05/03/2013 09h16 - Atualizado em 05/03/2013 10h55

Após falar sobre acordo, acusação nega interesse em confissão

Anteriormente, José Arteiro havia admitido a possibilidade de um acordo.
Ele também afirmou não acreditar na condenação do goleiro.

Glauco Araújo e Pedro TriginelliDo G1, em Contagem (MG)

Após comentar a possibilidade de um acordo para a confissão de Bruno Fernandes, o assistente de acusação José Arteiro disse na manhã desta terça-feira (5) não estar interessado se o goleiro vai admitir ou não ser o mandante do crime contra a ex-amante Eliza Samudio. “Não estou interessado na confissão dele, essa confissão para mim pouco importa. as provas do processo são muito boas e ele vai dançar”, disse.

(Acompanhe no G1 a cobertura completa do julgamento do caso Eliza Samudio, com equipe de jornalistas trazendo as últimas informações, em tempo real, de dentro e de fora do Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Conheça os réus, entenda o júri popular, relembre os momentos marcantes e acesse reportagens, fotos e infográfico sobre o crime envolvendo o goleiro Bruno.)

Na chegada ao Fórum de Contagem, Região Metropolitana de Belo Horizonte, o Arteiro negou querer um acordo com a defesa de Bruno: “Não quero acordo nenhum e até agora não me procuraram”. Anteriormente, o assistente de acusação havia admitido a hipótese de um acordo.

Arteiro ressaltou que Bruno não pode dizer onde está o corpo de Eliza porque não sabe e descartou a chance de uma sentença favorável ao goleiro. “Ele vai ser condenado, não tenho dúvida nenhuma”, afirmou. E ainda disse: “A cabeça do Bruno vai rolar”.

Suposto acordo de confissão
Antes do júri, a defesa de Bruno negou acordo para que o goleiro faça uma confissão, o que diminuiria uma possível pena por assassinato.

A hipótese foi levantada pelo advogado José Arteiro, assistente de acusação. Ele disse acreditar na possibilidade de um acordo no qual o goleiro Bruno Fernandes confesse ter mandado matar a ex-amante. "Todo mundo já sabe que foi ele que mandou matar a Eliza. Porque o Macarrão entregou isso no julgamento."

O advogado Lúcio Adolfo afirmou que não há provas no processo de que Eliza Samudio esteja morta. “Não existe acordo. Aquela imoralidade, indecência que aconteceu com o Macarrão é absolutamente irregular. Aquilo é ilegal, não existe no direito brasileiro”, disse.

"Procurei uma prova da morte da Eliza no processo e não achei. O atestado de óbito é uma fraude", disse. Segundo ele, diante da tentativa da acusação de afirmar que Eliza desapareceu e morreu, ele vai usar provas para mostrar o contrário. Lúcio Adolfo assumiu a defesa do goleiro Bruno no fim do ano passado, quando Rui Pimenta foi destituído pelo goleiro, provocando o adiamento de seu próprio julgamento.

Ainda segundo Adolfo, o júri de Bruno ocorre com dois problemas: o desfalque do processo e um inquérito paralelo para investigar novos envolvidos. Segundo o defensor, 710 páginas da ação sumiram. "O escrivão disse que as folhas desapareceram durante o primeiro julgamento."

Bruno sai da Penitenciária Nelson Hungria em direção ao fórum. (Foto: Reprodução/TV Globo)Bruno sai da Penitenciária Nelson Hungria em direção ao fórum nesta terça (5). (Foto: Reprodução/TV Globo)

Primeiro dia de júri: choro e Bíblia
No primeiro dia do júri popular do goleiro Bruno e de Dayanne Rodrigues, o atleta chorou, leu a Bíblia e, de cabeça baixa durante as quase oito horas de sessão, viu sua defesa dispensar todas as testemunhas que havia arrolado.

O corpo de jurados composto por cinco mulheres e dois homens também foi escolhido nesta segunda (4).

Cinco mulheres e 2 homens no júri
Bruno chegou ao Fórum de Contagem às 8h escoltado por policiais desde a Penitenciária Nelson Hungria, onde responde preso aos crimes pelos quais é acusado. Vinte minutos depois foi a vez de Dayanne, que entrou pela porta da frente do fórum sob vaias e gritos de "justiça".

Ilustração traz panorama geral do plenário onde ocorre o júri popular de Bruno (Foto: Léo Aragão/G1)Ilustração traz panorama geral do plenário onde ocorre o júri popular de Bruno (Foto: Léo Aragão/G1)

Com uniforme vermelho da Suapi (Subsecretaria de Administração Prisional), Bruno aguardou na carceragem do fórum até que os advogados apresentassem os pedidos preliminares ao julgamento.

