23/11/2012 21h02 - Atualizado em 23/11/2012 21h02

Advogada de ex-namorada de Bruno critica promotor por 'ofensa' à cliente

Ela citou termo 'peguete' usada pela acusação para qualificar Fernanda.
Defesa voltou a negar crimes e pediu que ré seja inocentada por jurados.

Rosanne D'AgostinoDo G1, em Contagem (MG)

Carla Silene, advogada de Fernanda, durante argumentação na fase de debates do júri (Foto: Vagner Antônio/TJMG)Carla Silene, advogada de Fernanda, fala a jurados
durante debates do júri (Foto: Vagner Antônio/TJMG)
Os quatro meses que Fernanda ficou presa, isso não se apaga. Tem um paliativo, que é dar essa moça a absolvição"
Carla Silene, advoga de Fernanda Castro

Ao se pronunciar durante a tréplica da fase de debates do júri popular do caso Eliza Samudio, realizada nesta sexta-feira (23) no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, a advogada Carla Silene, responsável pela defesa de Fernanda Gomes de Castro, namorada do goleiro Bruno Fernandes de Souza à época do desaparecimento de Eliza, disse que o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro ofendeu sua cliente por diversas vezes. Ela pediu que o caso seja levado à Corregedoria do Ministério Público, responsável por avaliar a conduta dos promotores.

"A defesa, com todo respeito ao ser humano, em nenhum momento desqualificou a pessoa da vítima, especialmente respeitando a mãe dela, que se encontra neste plenário", disse Carla Silene.

A advogada também afirmou que a "peguete", como o promotor se referiu à Fernanda durante a sua argumentação, "foi aquela que acreditou na palavra de Bruno quando ele estava separado da mulher".

A defensora dirigiu-se a Castro e pediu para ele não "elevar a voz, e sim elevar os argumentos". Segundo ele, os indícios sobre o crime "serviriam para a fase do inquérito, mas, jamais, para se retirar uma condenação". Em sua primeira fala, Carla Silene disse que não havia provas da participação da então namorada de Bruno no crime.

Segundo a advogada de Fernanda, os depoimentos dos caseiros do sítio demonstram que Eliza não tinha ferimentos e não usava lenço na cabeça. "Que ela estava lá normal, não tinha cara de assustada e aterrorizada". Ela também desqualificou o depoimento de Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno menor de idade à época do crime e que atualmente está em programa de proteção a testemunhas, dizendo que ele não confirmou à Justiça seu depoimento dado à polícia. "Disse que inventou porque prestou seu depoimento sem a presença de um advogado nem de seus pais".

Próximos passos
De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), encerrada a fase de debates entre acusação e defesas, o conselho de sentença se reune para decidir se os réus serão condenados ou absolvidos. A expectativa do TJMG é que a sentença seja proferida pela juíza Marixa Fabiane Lopes Rodrigues ainda nesta sexta, finalizando o julgamento dos dois réus.

Promotor Henry castro, em foto no plenário e em ilustração conversando com jurados (Foto: Maurício Vieira e Leo Aragão/G1)Promotor Henry Castro, acima, em foto, no plenário;
abaixo, em ilustração, conversando com jurados do
caso Eliza (Foto: Maurício Vieira e Leo Aragão/G1)

'Macarrão é protagonista'
Em sua réplica no júri popular do caso Eliza Samudio, feita nesta sexta-feira (23) no Fórum de Contagem, em Minas Gerais, o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro apontou Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, como "protagonista" dos acontecimentos que resultaram na morte de Eliza Samudio, em 2010. Ele citou um depoimento de Sérgio Rosa Sales, primo do goleiro Bruno Fernandes de Souza: "Sérgio, sobre a atuação do Macarrão, apontada por ele como de extrema relevância na divisão de tarefas que foi estipulada [...] Macarrão é colocado como protagonista desses acontecimentos".

Ele rebateu as afirmações de Carla Silene, responsável pela defesa de Fernanda Gomes de Castro, namorada de Bruno na época do desaparecimento de Eliza, de que "Minas Gerais possui a pior polícia investigativa de homicídios do Brasil". Para ele, nenhum réu é levado a júri popular sem "a certeza da realidade do acontecimento" e, nesse caso, "a prova é firme".

