(Foto: Cristina Moreno de Castro/G1)
O promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro disse, no fim da tarde desta quinta-feira (22), que a ex-namorada de Bruno, Fernanda Gomes de Castro, mentiu durante seu interrogatório, no júri popular pelo desaparecimento e morte de Eliza Samudio. Ele ainda disse que os depoimentos dela e de Luiz Henrique Romão, o Macarrão, apresentaram algumas contradições. Mas o promotor afirmou que só vai revelar esses pontos durante a apresentação de seu argumento na fase de debates, que será nesta sexta-feira (23).
“Fernanda mentiu durante depoimento, quando afirmou que Macarrão teria tido a iniciativa de chamá-la para que ela fosse à casa do Bruno no Recreio dos Bandeirantes para cuidar do filho de Eliza. Ela mesmo teve a iniciativa de realizar, pelo menos, duas ligações telefônicas para o celular de Jorge Luiz [primo de Bruno, que era adolescente à época do crime]”, descreveu o promotor.
Henry Wagner ainda afirmou que tanto Macarrão quanto Fernanda sabiam que Eliza iria morrer. “Os dois sabiam que Eliza ia morrer. (...) Tanto é que ela [Fernanda] cobriu o rosto para não ser reconhecida por Eliza, quando chegou à casa do Recreio dos Bandeirantes, conforme depoimento de Jorge Luiz. E em Ribeirão das Neves, Fernanda não cobriu mais o rosto. Certamente já saberia que Eliza não sairia daquela situação, que não sairia viva”, completou.
O promotor alegou ainda que a agressão que Eliza sofreu dentro do carro do Bruno a impediu que cuidar de Bruninho, que foi cuidado por Fernanda. “Dona Fernanda Gomes de Castro diz que teria cuidado do bebê de Eliza durante a noite. Eliza estava em tal grau machucada que não teria condições de cuidar do filho, se embarcarmos na versão da ré. A Eliza não abandonaria seu filho, que estava em poder de Fernanda, que era uma desconhecida e uma rival amorosa”, contou.
Henry Wagner ainda disse que a versão dos fatos contada por Fernanda foi orientada de forma a proteger outros réus. “Fernanda tentou proteger a todo o grupo, em não somente a si. E ela foi orientada, assim como todos os outros [réus] foram orientados a mentir. E sabemos qual foi o advogado que a orientou. O mesmo que é amigo do réu Marcos Aparecido dos Santos há 20 anos. Ércio Quaresma”.
Procurado pelo G1, o advogado Ércio Quaresma nega as acusações do promotor. "Cai de paraquedas em Contagem e, na falta de argumento no júri, começa a desenhar uma série de ações infundadas”. Quaresma diz que pode colocar à disposição da Justiça seu sigilo telefônico. O defensor de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, criticou Henry Wagner. "Quando falta capacidade, aflora a nervosia. Quando você não tem argumento vem, desculpe a expressão, o excremento no verbo, na idéia, na postura."
Ércio Quaresma acrescentou que já defendeu todos os réus, mas que atualmente não mantém contato com eles. Segundo o criminalista, a última vez em que esteve com Macarrão foi no ano passado, pois o ex-defensor do acusado, Wasley Vasconcelos, teria sondado a possibilidade de Quaresma defender o amigo do goleiro Bruno. Entretanto, ele disse que durante o júri, Luiz Henrique Romão “mal mal” o cumprimentou.
Interrogatório de Fernanda
A ex-namorada do goleiro Bruno Fernandes, Fernanda Gomes de Castro, confirmou nesta quinta-feira (22) boa parte do depoimento dado na madrugada por Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, durante julgamento que está sendo realizado no Fórum de Contagem, em Minas Gerais. Ambos são réus no caso do cárcere privado e desaparecimento de Eliza Samudio, ex-amante do goleiro. A sessão do júri foi encerrada por volta de 17h50.
Fernanda, que se disse inocente das acusações de sequestro e cárcere privado de Eliza e de Bruninho, filho da ex-amante com o goleiro, confirmou que Macarrão usou seu carro, um Gol, por cerca de 20 minutos. Macarrão afirmou em seu depoimento ter levado Eliza de carro até um local indicado pelo goleiro, em Belo Horizonte, onde a ex-amante entrou em um Palio, no início de junho de 2010. "Ele ia levar ela para morrer", disse o réu Macarrão, em depoimento que durou até cerca de 4h desta quinta-feira.
