20/11/2012 21h19 - Atualizado em 21/11/2012 14h15

Apaguei 'para não causar polêmica', diz defensor de Bruno sobre posts

Tiago Lenoir assumiu nesta terça a defesa do goleiro no caso Eliza.
Na segunda, seu perfil no Twitter havia apostado na condenação de Bruno.

Rosanne D'AgostinoDo G1, em Contagem (MG)

perfil_cerveja_bruno_advogado_620 (Foto: Reprodução/Twitter)Reprodução de perfil no Twitter traz diálogo com aposta na condenação de Bruno  (Foto: Reprodução/Twitter)

O novo advogado do goleiro Bruno, Tiago Lenoir, explicou a jornalistas nesta terça-feira (20), após o fim da sessão, o motivo de ter apagado postagens sobre o júri do caso Eliza Samúdio do seu perfil no Twitter: "Para não causar polêmica". Em post publicado na segunda (19) em perfil com o nome de Tiago Lenoir (@_tiagolenoir), o dono da conta aposta uma caixa de cerveja que o atleta será condenado: "...mas na pratica a defesa vai continuar falando asneiras e o Bruno será condenado a mais de 38 anos. Aposto uma cx de cerveja".

No início da tarde, Tiago Lenoir foi anunciado como novo advogado de Bruno, no julgamento que começou na segunda em Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. Ele assumiu a defesa após Rui Pimenta ser destituído.

Novo advogado do goleiro Bruno, Tiago Lenoir fala na saída do Fórum (Foto: Cristina Moreno de Castro/G1)Novo advogado do goleiro Bruno, Tiago Lenoir fala
no Fórum (Foto: Cristina Moreno de Castro/G1)

Lenoir afirmou que, quando fez as postagens, ainda não era advogado de Bruno. "Eu não sou advogado que causa polêmica. Eu não era advogado dele. Minha intenção não era causar polêmica como minha intenção não é causar polêmica hoje", disse aos jornalistas. Perguntado se as postagens poderiam prejudicar a defesa, ele respondeu: "Acho que não. Os jurados vão julgar com a prova dos autos".

Questionado se iria perder a caixa de cerveja, o advogado riu e não respondeu.

O G1 acessou o perfil com o nome Tiago Lenoir por volta das 14h50 desta terça. Depois disso, muitos dos posts mais recentes foram apagados, incluindo o que apostava a caixa de cerveja na condenação de Bruno. "O meu comentário foi um comentário de quem estava analisando de forma ampla, tá certo, a gente analisa o processo em todas as suas hipóteses", respondeu ao ser perguntado se havia deletado os posts do Twitter.

Além do post em que aposta a caixa de cerveja, o perfil trazia comentário de que Bruno e Macarrão deveriam confessar que mataram Eliza: "O Bruno e Macarrão deveriam confessar o crime de homicídio e negar a ocultação de cadáver e sequestro. Dai pega 6 anos e volta a jogar bola", dizia um post.

Ao ser perguntado se o comentário foi feito com convicção, Lenoir disse: "O júri a gente tem que analisar todas as questões".

Ao final da sessão de hoje, o advogado falou sobre a estratégia de defesa. "A questão é a seguinte: a gente está na defesa do processo de forma técnica e ampla. Eu acho manifestamente contrário à prova dos autos a acusação contra o Bruno. O que é manifestamente contrário à prova dos autos? O Bruno responder por ocultação de cadáver, por homicídio qualificado. Por quê? Porque se não tem prova sequer da autoria e materialidade do crime de homicídio, como afirmar que o Bruno cometeu um crime qualificado? Tá certo?", questionou.

"Esse que é o grande debate. Nós não temos crime a priori de homicídio. Quanto mais de um homicídio qualificado. Tem que ter prova disso tudo. Se a autoria e a materialidade são fraquíssimas", completou o defensor.

Mais cedo, em entrevista em frente ao fórum, Lenoir disse que "está preparado para fazer uma boa defesa para ele". Disse também que trabalha com Francisco Simim, o outro advogado de Bruno, "já há bastante tempo". "Minha entrada no caso não é inovação na defesa, estou apenas reforçando".

Procurado pelo G1, Simim comentou as declarações do perfil de Lenoir no Twitter. "Ontem [segunda], ele disse isso, mas hoje ele está no processo. Todo mundo tem suas opiniões.

Mais posts
Na conta Twitter também há postagem comentando o abandono da defesa de Marcos Aparecido dos Santos, o Bola. "a defesa do Bola deu um tiro no pé com este desmembramento, pois o réu será julgado com os outros dois que possuem provas fracas", dizia o post. Os três advogados dele deixaram o processo, e o réu Bola será julgado em outra data.

