O júri popular do caso Eliza Samudio encerrou, na tarde desta quarta-feira (21), a fase dos depoimentos de testemunhas de acusação e de defesa. Foram ouvidas ao longo da sessão duas pessoas: Sônia Fátima de Moura, mãe de Eliza Samudio, e Marcos Vinícius Borges, amigo de infância de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão.
A pedido da advogada de Fernanda Castro, também foram exibidos depoimentos em vídeo de José Roberto, caseiro do sítio do goleiro Bruno em Esmeraldas (MG), e de Gilda Maria Alvez, mulher dele. Os depoimentos dos caseiros são exibidos em vídeo porque ambos foram arrolados como testemunha, mas não foram encontrados para comparecer ao júri em Contagem (MG). As imagens mostram depoimentos de testemunhas de defesa ouvidas pela Justiça em 2010, durante a chamada audiência de instrução.
Finalizados depoimentos de testemunhas, o júri passa a ouvir os dois réus que ainda estão sendo julgados: Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, e Fernanda Castro, namorada de Bruno à época dos fatos. Os acusados têm o direito de permanecer em silêncio quando questionados por juiz, promotor e advogados, sem que isso seja considerado confissão.
Antes, de acordo com o promotor Henry Castro, serão exibidos por cerca de 1 hora e 40 minutos vídeos de reportagens sobre o caso Eliza Samudio.
Macarrão é acusado do homicídio triplamente qualificado de Eliza Samudio, sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver. Fernanda é acusada de sequestro e cárcere privado de Eliza e do filho que a ex-amante tinha com o goleiro, Bruninho.
Mauricio de Souza/Hoje em Dia/Estadão Conteúdo)
Terminada a chamada fase de instrução, em que as provas são apresentadas, começam os debates com argumentos da acusação e da defesa para tentar convencer os jurados de que os réus são culpados ou inocentes. O primeiro a falar será o promotor. Em seguida, cada um dos defensores poderá falar. Concluídos os debates, o júri se reúne em uma sala secreta para decidir sobre o caso. (Entenda como funciona o júri popular.)
Júri de Bruno é adiado
Pela manhã, o julgamento de Bruno Fernandes foi desmembrado e adiado para 4 de março de 2013, segundo decisão da juíza Marixa Fabiane. O goleiro foi retirado do plenário para ser levado novamente para a penitenciária Nelson Hungria. Inicialmente, a juíza havia anunciado que o novo júri ocorreria em janeiro, mas depois ela afirmou que é difícil conseguir jurados para compor o Conselho de Sentença no início do ano e que fevereiro tem poucos dias, em razão do Carnaval.
O adiamento foi concedido pela juíza a pedido da defesa de Bruno. O advogado Francisco Simim, que defendia o goleiro, apresentou um documento transferindo seus poderes a outro defensor, Lúcio Adolfo. Chamado de substabelecimento sem reserva de poderes, o documento pediu a substituição de Simim por Adolfo, que alegou não conhecer o processo para pedir o adiamento.
O corpo de defesa afirmou logo no início da sessão, por volta de 9h40, que o novo defensor precisa de prazo para ler o texto da ação. "Eu preciso de mais tempo para estudar esse processo", disse Adolfo no plenário.
Na terça-feira (20), o goleiro Bruno já havia tentado adiar o júri, com um pedido de destituição de seus advogados Rui Pimenta e Francisco Simim. A juíza Marixa aceitou o pedido de saída de Pimenta, após o jogador alegar que não se sentia seguro para continuar com ele, e negou o de Simim.
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A juíza afirmou que "não obstante haver claras evidências de manobra, por outro lado também é verdade que o documento que foi apresentado a mim foi de substabelecimento", justificando sua decisão. "Estou acolhendo o pedido da defesa para conceder ao advogado prazo para o conhecimento do processo".
Estratégia, sim
Segundo Simim, a mudança, que implicou no adiamento do júri do goleiro, foi uma estratégia. “É estratégia sim, porque a gente precisava de mais tempo para estudar o processo”, disse o advogado.
Na opinião de Simim, o desmembramento valeu para “ganhar prazo, porque tem um habeas corpus para ser julgado”, se referindo ao pedido de soltura impetrado pela defesa do goleiro no Supremo Tribunal Federal (STF), e ainda não julgado. Segundo ele, o novo defensor será o único representante de Bruno no plenário, a partir de hoje. Mas, nos bastidores, Simim disse que toda a equipe continua trabalhando pela defesa do goleiro.