Todos os pedidos, que visavam adiar o júri, foram negados pela juíza Marixa Fabiane, entre eles, o da defesa de Bruno sobre o atestado de óbito de Eliza Samudio, expedido pela Justiça criminal (entenda o caso).

Em seguida, Bruno e Dayanne adentraram a sala do júri para assistir à escolha dos jurados, cinco mulheres e dois homens que agora compõem o Conselho de Sentença. Eles darão o veredicto – culpado ou inocente (entenda como funciona o júri popular).

Testemunhas dispensadas e ausentes
Após o sorteio do júri, os advogados decidiram dispensar sete das 15 testemunhas (5 de acusação e 10 de defesa) inicialmente arroladas. A dispensa deve acelerar o julgamento, segundo o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJ-MG), de cinco para três dias.

Considerado testemunha-chave no júri, o primo de Bruno, Jorge Luiz Rosa, não compareceu e também foi dispensado.

Com as dispensas e as ausências, Bruno ficou sem nenhuma testemunha de defesa. Para especialistas, trata-se de uma estratégia (entenda no Traduzindo).

A expectativa é que quatro testemunhas sejam ouvidas no Fórum de Contagem durante o restante do julgamento. A outra foi ouvida por carta precatória, utilizada para depoimentos à distância.

Menor dizia a verdade, diz delegada
A única testemunha ouvida nesta segunda foi a delegada Ana Maria Santos, que atuou na investigação da morte de Eliza Samudio. Testemunha  arrolada pela Promotoria, ela disse à juíza Marixa Fabiane que a polícia ouviu todos os envolvidos que foram encontrados no sítio de Bruno em Esmeraldas (MG), onde Eliza teria sido mantida em cativeiro, e que o menor à época, Jorge Luiz Rosa, "dizia a verdade" quando acusou Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, de ter executado a jovem.

Segundo a delegada, as investigações levaram até a ex-mulher de Bruno, Dayanne Rodrigues, depois que policiais encontraram Bruninho [filho de Eliza com o goleiro] graças a denúncias anônimas sobre o espancamento de uma mulher e sua morte. Conforme depoimento da delegada, Dayanne deu o bebê para outro acusado, Wemerson Marques, o Coxinha.

Ana Maria Santos disse que foi até o centro de internação ouvir o então menor primo de Bruno sobre a morte de Eliza.

Segundo ela, o menor foi morar com Bruno e, um dia, afirmou ter ouvido uma conversa entre Macarrão e Eliza. Segundo a delegada, o menor afirmou que Eliza xingava o goleiro, dizia que estava com dificuldades financeiras para criar o filho e que o "Bruno estava se achando o Rogério Ceni".

A delegada também disse como Jorge Luiz Rosa relatou a morte de Eliza. Ele disse que viu Bola esganar Eliza, passando o braço direito sobre seu pescoço. Segundo ele, Bola também pediu para Macarrão pegar uma corda, momento em que ele começou a "desferir bicudas" em Eliza.

Segundo a delegada, o menor dizia a verdade sobre o crime. "Tive razões para confirmar que ele [Jorge] dizia a verdade quando um parecer exarado por um médico legista confirmou que aquela narrativa leiga do jeito que fora feita tinha uma fundamentação científica", disse a delegada.

A defesa de Bruno, por sua vez, tentou desqualificar as palavras da delegada, questionando porque ela estava de férias durante as investigações e se ela tinha sido investigada por permitir uma filmagem de Bruno em um avião. A delegada disse que jamais foi denunciada.

A delegada afirmou ainda que o menor Jorge não citou em seu depoimento os policiais Gilson Costa e José Lauriano Assis Filho, o Zezé. Os dois são investigados em um procedimento cautelar mais recente. A polícia verificou que Zezé e Macarrão trocaram 39 ligações telefônicas nos dias do cárcere e morte de Eliza, e foi aberto um inquérito paralelo para investigar ambos.

Depois de encerrada a sessão, um dos advogados de Bruno comentou as investigações. Para Tiago Lenoir, a suspeita sobre o policial Zezé prova que "a acusação não conseguiu ainda buscar a verdade real desse processo". "Passados dois anos e oito meses tiveram que pedir quebra de sigilo bancário e telefônico", criticou.

