Cinco anos depois, atingidos por barragem em Mariana ainda aguardam por moradia definitiva
O rompimento da barragem da Samarco, em Mariana (MG), completa cinco anos nesta quinta-feira (5). Além das 19 mortes, da natureza devastada e das ruínas das comunidades, a lama de rejeitos deixou incertezas. Uma delas é o dia em que os moradores atingidos vão poder, finalmente, ocupar as suas novas casas.
Quando o aposentado João Caetano Gonçalves é perguntado sobre o futuro, ele pensa na morte. “Antes de ter a casa, é morrer. Pela idade que eu tenho, né? É morrer”, diz.
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João Caetano Gonçalves não acredita que viverá até entrega das casas — Foto: Reprodução/ TV Globo
Depois de tanto tempo, ele desanimou. O aposentado tem 79 anos. Até hoje mora de aluguel com a mulher em Mariana. João Caetano recebe auxílio financeiro, mas não está feliz.
“A vida da gente lá na roça era uma beleza, tranquilidade. Tinha toda liberdade, e aqui não tem liberdade”, afirma.
A vida também mudou muito para a aposentada Constância das Graças Sales — Foto: Reprodução/TV Globo
A vida também mudou muito para a aposentada Constância das Graças Sales, de 64 anos. “Aqui a gente não se sente em casa porque a casa não é da gente. Você não pode plantar um pé de fruta, Então a gente não se sente feliz. Feliz é lá na roça mesmo”, diz.
Os atingidos ainda sonham com um lugar que seja deles para viver. A história de muita gente foi varrida pela lama que vazou da barragem de Fundão. Os anos que vão passando, sem uma solução definitiva para os atingidos, vão arruinando esse sonho. Só fazem crescer aquele sentimento de desilusão.
Para virar a página dessa história de destruição, é preciso concluir a reconstrução Paracatu de Baixo e de Bento Rodrigues, comunidades devastadas em Mariana. Mas as obras para reassentar mais de 300 famílias ainda parecem longe do fim. O Ministério Público acionou a Justiça mais uma vez.
“Eu acredito que não seria razoável aguardar nem mais um dia, né? O correto é que eles já deveriam ter entregue essas obras. Eles têm até fevereiro de 2021, de acordo com o que foi definido judicialmente e a multa. Nós trabalhamos no sentido de recuperar os modos de vida, a vida comunitária”, diz o promotor Guilherme Meneghin.
Vídeo de 18/11/2015 mostra que 12 pessoas ainda estavam desaparecidas depois de desastre em Mariana
De acordo com o diretor-presidente da Fundação Renova, os impactos da pandemia nas obras estão sendo comunicados à Justiça.
“O que a gente vai entregar até o final do ano, início do ano que vem, é toda a parte de infraestrutura. Então isso permite que a gente tome mais velocidade na última etapa do reassentamento, que são as casas. Então nós temos duas casas entregues e mais três ou quatro até o final do ano e mais 30 em construção. O grande ano de entrega das casas é o ano que vem”, disse o diretor-presidente da Renova, André de Freitas. Ele acredita que a maioria dos lares deve ser entregues em 2021.
A Fundação Renova, criada para reparar os estragos causados pela tragédia, também não reconstruiu parte do distrito de Gesteira, em Barra Longa.
Dirceu da Luz reclama que rejeitos ficaram em sua propriedade — Foto: Reprodução/TV Globo
O produtor Dirceu da Luz, de 77 anos, permanece na região. A casa dele, que resistiu à lama, foi reformada. Ele recebe auxílio financeiro, mas reclama que os rejeitos de minério ficaram na propriedade.
Lama permanece em Candonga
Ainda há um trabalho gigantesco pela frente. Na Hidrelétrica Risoleta Neves, mais conhecida como Candonga, em Rio Doce, quase 10 milhões de metros cúbicos de lama permanecem retidos no reservatório. A usina nunca mais entrou em operação. E quem pescava no rio aposentou os equipamentos.
“Uns falam que o peixe está contaminado, outros falam que o peixe está com metal pesado, outros que o peixe está com não sei que lá mais. Então a gente fica meio cismado, né?”, diz o pescador Geraldo Magela,
Para o procurador Edmundo Dias, as medidas adotadas são insuficientes diante da magnitude do desastre.
“Porque as empresas que instituíram a fundação Renova, Vale, BHP Billiton Brasil e Samarco, a elas lhes interessa dar o problema por resolvido. Não resolveram. Não realizaram uma reparação integral, efetiva”, avalia.