Como mandante, dos fatos, não, eu nego. Mas de certa forma, me sinto culpado", afirmou o atleta. "Eu não sabia, eu não mandei, excelência, mas eu aceitei", disse à juíza Marixa Rodrigues.
O goleiro disse que Macarrão contou a ele que contratou Bola para matar Eliza. Foi a primeira vez que Bruno implicou Bola na morte da modelo, com quem o atleta teve um filho. O atleta reconheceu pela primeira vez que Eliza foi morta, culpou Macarrão pelo assassinato, negou ser o mandante do crime e disse acreditar que poderia ter evitado esse desfecho.
Bruno disse que não denunciou Macarrão pelo crime por "medo de acontecer alguma coisa" com as sua filhas e com ele próprio e também "pelo fato de conhecer ele há muito tempo".
Dayanne Rodrigues, ex-mulher do goleiro Bruno, disse na terça-feira (5), em depoimento no seu júri popular, que "não são verdadeiras" as acusações contra ela e que o jogador e Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, pediram para ela mentir sobre o paradeiro do filho de Eliza Samudio com o atleta.
No segundo dia do julgamento, a fase de testemunhas foi encerrada. Durante a exibição de vídeos sobre o caso, o jogador chorou e a mãe da vítima, Sônia Moura, passou mal ao ver uma reportagem em que a filha denunciava ter sido ameaçada pelo goleiro.
Ela detalhou os dias em que esteve no sítio e para onde levou o bebê Bruninho, filho de Eliza, dizendo que cuidou da criança a pedido de Bruno e que não sabia o que havia acontecido com a modelo.
No primeiro dia do júri popular, o goleiro Bruno Fernandes de Souza chorou durante a sessão. Ele leu a Bíblia e, de cabeça baixa durante as quase oito horas de julgamento, viu sua defesa dispensar todas as testemunhas que havia arrolado.
Considerado testemunha-chave no júri, o primo de Bruno, Jorge Luiz Rosa, não compareceu e também foi dispensado.
Com as dispensas e as ausências, o goleiro ficou sem nenhuma testemunha de defesa. Para especialistas, tratou-se de uma estratégia.
O corpo de jurados, composto por cinco mulheres e dois homens, também foi escolhido na segunda-feira, quando o julgamento começou às 11h45 e foi encerrado às 19h20.
Todos os pedidos, que visavam adiar o júri, foram negados pela juíza Marixa Fabiane, entre eles, o da defesa de Bruno sobre o atestado de óbito de Eliza Samudio, expedido pela Justiça criminal (entenda o caso).
Acusados e condenados
A Promotoria afirma que, além de Bruno e Dayanne, mais sete pessoas tiveram participação nos crimes. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, foram condenados em júri popular realizado em novembro de 2012.
No dia 22 de abril, Bola será julgado. Em 15 de maio, enfrentarão júri Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza, amigo de Bruno. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido (saiba quem são os réus).
Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, era adolescente à época do crime. Cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado testemunha-chave do caso.