04/03/2013 12h14 - Atualizado em 04/03/2013 18h41

Cinco mulheres e 2 homens julgarão goleiro Bruno e ex por morte de Eliza

Goleiro que era titular do Flamengo é acusado de planejar morte da modelo.
Ela responde pelo sequestro e cárcere privado do filho da vítima e do atleta.

Rosanne D'AgostinoDo G1, em Contagem (MG)

Ilustração mostra a disposição dos jurados no Fórum de Contagem (Foto: Leonardo Aragão/G1)Ilustração mostra a disposição dos sete jurados no Fórum de Contagem, em MG (Foto: Leo Aragão/G1)

Cinco mulheres e dois homens vão compor o Conselho de Sentença que dará o veredicto – culpado ou inocente – no júri popular do goleiro Bruno Fernandes de Souza e de sua ex-mulher Dayanne Rodrigues. Ele é réu pela morte e ocultação de cadáver da ex-amante de 25 anos e pelo sequestro e cárcere privado do filho que teve com a jovem. Ela responde pelo crime de sequestro e cárcere privado da criança.

(A partir desta segunda, dia 4, acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)

O julgamento começou às 11h45, depois que a juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues negou a retirada do atestado de óbito de Eliza Samudio do processo e disse que não é possível suspender o júri em razão de um recurso sobre o assunto, que aguarda decisão.

O advogado do goleiro Bruno, Tiago Lenoir, disse na porta do Fórum de Contagem que o julgamento não poderia ser realizado. A juíza Marixa afirmou, no entanto, que o tipo de recurso apresentado pela defesa não possui "efeito suspensivo".

A juíza negou todos os pedidos da defesa, que pretendia adiar o julgamento. Segundo ela, os advogados tiveram acesso a todos os documentos da ação, que agora alegam não estarem disponíveis.

A previsão é que o julgamento dure cinco dias (entenda como funciona um júri popular).

O crime
O goleiro, que na época do crime era titular do Flamengo, é acusado pelo Ministério Público de planejar a morte para não precisar reconhecer o filho que teve com a modelo nem pagar pensão alimentícia.

Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, a vítima foi entregue para o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado. Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial.

O bebê Bruninho, que foi achado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.

Acusados e condenados
A Promotoria afirma que, além de Bruno, mais oito pessoas tiveram participação nos crimes. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, foram condenados em júri popular realizado em novembro de 2012.

No dia 22 de abril, Bola será julgado. Em 15 de maio, enfrentarão júri Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza, amigo de Bruno. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido (saiba quem são os réus).

Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, era adolescente à época do crime. Cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado testemunha-chave do caso.

Testemunhas
Ao todo, 15 testemunhas – cinco de acusação, que são ouvidas primeiro, e 10 arroladas pela defesa (cinco para cada réu) – serão ouvidas pelo júri. Não há limite de tempo para as oitivas. Cada testemunha é questionada pelo juiz, pelo promotor e pelos advogados de todos os réus. Os jurados também podem fazer perguntas por escrito, que são lidas pelo juiz (veja quem são as testemunhas).

Procurei uma prova da morte da Eliza no processo e não achei. O atestado de óbito é uma fraude"
Lúcio Adolfo, advogado do goleiro Bruno
Todo mundo já sabe que foi ele que mandou matar a Eliza. Porque o Macarrão entregou isso no julgamento"
José Arteiro, assistente de acusação

Defesa x acusação
O advogado Lúcio Adolfo, que defende o goleiro, disse na manhã desta segunda, ao chegar para o júri, que não há provas no processo de que Eliza Samudio está morta. "Procurei uma prova da morte da Eliza no processo e não achei. O atestado de óbito é uma fraude", disse. Segundo ele, diante da tentativa da acusação de afirmar que Eliza desapareceu e morreu, ele vai usar provas para mostrar o contrário. Lúcio Adolfo assumiu a defesa do goleiro Bruno no fim do ano passado, quando Rui Pimenta foi destituído.

