“Para se chegar ao café especial você tem que cumprir várias etapas, e mesmo assim não se tem garantia de nada”. Quem diz a frase é Roney Dias Villela, de 42 anos. Produtor em Carmo de Minas (MG), na região da Mantiqueira, ele comenta que há cerca de 20 anos o processo de produção de cafés vem sofrendo diversas alterações.
“O café aqui na região é bem antigo, tem mais de 100 anos, mas de uns 20 anos para cá houve uma mudança radical no modelo de produção. O que antes se buscava mais quantidade, passou a se buscar qualidade”, disse.
Diante de um novo cenário e, consequentemente, com um mercado mais exigente, alguns fatores se tornaram imprescindíveis na produção dos cafés especiais. Um deles é a interferência de um elemento natural da região do Sul de Minas, a altitude.
Produtor da região da Mantiqueira de Minas fala sobre como conseguir produzir cafés de alta qualidade. — Foto: Arquivo Pessoal / Roney Dias Villela
“Café especial tem muita correlação com a altitude. Eu diria que entre 1,1 mil e 1,4 mil metros é uma variação de altitude ideal para se produzir cafés especiais”, pontou Roney, antes de acrescentar que as variedades e a colheita do grão, também tem relação direta na produção de alta qualidade.
“As variedades também influenciam bastante. Você pega o bourboun amarelo, por exemplo, ele tem uma predisposição grande. Ele produz menos quantidade, mas mais qualidade. A colheita madura dos grãos é fundamental. Se colher grão verde, isso vai atrapalhar quem tá buscando café especiais. O grão maduro tem o grau máximo de açúcar. E isso se reflete em qualidade na bebida”, comentou.
Outro elo importante na cadeia para se chegar ao café especial é o bom trabalho realizado na pós-colheita. “Abrir ele no terreiro, rodar e mexer bem o café, para ter uma seca bem uniforme e não acumular umidade também é bastante importante”, lembrou o produtor.
Produtor de Carmo de Minas fala sobre a produção de cafés especiais na Região da Mantiqueira — Foto: Arquivo Pessoal / Roney Dias Villela
Segundo Roney, investimentos e adaptações nas propriedades onde se deseja produzir um café especial também devem ser sempre levados em consideração para a obtenção de um bom resultado na qualidade final do grão.
“Nossa região é muito montanhosa. A colheita e a manutenção de lavoura são sempre com a mão de obra. Tem pouquíssimo uso de máquinas, que são bastante utilizadas em outras regiões. Então o nosso custo é mais alto, mas por outro lado se tem um potencial para qualidade bem maior”.
“O material e o equipamento para se produzir um café especial não é tão barato. [...] Tem vários produtores que optam por descascar o café. É outra máquina, outro implemento que ajuda você separar o grão maduro dos verdes. É um processo de evolução constante. Tem sempre algo a se melhorar”, concluiu.