Interrogada durante o julgamento, Fernanda ressaltou que não desconfiou do destino trágico que Eliza teria, "pela calma que ela apresentava" durante o tempo que esteve em Minas. "Só tive conhecimento verdadeiro de que a Eliza foi executada ontem pelas declarações de Luiz Henrique [Macarrão]", afirmou ela, em seu depoimento.
Questionada pela juíza Marixa Fabiane sobre como soube das declarações de Macarrão, Fernanda disse ter sido informada pela imprensa. Ela afirmou que chegou a mentir em seu primeiro depoimento à polícia, mas que depois voltou atrás e pediu desculpas aos delegados. "Estava com medo", ressaltou.
Boato interrompe júri
Um boato divulgado nesta quinta-feira afirmou que o goleiro Bruno teria tentado suícidio dentro da Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, Minas Gerais, mesma cidade em que o júri do caso Eliza está sendo realizado.
A notícia falsa causou tensão no fórum, onde o júri chegou a ser interrompido por cerca de 20 minutos pela juíza Marixa Fabiane. Ela dispensou os jurados por alguns minutos, por volta de 16h10, e disse a todos no tribunal se manterem em silêncio sobre qualquer notícia ou informação, por já saberem do que se tratava, referindo-se ao boato.
A sessão já havia sido retomada às 16h45 desta quinta-feira.
O boato foi desmentido pela Secretaria de Defesa Social de Minas Gerais. Segundo a secretaria, o diretor-geral do presídio, Luiz Carlos Danunzio, confirmou que Bruno está bem. A secretaria disse que Danunzio chegou a ir até o pavilhão onde o atleta está para verificar seu estado de saúde. A tensão ocorreu durante o depoimento da ex-namorada do goleiro, Fernanda Gomes de Castro.
Do lado de fora do tribunal, o falso boato também causou confusão. Jornalistas cercaram o advogado Lúcio Adolfo, defensor do goleiro Bruno, para saber informações sobre o caso. Ele seguiu para trás de um portão fechado, na entrada do fórum, protegido por policiais militares.
Agressão
Durante o interrogatório, Fernanda disse ter sido informada por Macarrão que a ex-amante de Bruno havia sido agredida pelo primo do goleiro, Jorge Luiz Rosa, num momento anterior ao episódio do carro. O depoimento confirma a versão do amigo de Bruno sobre o episódio. "Ele [Macarrão] e Jorge foram encontrar com Eliza para negociar uma dívida. Ele disse que houve uma briga no carro entre Jorge e Eliza por causa de algo que Eliza teria dito algo sobre o jogador que não agradou Jorge", disse.
A ex-namorada afirmou, ainda, que ficou com o bebê de Eliza por alguns momentos e que chegou a fazer mamadeira para ele, durante o período que coincide com o cárcere privado investigado pelo Ministério Público. "Fiz a mamadeira e troquei a fralda e a criança parou de chorar. Depois disso, subi para o o quarto de Bruno e ele dormiu. Neste momento, não vi a Eliza. Tive vontade de falar com a Eliza, mas fiquei com medo de ela falar meu nome para a mídia", disse. O episódio ocorreu antes do desaparecimento da ex-amante, segundo Fernanda, que ressaltou que Eliza agradeceu por ela ter cuidado da criança.
julgamento em Contagem (Foto: Leo Aragão/G1)
Quarto dia de julgamento
O quarto dia do júri do caso Eliza Samudio no Fórum de Contagem começou por volta das 14h30 desta quinta-feira com o depoimento da ré Fernanda. Ela e Bruno foram namorados na época em que Eliza desapareceu, em junho de 2010.
No processo, Macarrão é acusado de homicídio triplamente qualificado contra Eliza, sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver. Já a ex-namorada de Bruno é acusada de sequestro e cárcere privado de Eliza e de Bruninho. Ambos negam.
Terminado o depoimento de Fernanda na chamada fase de instrução, em que as provas são apresentadas, terão início os debates, com apresentação de argumentos de acusação e defesa para tentar convencer os jurados.
Bruno ficou 'decepcionado'
O advogado do goleiro Bruno, Lúcio Adolfo, disse que o atleta ficou "decepcionado" ao saber nesta quinta (22) das declarações dadas pelo réu Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, no julgamento do caso Eliza.
Macarrão afirmou, em depoimento à juíza Marixa Fabiane, que à época do caso, ocorrido em junho de 2010, levou a ex-amante do jogador de carro até um local indicado pelo goleiro, em Belo Horizonte, onde a jovem entrou em um Palio. "Ele [Bruno] ia levar ela para morrer", disse.