Ainda segundo Adolfo, o julgamento de Bruno vai ocorrer com dois problemas: o desfalque do processo e um inquérito paralelo para investigar novos envolvidos. Segundo o defensor, 710 páginas da ação sumiram. "O escrivão disse que as folhas desapareceram durante o primeiro julgamento".

O advogado José Arteiro, assistente de acusação, disse acreditar na possibilidade de um acordo no qual o goleiro Bruno Fernandes confesse ter mandado matar a ex-amante. "Todo mundo já sabe que foi ele que mandou matar a Eliza. Porque o Macarrão entregou isso no julgamento".

Defesa de Bola presente
Uma liminar concedida nesta sexta-feira (1°) autoriza os advogados do réu Marcos Aparecido dos Santos – o Bola – a inquirir testemunhas do júri popular que começa nesta segunda-feira (4), conforme informou o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). O julgamento de Bola, que foi desmembrado, está marcado para o dia 22 de abril.

Fernando Magalhães, um dos advogados que integra a defesa de Bola, disse que o pedido foi feito, pois, do contrário, o seu cliente poderia ser prejudicado. "Caso essas testemunhas façam quaisquer referências prejudiciais ao Marcos Aparecido, ele ficaria indefeso. Ficaria impossível contrapô-las. Agora sim, recuperou-se a ampla defesa", disse.

Investigações
A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam a presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais ela relata o medo que sentia.

Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse proteção.

 Apesar de os primos de Bruno terem alterado as versões, os depoimentos devem ser usados pela acusação no júri. Jorge Luiz Rosa, adolescente à época, foi o primeiro a delatar Bruno, confessando ter ajudado o goleiro a levar Eliza ao sítio. Ele contou que a vítima foi entregue a Bola e que ele presenciou a morte. Dias depois, negou tudo. O jovem, hoje com 19 anos, voltou a falar em entrevista ao "Fantástico" (veja o vídeo ao lado). Ele disse que não tinha como Bruno não saber que Eliza seria morta.

O outro primo, Sérgio Rosa Sales, ajudou na reconstituição do crime, mas foi morto com seis tiros, em agosto deste ano. Ele também chegou a desmentir as acusações contra o goleiro, mas, em uma carta enviada por ele aos pais, incluída no inquérito, relatou ter sofrido ameaça de outros advogados para alterar o depoimento. À época, o advogado de Bruno, Francisco Simim, negou qualquer pressão.

Novo suspeito
Às vésperas do julgamento do goleiro Bruno, um policial civil aposentado pode ser incluído na lista de envolvidos no crime. Esse novo personagem teria agido junto com os amigos do jogador, segundo informou o Ministério Público de Minas Gerais em reportagem exibida no domingo (3) pelo "Fantástico" (assista à reportagem no vídeo ao lado).

De acordo com o MP, o policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, conhecido como Zezé, teria se encontrado com Macarrão no motel em Contagem (MG) onde estavam Eliza e o filho. As investigações apontam uma intensa troca de telefonemas entre os dois, antes e depois da morte da jovem. A promotoria afirma que vai denunciar o policial.

"O Ministério Público tem convicção da participação do Zezé. Ele pode ser responsabilizado pelo homicídio, pelo sequestro de Eliza e de sua criança e também pela ocultação do cadáver da moça", afirmou o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro.

Lacunas
Para decidir o veredicto, os jurados poderão ter acesso a todo tipo de prova presente no processo, desde as conclusões do inquérito até os testemunhos que serão dados na hora do julgamento, a palavra de cada réu e ainda o material audiovisual que será apresentado na sessão, como vídeos e reportagens sobre o caso.

Apesar disso, as investigações não conseguiram responder algumas perguntas e, em caso de dúvida, segundo o processo penal, cada jurado deverá ser orientado a julgar em favor da defesa (veja pontos considerados chave).

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