Castro mostrou aos jurados álbum de fotografia encontrado por um repórter nas adjacências do sítio de Bruno. "Esse álbum tem fotos de um bebê. De um bebezinho do sexo masculino. Essas fotos foram encontradas idênticas no computador de Eliza", disse o promotor. "Era a foto do bebê dela, que estava na bagagem dela", completou ele, mostrando fotos tiradas do notebook de Eliza e comparando com as fotos queimadas.

O promotor falou sobre a confissão de Macarrão. "O réu dispôs-se a confessar. Mas veja, confessar a seu modo [...] Confessou buscando minimizar a própria responsabilidade, responsabilidade que todavia não se restringe à de mero partícipe. A responsabilidade é de coarticulador desses crimes", disse Castro, ressaltando que a confissão tem papel delineado, "a redução de pena, desde que tenha alguma relevância".

 
Ela chegou lá sabendo qual era sua tarefa. Já no sítio, Fernanda não tinha dúvida do que aconteceria com Eliza"
Promotor Henry de Castro
Macarrão também protagonizou a execução do homicídio de Eliza"
Promotor Henry de Castro

Ele também voltou a pedir a condenação de Fernanda Gomes de Castro, dizendo que ela sabia o que estava sendo planejado quando foi à casa de Bruno. "Ela chegou lá sabendo qual era sua tarefa. Já no sítio, Fernanda não tinha dúvida do que aconteceria com Eliza", disse Castro. "A absolvição de Fernanda é uma injustiça. Não há possibilidade de absolver Fernanda desse sequestro, sem absolver Macarrão do sequestro".

A prova é firme"
Promotor Henry de Castro

Segundo o promotor, Jorge Luiz Rosa, primo de Bruno menor de idade à época do crime e que atualmente está em programa de proteção a testemunhas, ficou sabendo de Macarrão que "o corpo de Eliza foi desossado" na casa de Bola. "O Macarrão também protagonizou a execução do homicídio de Eliza", afirmou. Ele leu o depoimento em que o menor conta que Bola falou para Macarrão amarrar Eliza e que o réu chutou as pernas da vítima enquanto o ex-policial a enforcava com uma gravata.

"Jorge viu uma mão ser jogada aos cães. Eu não acredito que o corpo de Eliza tenha sido atirado aos cães", disse o promotor, considerando que isso era uma forma de Bola amedrontar Macarrão, Sérgio e o primo menor de Bruno.

Promotor apresenta provas
Na primeira rodada de argumentações, Henry Wagner Vasconcelos de Castro apresentou uma série de provas, entre elas registros de telefonemas realizados pelos réus Macarrão e Fernanda; laudo do sangue de Eliza achado no carro do atleta; e depoimentos de Jorge Luiz Rosa e de Sérgio Rosa Sales, primos de Bruno, dados à polícia e que trazem detalhes sobre a morte da ex-amante do goleiro.

De acordo com Castro, as provas mostram os passos de Eliza Samudio até a sua morte, em junho de 2010, desde o Rio de Janeiro até Minas Gerais, para onde ela foi levada. O laudo do sangue de Eliza achado no carro do goleiro Bruno mostra que ela "foi violentada, agredida, subjugada, foi levada ao interior da casa do goleiro no Recreio dos Bandeirantes", no Rio de Janeiro, de acordo com o promotor.

Do Rio, Eliza foi trazida para Minas Gerais, "onde Bruno e sua turma poderiam dar cabo da vida dela com mais facilidade", disse o promotor. Castro afirmou que Eliza foi atraída por uma proposta "hipócrita" do goleiro para a viagem que terminou com sua morte. A ex-amante dizia a amigos que o goleiro a "estava enrolando", relatou o promotor. "Ela passou a realizar insistentemente ligações para o réu", disse.

A Promotoria apresentou aos jurados os registros de telefonemas do celular de Macarrão, amigo de Bruno e também réu no processo. Uma ligação é feita em 4 de junho de 2010, às 20h40, do celular de Macarrão para Eliza. "Era a proposta para que ela fosse ao encontro do goleiro, que estava concentrado [no Flamengo]", disse Castro.

A última ligação feita do celular de Eliza é para Belo Horizonte, cidade para a qual ela foi levada. Depois ela não teve mais acesso o telefone, segundo o promotor. "A partir daí são cinco dias sem uso do celular" até que a ex-amante seja morta, disse Castro.

