Por Hudson Fernandes, Michelly Oda, g1 Grande Minas


Seu Nonô morreu aos 95 anos — Foto: Arquivo Pessoal

Na última quarta-feira (28) foi comemorado o Dia do Doador de Corpos, que faz homenagem às pessoas que decidiram entregar seus corpos para estudos científicos. E o g1 conta a história de um idoso do Norte de Minas que tomou esta decisão.

Honor Vieira Fróes, carinhosamente conhecido como seu Nonô, nunca foi aluno, funcionário ou professor da Universidade Estadual de Montes Claros. No entanto, a Unimontes sempre teve um lugar especial na vida dele, por isso o idoso manifestou o desejo de contribuir com a instituição doando seu corpo para fins de estudo. A família cumpriu a vontade dele, que faleceu aos 95 anos.

"O conhecimento que ele teve foi através da experiência de vida dele, do trabalho dele. Ele não tinha estudo, fez até quarta série, mas era um amante da ciência", contou a neta Ana Paula Fróes.

Seu Nonô nasceu em Saracura, na zona rural de Juramento, município que possui 3.768 habitantes, de acordo com o Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ele trabalhou a vida toda como agricultor na zona rural.

"Ele se dedicava à agricultura, cultivando hortaliças e frutas, além de criar animais. Era um conhecedor nato, sempre interessado nas áreas em que trabalhava e em outros assuntos que envolviam o país."

Movido pelo desejo de sempre aprender, seu Nonô chegou a procurar pela Unimontes com o objetivo de assistir a uma aula de anatomia. Em 2012, o agricultor esteve na reitoria da instituição e manifestou um desejo: doar seu corpo para fins de estudo e pesquisa.

"O senhor Honor chegou até a universidade com a professora do curso de medicina e demostrou o desejo de que o corpo dele ficasse na universidade após sua morte. Nós o orientamos sobre o que era preciso ser feito", disse o procurador da instituição, Henderson Ogando.

Campus da Unimontes, em Montes Claros — Foto: Unimontes/Divulgação

Ogando explicou que a doação de corpos, como no caso do seu Nonô, é regulamentada pelo Direito Brasileiro por meio do Código Civil. O doador deve comparecer a um cartório de notas e pedir ao tabelião que lavre uma escritura pública de testamento, nomeando um testamenteiro para garantir que sua vontade seja cumprida.

Em 8 de março de 2013, o agricultor oficializou seu desejo, assinando uma escritura pública em cartório. Surpreendentemente, nomeou Henderson Ogando como testamenteiro, sem que ele soubesse.

Em maio deste ano, após uma queda na rua, seu Nonô foi hospitalizado. Ele teve uma embolia pulmonar e não resistiu. O idoso morreu aos 95 anos, deixando deixando 10 filhos, 24 netos e 29 bisnetos.

"Foi uma surpresa receber a notícia do falecimento e saber que eu deveria resolver a questão do corpo doado", revelou o procurador da Unimontes.

Após o falecimento, houve resistência entre alguns dos filhos que queriam que seu Nonô fosse sepultado. Mas após uma reunião com a universidade, a família decidiu honrar a vontade dele. A família pode se despedir do idoso em um velório e no dia seguinte o corpo foi entregue à Unimontes.

"Sentimos o peso do luto, mas ao mesmo tempo, ficamos conformados e confortados. Todos entenderam que era o melhor. Ficamos com a consciência leve e felizes por saber que ele está onde queria estar após sua morte. Cumprimos a vontade dele, uma vontade de uma vida inteira," disse emocionada a neta Ana Paula.

Corpo de agricultor é doado para estudos da Unimontes

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