22/11/2012 14h19 - Atualizado em 22/11/2012 15h11

Para Quaresma, versão de Macarrão livra Bola de ser 'o algoz de Eliza'

Advogado do ex-policial esteve no Fórum de Contagem nesta quinta (22).
Bola está preso e aguarda julgamento, marcado para março.

Cristina Moreno de Castro e Pedro TriginelliDo G1 MG

22.nov.2012 - Ércio Quaresma fala sobre situação de Bola depois do interrogatório de Macarrão. Para ele, as declarações inocentam seu cliente (Foto: Pedro Triginelli/G1)Ércio Quaresma fala sobre situação de Bola após
interrogatório de Macarrão (Foto: Pedro Triginelli/G1)

O advogado Ércio Quaresma, que defende Marcos Aparecidos dos Santos, o Bola, disse na porta do Fórum de Contagem, no início da tarde desta quinta-feira (22), que as declarações de Macarrão durante o interrogatório não têm vínculo com seu cliente. Segundo o defensor, o depoimento do amigo de Bruno “estanca a possibilidade de Bola ser o algoz de Eliza Samudio". O defensor argumenta que Macarrão afirmou em depoimento que não entregou a ex-amante do goleiro que Bola. "Marcos não tem nada a ver com este fato", reforçou.

Quaresma se esquivou quando foi perguntado sobre qual influência o depoimento de Macarrão poderia ter na defesa do goleiro. “Meu cliente hoje é o Marcos Aparecido dos Santos”, respondeu secamente. O advogado também já defendeu Bruno na fase de inquérito e deixou de representá-lo em novembro de 2010. Segundo Quaresma, Bruno nunca havia falado da versão dada em depoimento por Macarrão. 

"Se tiver um pouco de respeito ao trato das provas vai se verificar que, durante o suposto homicídio, o Bola estava conversando com outras pessoas. Ele falou ao telefone concomitamente à morte", argumentou o advogado. Quaresmo criticou a atitude da juíza em prolongar a última sessão, quer terminou por volta das 4h. "Não seria mais humano esperar de manhã cedo e hoje, com tranquilidade, interrogar Macarrão", disse. 

Durante o interrogatório, Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, afirmou que levou de carro a ex-amante do jogador até um local indicado pelo goleiro, em Belo Horizonte, e que lá a jovem entrou em um Palio preto. "Ele ia levar ela para morrer", afirmou sobre a ordem recebida.

Ele disse à juíza que não sabia o que iria acontecer com Eliza, mas que "pressentia" que a jovem seria morta. Macarrão afirmou ainda que alertou Bruno sobre o que podia acontecer, mas que o goleiro pediu para ele largar "de ser bundão". "Falou que era para deixar com ele", disse o réu antes de começar a chorar no plenário.

'Delito está esclarecido'
Na saída do Tribunal do Júri de Contagem, na madrugada desta quinta-feira (22), o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro falou sobre o interrogatório de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, que durou cerca de cinco horas. Ele disse que, apesar de a fala do réu ter sido permeada por uma confissão parcial de participação no desaparecimento de Eliza Samudio, a acusação acredita que o “delito está esclarecido”. Segundo ele, "um dos corréus [Macarrão] atribui diretamente o mando deste assassinato ao ex-goleiro Bruno".“Pela primeira vez, nos temos entre os acusados que permanecem vivos, a imputação deste assassinato ao Bruno”, disse.

Segundo Castro, Macarrão “não se mostrou tão sincero” por não ter contado todos os detalhes de sua participação no crime. Durante o interrogatório, o réu narrou à juíza que teria entregue Eliza a uma pessoa, na Região da Pampulha, não confirmando a versão sustentada pela Promotoria de que Eliza foi morta por Bola em Vespasiano. O promotor afirmou, porém, que as lacunas deixadas por Macarrão em seu interrogatório já haviam sido esclarecidas anteriormente por Jorge Luiz Lisboa Rosa, primo de Bruno Fernandes, menor à época do crime.

Henry Wagner também afirmou que a acusação insistiu para que Macarrão fosse ouvido ainda no terceiro dia de júri, pois temia que, ao voltar para a Penitenciária Nelson Hungria, o réu sofresse alguma pressão e desistisse da confissão.

O promotor disse também que, pelas declarações no plenário, Macarrão se colocaria no homicídio apenas “como um partícipe”. Entretanto, segundo o promotor, Luiz Henrique é um “autêntico coautor” do crime.

Macarrão não teria citado o envolvimento do ex-policial Marcos Aparecido do Santos, o Bola, por medo, conforme o promotor. “É claro que Luiz Henrique Romão tem medo de ser assassinado pelo acusado Bola".

Questionado sobre o corpo de Eliza Samudio, Henry Wganer foi enfático. “O corpo de Eliza Silva Samudio foi destruído. O corpo de Eliza Silva Samudio foi segmentado; quero dizer que Eliza foi esquartejada, que ela foi fracionada. E esses pedaços foram, provavelmente, espalhados, dissipados. Nós estamos tratando de um assassino, executor, destruidor de cadáveres”, disse o promotor. Segundo ele, não é possível chegar até o os restos mortais da vítima.
 

Acordo
O advogado José Arteiro Cavalcante Lima, que representa a mãe de Eliza Samudio, disse nesta quarta-feira (21) ter fechado um acordo com o réu Luiz Henrique Ferreira Romão, de apelido Macarrão. "O Macarrão vai confessar tudo, a parte dele, do Bruno e do Bola", disse. O defensor atua como assistente de acusação no júri popular sobre o desaparecimento e morte da ex-amante do goleiro Bruno Fernandes. Lima afirmou que, em troca, ofereceu proteção para Macarrão e redução de pena. "Para ele vai ser muito bom", disse o advogado.

O júri popular do caso Eliza Samudio começou nesta segunda-feira (19) com cinco réus no Fórum de Contagem, mas três deles vão a júri posteriormente, após a juíza determinar desmembramento: o goleiro Bruno Fernandes, a ex-mulher do goleiro, Dayanne Rodrigues, e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. A sessão está prevista para março de 2013. Os réus Fernanda Gomes de Castro, ex-namorada do atleta, e Macarrão, continuam sendo julgados.

Perguntado por jornalistas sobre o assunto da longa conversa que teve com Macarrão dentro do tribunal, Lima respondeu que não tem nada para esconder. "Na verdade, eu fiz uma proposta pra ele [Macarrão], porque ele foi abandonado. Essas alturas o Bruno tá aí com 50 advogados e ele só está com um. A proposta é que ele abra a bronca toda, fala onde é que tá o corpo, sobre o Bruno, que o Bruno tem a participação, foi o Bruno que mandou”, disse.

Lima ainda assegurou que Macarrão não agiu sozinho. "Não quero ver o Macarrão preso numa coisa que ele não mandou fazer, entendeu. Que ele foi apenas, como disse ele, o jagunço", afirmou. O assistente de acusação explicou que propôs ajuda para que Macarrão não corra nenhum tipo de risco e disse que vai “requerer da Justiça que dê proteção” ao preso. Macarrão está detido na Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele é julgado por homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver.

Para ler mais sobre o Caso Eliza Samudio, clique em g1.globo.com/minas-gerais/julgamento-do-caso-eliza-samudio/. Siga também o julgamento no Twitter e por RSS.

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