O promotor destacou a participação de Macarrão na morte de Eliza, dizendo que na noite do crime, ao chegar ao local, Bola deu uma gravata em Eliza e Macarrão chutou as pernas dela, para que ela perdesse o equilíbrio. "Ela ficou com olhos de sangue, segundo o relato do Jorge. A língua foi para fora, ela estremeceu um pouco mais e não se movimentou", disse Castro.

"Eliza não teria sido sequestrada nem morta se não fosse o poder exercido nos bastidores por este facínora. Não podia abalar a imagem de Bruno. Precisava do cara que mantinha a discrição", afirmou Castro.

Antes do cárcere e da morte, Bruno chegou a advertir sua ex-amante a não procurar a polícia ou ele a mataria, de acordo com o promotor, que relembrou o relato de Eliza após ela ter sido levada para Minas Gerais, em 2010.

Carla Silene, advogada de Fernanda, conversa com o réu Macarrão no início da sessão (Foto: Leo Aragão/G1)Carla Silene, advogada de Fernanda, conversa com
Macarrão no início da sessão (Foto: Leo Aragão/G1)
Por isso fico invocado, por vocês não terem nada a ver com essa situação. Não foram vocês que se relacionaram com essa vagabunda dessa mulher aí"
Trecho de carta do goleiro
Bruno para a ré Fernanda

Defesa de Fernanda
na primeira vez em que falou ao júri, Carla Silene, responsável pela defesa de Fernanda disse que não é possível condenar sua cliente sem provas de sua participação no crime. "Cadê as provas? [...] Contra Fernanda Castro, pelo cárcere privado de Eliza e Bruninho, essas provas não vieram", afirmou a defensora. "Eu só posso condenar quando eu tenho prova", completou Carla Silene durante a fase de debates.

Ela também questionou a investigação policial do crime. "Minas Gerais possui a pior polícia investigativa de homicídios do Brasil", afirmou, citando um relatório do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). "O sítio sequer foi preservado [para a colheita de provas]". A advogada ainda criticou o promotor do caso por ressaltar atributos físicos da ré. "Parece até que ser feminina hoje é um pecado. Ressaltar atributos físicos", disse sobre a fala do promotor em que a ré foi descrita como "bunduda, coxuda".

A advogada mostrou trechos de cartas enviadas por Bruno para Fernanda. "Poxa, toda hora problema Bruno. E ainda colocam foto de todos e foto sua. Por isso fico invocado, por vocês não terem nada a ver com essa situação. Não foram vocês que se relacionaram com essa vagabunda dessa mulher aí", disse Bruno na correspondência, de acordo com a defesa.

Em sua argumentação, a defensora destacou o sofrimento de Sônia de Fátima Moura, mãe de Eliza Samudio, mas ressaltou que a mãe de Fernanda também sofre. "O que nós não podemos admitir, neste instante, é que outra mãe, a senhora Solange, que está sentada lá no fundo, sofra com a condenação da filha, Fernanda. Uma moça que namorou o goleiro Bruno por menos de quatro meses. E que por cada mês de namoro recebeu um mês de prisão".

Carla Silene disse que Fernanda não participou de nenhum sequestro e cárcere privado e pediu a absolvição da ré. "Eliza estava encarcerada? Não. Essa moça apresentava um ferimento na cabeça? Não. Havia gente fiscalizando o andar? Não", argumentou ao júri.

Não se condena pisando em areia movediça. O julgador quando julga, julga em terreno firme. Se não tem prova robusta, melhor absolver"
Leonardo Diniz, advogado de Macarrão

'Troféu para o promotor'
Durante tréplica na fase de debates do júri popular do caso Eliza Samudio, Leonardo Diniz, advogado de Luiz Henrique Ferreira Romão, o Macarrão, disse que a condenação dos réus será um "troféu extraordinário" para o promotor Henry Wagner Vasconcelos de Castro, para quem "condenação é estatística". Ele afirmou que "todo mundo está propenso a errar e estar subjugado a um processo cuja prova é fraca".

Ele voltou a pedir "uma condenação justa" para Macarrão e defendeu a confissão do réu, na madrugada de quinta. "A confissão ela é muito consistente sim. Ela traz um valor muito grande nesse processo sim", disse. "Suas informações não destoam aqui do processo em julgamento, em nada".

