Por Júlia Reis, g1 Sul de Minas


  • Moradores de pelo menos 26 cidades do Sul de Minas relataram ter sentido um tremor na noite de sábado (9) e madrugada de domingo (10).

  • A Rede Sismográfica Brasileira não registrou nenhum sinal que possa ser identificado como um tremor de terra neste horário reportado pelas pessoas.

  • Especialistas acreditam que o evento pode ter sido um episódio de quebra da barreira do som por uma aeronave, também conhecido como "sonic boom".

  • O fenômeno pode ser confundido com vibrações, já que gera ondas de choque que chegam à superfície.

Após relatos de tremores de terra, USP e UnB não registram eventos sísmicos no Sul de MG

Após relatos de tremores de terra, USP e UnB não registram eventos sísmicos no Sul de MG

O tremor relatado por moradores de pelo menos 26 cidades no Sul de Minas pode ter sido um episódio de quebra da barreira do som por uma aeronave supersônica. Apesar de parecer com o que se sente durante um pequeno terremoto, a hipótese levantada por especialistas é de um “sonic boom”, fenômeno pode ser confundido com vibrações, já que gera ondas de choque que chegam à superfície. (Entenda mais abaixo)

Entre a noite de sábado (9) e a madrugada de domingo (10), tremores foram reportados na plataforma do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP).

Mais de 35 relatos foram registrados, mas, apesar disso, a Rede Sismográfica Brasileira não registrou nenhum sinal que possa ser identificado como um tremor de terra neste horário reportado pelas pessoas.

“A única coisa que podemos afirmar é que não foi um terremoto”, explica Bruno Collaço, sismólogo do Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP) ao g1.

Moradores relatam tremores em mais de 20 cidades do Sul de Minas — Foto: Reprodução / Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP)

Segundo o especialista, o "sonic boom" acontece quando um objeto se move pelo ar mais rápido do que o som. Com isso, ele cria ondas de choque que se acumulam e se fundem, resultando em um estrondo alto.

"As ondas de choque chegam até a superfície e são percebidas pelas pessoas muitas vezes como um tremor. Foi isso que aconteceu? Não podemos afirmar com certeza. Mas é uma possibilidade", disse.

Segundo a NASA, o som da explosão pode atingir até 110 decibéis e se assemelha a um trovão ou uma explosão. O volume pode parecer com o de uma furadeira. Normalmente, quando ocorre, vidros e janelas tremem e ao olhar para os céus não há rastros ou fumaça.

Sobre a possibilidade de um exercício aéreo, a Força Aérea Brasileira informou ao g1 que nenhuma aeronave da FAB sobrevoou a região no horário indicado nos relatos.

Aeronave supersônica

O sismólogo Bruno Collaço diz que é possível estimar a velocidade – que seria de uma aeronave como um avião supersônico, por exemplo – ao analisar os horários e localizações dos relatos sobre o tremor.

“Se pegarmos a média dos horários que as pessoas relataram sentiram os tremores, ignorando os tempos de relatos imprecisos, assim como a posição aproximada de "grupos" de relatos, podemos calcular uma velocidade aproximada deste possível evento. Isso dá 400m/s, que é mais ou menos a velocidade de um avião supersônico", observou o sismólogo.

O mapa abaixo mostra as áreas onde foram registrados relatos de tremores no Sul de Minas e no interior de São Paulo. A imagem acompanha a fórmula utilizada pelo sismólogo para calcular a velocidade aproximada do evento, baseada na distância entre as regiões afetadas e o tempo médio dos relatos.

Tremor em cidades do Sul de Minas pode ter sido causado por aeronave supersônica, indicam cálculos de velocidade — Foto: Bruno Collaço / Centro de Sismologia da USP

  • vel = 180 km / 7.7 min = 400 m/s = Mach 1

O cálculo demonstra como foi determinada a velocidade do evento, possivelmente associada a um "sonic boom" causado por uma aeronave supersônica. A distância considerada foi de 180 km. O tempo durante o qual o evento foi percebido é 7,7 minutos.

O professor George Sand também acredita na hipótese da quebra da barreira do som por uma aeronave. Ele destacou à EPTV, afiliada Globo, que o ocorrido não tem ligação com o terremoto em Cuba ocorrido no domingo (10), já que o abalo na ilha caribenha foi registrado após o evento em Minas Gerais.

Por que não foi registrado como terremoto?

A Rede Sismográfica Brasileira possui cerca de 10 estações entre o Sul de Minas e o interior de São Paulo, mas nenhuma delas registrou sinais de um terremoto na região no período em que foram reportados os casos.

Segundo o Centro de Sismologia da USP, para um evento com a quantidade de relatos recebidos, seria necessário um sismo de magnitude próxima a 4, por exemplo.

“Pela quantidade de relatos recebidos e pela extensão, isso teria que ser um sismo de magnitude perto de 4, que seria certamente registrado pelas estações”, informou Bruno Collaço, sismólogo do Centro de Sismologia da USP.

De acordo com o Observatório Sismológico da Universidade de Brasília (UnB), "não houve nenhum tremor de terra (terremoto) nem localmente, nem nos Andes que poderia refletir nas áreas sentidas".

O sistema Bramom (Brazilian Meteor Observation Network), na tradução Rede Brasileira de Monitoramento de Meteoros, também não reportou nenhuma entrada de meteoro visível.

"O Observatório Sismológico da Universidade de Brasília não detectou nenhum sismo no Sul de Minas Gerais compatível com data/hora dos relatos de moradores que sentiram vibrações e estrondos", explicou Juraci Mario de Carvalho, sismólogo e pesquisador em Geociências do Observatório Sismológico da UnB.

Casos reportados

Conforme os registros, na percepção dos moradores, a intensidade dos tremores variou entre fraca e moderada.

Em alguns relatos, as pessoas mencionaram móveis balançando, sensação de tontura e até mesmo água em copos mostrando sinais de movimentação.

Moradores de cidades como Três Pontas (MG) e Varginha (MG) relataram tremores por volta de 22h de sábado (9) — Foto: Reprodução / Centro de Sismologia da Universidade de São Paulo (USP)

Embora a quebra de barreira do som seja uma possível explicação, ainda não há nada oficializado sobre a causa do evento.

Veja também

Mais lidas

Mais do G1
Deseja receber as notícias mais importantes em tempo real? Ative as notificações do G1!