O defensor, junto com os advogados Francisco Simim e Tiago Lenoir, foi à Penitenciária Nelson Hungria, em Contagem, por volta de 11h30 contar a Bruno sobre o interrogatório de Macarrão, que terminou na madrugada desta quinta. "[Ele] reagiu com tristeza, mas entendeu que Macarrão está pressionado", disse. Adolfo reforçou que o goleiro não chorou, mas "ficou chateado, decepcionado, pela amizade que existia entre os dois".
Macarrão relatou à juíza que não sabia o que iria acontecer com Eliza, mas que "pressentia" que a jovem seria morta. Ele afirmou ainda que alertou Bruno sobre o que podia acontecer, mas que o goleiro pediu para ele largar "de ser bundão". "Falou que era para deixar com ele", disse o réu antes de começar a chorar no plenário.
Em entrevista, o advogado Adolfo disse que quer incluir Macarrão como testemunha quando for realizado o novo julgamento do goleiro Bruno, no dia 4 de março de 2013. Ele cogita, inclusive, pedir uma acareação entre os dois.
"A situação de ontem foi atípica, pois o Arteiro [advogado de acusação] ficou em cima do Macarrão", disse Simim, também defensor do goleiro.
(Foto: Maurício Vieira/G1)
'Não sou esse monstro'
Antes de falar ao júri, na madrugada de quinta-feira, Macarrão ouviu a leitura da denúncia contra ele e disse para juíza Marixa que a acusação "em partes é verdade". Ele disse não ter falado, em depoimentos anteriores, tudo que sabia sobre Eliza. "Quero deixar bem claro para a senhora que eu não sou esse monstro que as pessoas colocaram", disse Macarrão. "E hoje eu vou falar tudo que a senhora queira ouvir da minha boca e colaborar com a verdade dos fatos".
Macarrão disse que Bruno conheceu Eliza Samudio durante uma "orgia" e que, tempos depois, o goleiro contou que achava que a jovem estava grávida. O réu afirmou que não levou Bruno a sério, mas que o goleiro iria encontrar Eliza para conversar. Meses mais tarde, o atleta retomou o assunto e confirmou que "a garota estava grávida mesmo".
O réu disse que Bruno estava estranho ao telefone, no dia 10 de junho de 2010, e que o jogador pediu que ele levasse Eliza Samudio até um ponto da Pampulha, onde teria uma pessoa esperando por ela. "Ele falou que ia...", começou a contar. "Antes de dizer o que ele ia fazer, eu quero dizer que eu disse pra ele deixar aquela menina em paz".
Mais tarde, questionado se estava mais aliviado por contar o que aconteceu, Macarrão respondeu: "Eu guardei tudo isso. Eu não aguentava mais, eu não sou esse monstro que todo mundo colocou [...] Se tem alguém aqui que acabou com a vida, foi ele [Bruno] que acabou com a minha vida".
"Graças a Deus eu tirei esse fardo carregado há dois anos das minhas costas. Eu não quis prejudicar ninguém nesse processo", disse Macarrão ao final do interrogatório. "Eu ponho a cabeça no travesseiro tranquilo de que eu fiz tudo para evitar isso [...] Eu não participei".
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Júri de Bruno é adiado
Na manhã de quarta-feira, o julgamento de Bruno Fernandes foi desmembrado e adiado para 4 de março de 2013, segundo decisão da juíza Marixa. O goleiro foi retirado do plenário para ser levado novamente para a penitenciária Nelson Hungria. Inicialmente, a magistrada havia anunciado que o novo júri ocorreria em janeiro, mas depois ela afirmou que é difícil conseguir jurados para compor o Conselho de Sentença no início do ano e que fevereiro tem poucos dias, em razão do Carnaval.
O adiamento foi concedido pela juíza a pedido da defesa de Bruno. O advogado Francisco Simim, que defendia o goleiro, apresentou um documento transferindo seus poderes a outro defensor, Lúcio Adolfo. Chamado de substabelecimento sem reserva de poderes, o documento pediu a substituição de Simim por Adolfo, que alegou não conhecer o processo para pedir o adiamento.
Na terça-feira (20), o goleiro Bruno já havia tentado adiar o júri, com um pedido de destituição de seus advogados Rui Pimenta e Francisco Simim. A juíza Marixa aceitou o pedido de saída de Pimenta, após o jogador alegar que não se sentia seguro para continuar com ele, e negou o de Simim.
A juíza afirmou que "não obstante haver claras evidências de manobra, por outro lado também é verdade que o documento que foi apresentado a mim foi de substabelecimento", justificando sua decisão. "Estou acolhendo o pedido da defesa para conceder ao advogado prazo para o conhecimento do processo".
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