O defensor criticou pontos da argumentação do promotor, disse que não há "amparo" em associar "a morte de Sérgio [Rosa Sales, primo de Bruno] a esse processo de forma leviana" e afirmou que "nunca foi encontrado nada" relacionado á mala de Eliza Samudio. "Será que não tem um cabo, uma rodinha?", questionou.

Diniz também voltou a dizer que o réu não presenciou a morte de Eliza. "Como? Macarrão estava no sítio. Ele chutou? Claro que não, nem lá ele estava", afirmou ao júri. "Não se condena pisando em areia movediça. O julgador quando julga, julga em terreno firme. Se não tem prova robusta, melhor absolver", defendeu.

Macarrão olha para seus advogados durante apresentação do promotor, às 13h10 (Foto: Leo Aragão/G1)Macarrão olha para seus advogados durante a fala
do promotor no júri popular (Foto: Leo Aragão/G1)

Defesa de Macarrão
Em sua primeira manifestação, o advogado Leonardo Diniz, que representa Macarrão, pediu que os jurados ofereçam uma "reprimenda justa" para o réu. O defensor pediu que Macarrão seja absolvido dos crimes de sequestro, do qual não teria participado, e também de ocultação de cadáver, já que ele não sabe o que foi feito do corpo de Eliza.

Quero que vossas excelências analisem a relação entre um serviçal e um ídolo de futebol"
Leonardo Diniz, advogado de Macarrão

"Seja aplicada uma condenação, uma reprimenda, segundo o que entenderem da participação dele nesses fatos, mas que essa reprimenda seja justa, que seja proporcional", disse Diniz. O advogado de defesa ainda disse que Macarrão era apenas um "serviçal" do goleiro, e que cumpria ordens de Bruno.

"Quero que vossas excelências analisem a relação entre um serviçal e um ídolo de futebol", disse, referindo-se ao atleta. Diniz ainda lembrou que, durante seu depoimento, Macarrão afirmou ter tentado argumentar sobre o desaparecimento Eliza: "Vai acabar com a sua carreira", disse ao goleiro.

Diniz recorda-se do que foi dito pelo goleiro, segundo o depoimento de Macarrão: "É para fazer eu estou mandando. Aí ele [Macarrão] se submete, adere a essa vontade. Sai, pega Eliza e leva até o lugar, com a imaginação dela de que ela iria ao apartamento".

Diniz questionou as provas trazidas pela Promotoria e tentou desqualificar os depoimentos dos primos do goleiro Bruno Fernandes, Jorge Luiz Rosa e Sérgio Rosa Sales. A estratégia de mostrar os primos como desafetos de Macarrão teve como objetivo contrapor Promotoria nos debates entre defesa e acusação.

No seu tempo reservado à acusação, o promotor Henry Wagner de Castro apresentou uma série de provas que indicam que Macarrão e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, foram os executores de Eliza em 10 de junho de 2010. Segundo o Ministério Público, o goleiro seria o mandante da morte de sua ex-amante. Diniz discordou desta versão.

O julgamento
O júri popular, que teve início com cinco réus, segue com apenas dois acusados: Macarrão e Fernanda. Ele é acusado de homicídio triplamente qualificado, sequestro e cárcere privado e ocultação de cadáver. Ela é acusada de sequestro e cárcere privado de Eliza e de Bruninho, filho que a vítima teve com o goleiro.

(Acompanhe o dia a dia do júri popular do caso Eliza Samudio.)

A Promotoria acusa o jogador Bruno Fernandes de Souza, que era titular do Flamengo, de ter arquitetado a morte da ex-amante, em crime ocorrido em 2010, para não ter de reconhecer o filho que teve com Eliza nem pagar pensão alimentícia. Bruno, a sua ex-mulher Dayanne Rodrigues e o ex-policial Marcos Aparecido dos Santos, o Bola, tiveram o júri desmembrado pela juíza Marixa e serão julgados em 2013.

Para ler mais sobre o Caso Eliza Samudio, clique em g1.globo.com/minas-gerais/julgamento-do-caso-eliza-samudio/. Siga também o julgamento no Twitter e por RSS.

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