Lenoir disse ainda: "Bruno não mandou o bola esconder o corpo. Ele não sabia como ela seria morta. No máximo a qualificadora subjetiva ele comet", dizia o post, sem terminar a última palavra.

Em seu perfil, Lenoir também postou comentário sobre a formação do conselho de sentença do júri, formado por seis mulheres e um homem. "o conselho formado por maioria de mulheres será duro p/ goleiro segurar esta bola !", brincou com um trocadilho.

Troca de advogado
O goleiro Bruno Fernandes de Souza pediu a destituição de seus advogados Rui Pimenta e Francisco Simim durante o segundo dia de julgamento. Logo ao início da sessão, o jogador afirmou que não se sentia seguro para continuar com Rui Pimenta e pediu tempo para achar outro advogado. A juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues, no entanto, lembrou que ele ainda possuía outro defensor, Francisco Simim.

Depois de alguns minutos, o goleiro pediu a palavra novamente e disse à juíza que estava destituindo também Simim, que representa a sua ex-mulher, Dayanne Rodrigues, ré na ação. A magistrada entendeu que o goleiro pretendia adiar seu julgamento e negou a solicitação, mas Bruno negou esse objetivo e alegou que não queria prejudicar a defesa de Dayanne.

O promotor do caso pediu para que Dayanne, que responde à ação em liberdade, tivesse mais tempo para ser defendida por outro advogado. Bruno, réu preso, tem preferência de julgamento. A juíza seguiu este entendimento e determinou que Dayanne seja julgada em outra data, possivelmente junto com Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, que conseguiu o desmembramento do júri.

Rui Pimenta, destituído da defesa por Bruno, disse que foi "pego de surpresa" com a decisão do cliente. "O Bruno agradeceu o trabalho feito, mas disse que queria mudar de estratégia", explicou o advogado, que diz torcer para que ele seja absolvido. "Faço votos que isso [a destituição] seja bom para ele".

O advogado José Arteiro Cavalcante Lima, que defende a família de Eliza Samudio, afirmou que a destituição de Rui Pimenta da defesa de Bruno nesta terça-feira (20) vai favorecer a acusação. "Para gente é maravilhoso, eu acho que o Bruno vai ficar seriamente prejudicado", disse.

O advogado ainda acredita que outras pessoas tiveram influência na atitude do atleta, porém não citou nomes. "Foi uma manobra, tem alguém por trás", afirmou Arteiro. Ele ainda citou que o depoimento de Cleiton Gonçalves, nesta segunda-feira (19), também pode ter influenciado na decisão de destituir a defesa. "Ele achou que o Cleiton teria que defendê-lo, e o Cleiton arrasou com ele ontem", avaliou o advogado.

Multa
A juíza já havia determinado multa aos aos advogados do ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, nesta terça-feira (20). Eles haviam deixado o júri iniciado na segunda-feira (19), atitude que foi considerada "injustificada" pela magistrada.

A multa é de R$ 18.660 para cada um dos defensores, o equivalente a 30 salários mínimos. Somados, eles terão que pagar R$ 55.980 em até 20 dias, de acordo com a decisão da juíza. Os advogados de Bola são três: Ércio Quaresma, Zanone de Oliveira Júnior e Fernando Magalhães.

Os responsáveis pela defesa do ex-policial Bola haviam deixado o júri por discordarem do limite de 20 minutos estipulado pela juíza Marixa para cada defesa apresentar seus argumentos preliminares. "A defesa não vai continuar nos trabalhos, nós não vamos nos subjugar à aberração jurídica de impor limites onde não há", disse Quaresma.

O abandono ocorreu "sem haver razão juridicamente relevante", segundo a juíza. "Esse tipo de conduta causa grande prejuízo ao estado e à sociedade que implica em gasto de dinheiro público", afirmou ela, durante o julgamento.

O fato será comunicado à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), que deve avaliar a conduta dos defensores, ainda de acordo com a magistrada.

O segundo dia de julgamento deve prosseguir com os depoimentos das testemunhas de acusação. Na segunda-feira (19), o ex-motorista do goleiro Bruno, Cleiton Gonçalves, foi ouvido no júri. Além do goleiro, outros dois réus - incluindo Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão - estão sendo julgados por cárcere privado e pela morte de Eliza.

Para ler mais sobre o Caso Eliza Samudio, clique em g1.globo.com/minas-gerais/julgamento-do-caso-eliza-samudio/. Siga também o julgamento no Twitter e por RSS.

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