Depoimento em vídeo
A pedido da advogada Carla Silene, que defende Fernanda Castro, foram exibidos ao júri depoimentos em vídeo de José Roberto, caseiro do sítio do goleiro Bruno em Esmeraldas (MG), e de Gilda Maria Alvez, mulher dele.
José Roberto disse que viu Eliza Samudio no sítio, mas que não achou estranho ela ter desaparecido depois de 10 de junho, dia que a polícia acredita ser o da morte da ex-amante de Bruno. O caseiro disse que só soube que a mulher vista no sítio era Eliza na delegacia. Ele negou que Eliza tenha ficado "trancafiada num cômodo" e disse que ela não tinha "cara de assustada". "Estava normal", afirmou no vídeo. José Roberto também disse que não conhece Bola.
e advogados na parte direita (Foto: Leo Aragão/G1)
A mulher dele, Gilda Maria Alvez, disse no vídeo que não houve brigas no sítio nos dias em que Eliza esteve no local. Ela afirmou que viu Eliza no sítio pela primeira vez na manhã de 7 de junho de 2010 e que, antes, nunca tinha ouvido falar dela.
Depois do dia 10 de junho, a caseira disse que chegou a ver o bebê Bruninho no sítio, levado por uma mulher. Depois, afirmou que viu a criança com outras pessoas, inclusive com Dayanne, ex-mulher de Bruno. Ela disse ainda que um dia o bebê ficou com ela e dormiu fora da casa do sítio.
No depoimento exibido no júri, ela conta que mentiu para a polícia quando disse não ter visto Eliza no sítio por medo. "Ainda tô com medo de fazerem coisa ruim com a gente igual com essa moça que tá desaparecida", afirmou. A caseira disse que viu Bruno e Macarrão pela última vez no sítio no dia 10 de junho de 2010.
'Ciúmes de Macarrão'
A testemunha de defesa Marcos Vinícius Borges, amigo de infância de Macarrão, disse ao júri que os primos de Bruno, Jorge Luiz Rosa e Sérgio Rosa Sales, tinham ciúmes da relação entre o réu e o jogador. A relação entre os dois era de amizade, mas Macarrão estava mais próximo de Bruno do que os primos, ressaltou a testemunha. Borges disse que o amigo era "como um irmão" para o goleiro, durante seu depoimento. Macarrão faria "tudo que ele [o goleiro] precisasse", disse Borges.
O amigo de infância de Macarrão negou que ele fosse homossexual. Segundo Borges, um fato que o fez acreditar no ciúme dos primos foi quando Sérgio Rosa Sales disse a Macarrão para "não voltar a trabalhar com Bruno", após o réu ter deixado de ser funcionário do goleiro. O depoimento foi encerrado por volta de 13h40.
sobre o crime com a filha (Foto: Pedro Triginelli/G1)
Mãe de Eliza
A mãe de Eliza Samudio, Sônia Fátima de Moura, disse em depoimento durante o júri que "não perdoaria" Bruno caso ele seja responsável pela morte de sua filha. Sônia depôs aproximadamente até 12h30 no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, chorando muito.
Ela disse que Eliza jamais abandonaria o filho, Bruninho. "Ela [Eliza] sempre falava para mim em relação a um filho. Ela disse para mim que mataria e morreria pelo filho dele, mas que ela jamais deixaria o filho para trás", disse.
A mãe disse sustentar Bruninho com a ajuda do marido e de familiares, porque está há dois anos e nove meses sem trabalho. "Sempre houve resistência [do goleiro] em reconhecer a paternidade da criança", afirmou ela ao promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro, ao ser questionada sobre decisão da Justiça que declarou Bruno o pai da criança.
O relacionamento da família de Eliza com Bruninho é o "melhor possível", disse Sônia. Ela relatou que não teve contato telefônico com a filha, que é ex-amante do goleiro, por oito meses, e que soube de notícias de Eliza por meio de suas redes sociais na internet. "Todas as amizades dela eram duradouras, ela era muito querida", disse a mãe, após chorar. "Eliza era muito calma, não era explosiva", ressaltou.
O julgamento
Dois réus enfrentam júri popular por cárcere privado e morte da ex-amante do jogador, Eliza Samudio, em crime ocorrido em 2010. A Promotoria acusa o jogador, que era titular do Flamengo, de ter arquitetado o crime para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia.
O júri, presidido pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, teve início com cinco acusados, mas segue apenas com Macarrão e Fernanda no banco dos réus. O goleiro Bruno, sua ex-mulher Dayanne Rodrigues e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, tiveram o júri desmembrado pela juíza Marixa e serão julgados em março de 2013.
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