O crime
O goleiro, que na época do crime era titular do Flamengo, é acusado pelo Ministério Público de planejar a morte para não precisar reconhecer o filho que teve com a modelo nem pagar pensão alimentícia.

Conforme a denúncia, Eliza foi levada à força do Rio de Janeiro para um sítio do goleiro, em Esmeraldas (MG), onde foi mantida em cárcere privado. Depois, a vítima foi entregue para o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que a asfixiou e desapareceu com o corpo, nunca encontrado. Para a Justiça, a ex-amante do jogador foi morta em 10 junho de 2010, em Vespasiano, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A certidão de óbito foi emitida por determinação judicial.

O bebê Bruninho, que foi achado com desconhecidos em Ribeirão das Neves (MG), hoje vive com a avó em Mato Grosso do Sul. Um exame de DNA comprovou a paternidade.

23.nov.2012 -  Luis Henrique Ferreira Romão - o Macarrão - nos momentos que antecedem o sessão no plenário do Fórum de Contagem (Foto: Maurício Vieira / G1)Em novembro, Macarrão foi condenado por ter
participado do crime. (Foto: Maurício Vieira / G1)

Acusados e condenados
A Promotoria afirma que, além de Bruno, mais oito pessoas tiveram participação nos crimes. Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, amigo de Bruno, e Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, foram condenados em júri popular realizado em novembro de 2012.

No dia 22 de abril, Bola será julgado. Em 15 de maio, enfrentarão júri Elenílson Vitor da Silva, caseiro do sítio, e Wemerson Marques de Souza, amigo de Bruno. Sérgio Rosa Sales, primo de Bruno, foi morto a tiros em agosto de 2012. Outro suspeito, Flávio Caetano Araújo, que chegou a ser indiciado, foi absolvido (saiba quem são os réus).

Jorge Luiz Rosa, outro primo do goleiro, era adolescente à época do crime. Cumpriu medida socioeducativa por crimes similares a homicídio e sequestro. Atualmente tem 19 anos e é considerado testemunha-chave do caso.

Investigações
A polícia encerrou o inquérito com base em laudos que atestam a presença de sangue de Eliza em um carro de Bruno, nos depoimentos de dois primos que incriminam o goleiro, em sinais de antena de celular e multas de trânsito que mostram a viagem do grupo do Rio de Janeiro até Minas Gerais e em conversas de Eliza com amigos pela internet, nas quais ela relata o medo que sentia.

Eliza também havia prestado queixa contra o atleta quando ainda estava grávida, dizendo que ele a forçou, armado, a tomar abortivos. Ela ainda deixou um vídeo dizendo que poderia aparecer morta se não tivesse proteção.

Apesar de os primos de Bruno terem alterado as versões, os depoimentos devem ser usados pela acusação no júri. Jorge Luiz Rosa, adolescente à época, foi o primeiro a delatar Bruno, confessando ter ajudado o goleiro a levar Eliza ao sítio. Ele contou que a vítima foi entregue a Bola e que ele presenciou a morte. Dias depois, negou tudo. O jovem, hoje com 19 anos, voltou a falar em entrevista ao "Fantástico" (veja o vídeo ao lado). Ele disse que não tinha como Bruno não saber que Eliza seria morta.

O outro primo, Sérgio Rosa Sales, ajudou na reconstituição do crime, mas foi morto com seis tiros, em agosto deste ano. Ele também chegou a desmentir as acusações contra o goleiro, mas, em uma carta enviada por ele aos pais, incluída no inquérito, relatou ter sofrido ameaça de outros advogados para alterar o depoimento. À época, o advogado de Bruno, Francisco Simim, negou qualquer pressão.

 Novo suspeito
Um policial civil aposentado pode ser incluído na lista de envolvidos no crime. Esse novo personagem teria agido junto com os amigos do jogador, segundo informou o Ministério Público de Minas Gerais em reportagem exibida no domingo (3) pelo "Fantástico" (assista à reportagem no vídeo ao lado).

De acordo com o MP, o policial aposentado José Lauriano de Assis Filho, conhecido como Zezé, teria se encontrado com Macarrão no motel em Contagem (MG) onde estavam Eliza e o filho. As investigações apontam uma intensa troca de telefonemas entre os dois, antes e depois da morte da jovem. A promotoria afirma que vai denunciar o policial.

"O Ministério Público tem convicção da participação do Zezé. Ele pode ser responsabilizado pelo homicídio, pelo sequestro de Eliza e de sua criança e também pela ocultação do cadáver da moça", afirmou o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro.

 

 

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