Homem negro apanha de cinto de homem branco que oferece R$ 10 para dar a surra
Um homem negro foi agredido com cintadas nas costas por um homem branco que ofereceu R$ 10 para espancá-lo. A agressão ocorreu em frente a um bar no Centro de Itaúna, no Centro-Oeste de Minas, por volta do dia 10 de novembro, mas o vídeo começou a circular na internet recentemente (veja acima). O agressor foi preso preventivamente nesta quinta-feira (21) e é investigado por racismo e tortura.
Inicialmente, a vítima, Djalma Rosa da Costa, de 45 anos, havia sido identificada pela Polícia Militar (PM) como uma pessoa em situação de rua e, segundo o próprio agressor, é dependente de drogas.
Porém, a Prefeitura de Itaúna informou que Djalma não é morador de rua. Tem casa e familiares e faz acompanhamento para dependência química no Centro de Atenção Psicossocial (Caps) desde 1995.
Ainda segundo a Prefeitura, nesta quinta-feira (21), Djalma foi até o Caps e se mostrou bem, foi acolhido e recebeu assistência dos profissionais.
"Djalma é acompanhado diariamente nos CAPS AD e CAPS II para ações de redução de danos e acompanhamento multiprofissional. Sobre o ocorrido veiculado hoje nas mídias sociais, informamos que a responsável legal e curadora de Djalma foi devidamente orientada pela equipe do CAPS II sobre as medidas necessárias para formalizar e representar o boletim de ocorrência", complementou.
Em entrevista à TV Globo, o agressor, José Maria Vilaça, de 44 anos, disse que o vídeo foi gravado há cerca de 15 dias com o consentimento do homem agredido. Afirmou ainda que ambos são usuários de drogas e que, naquele dia, os dois usaram entorpecentes.
"Eu tava numa resenha. Foi uma brincadeira. O problema foi o vídeo ter viralizado no dia de Zumbi de Palmares. Agora tá essa burocracia toda. Foi uma resenha. Eu vou provar que não passou de uma resenha. Peço desculpas a todos os brasileiros, paraminenses e itaunenses também", completou.
Ponto a ponto do vídeo
Homem negro é agredido com cinto em Itaúna — Foto: Reprodução/Redes Sociais
- O agressor se apresenta dizendo: “Pará de Minas e região, aqui é o 'Deus é mais', esse ano é 'Deus me livre’”.
- Durante a gravação, ele faz comentários desconexos, enquanto a vítima aparece ao fundo, sem camisa.
- O agressor continua com falas confusas, misturando temas como as últimas eleições dos EUA, Lula e Bolsonaro.
- Em seguida, ele começa a tirar o cinto da calça, afirmando: “Vamos fazer diferente, ele quer usar droga, não quer trabalhar não?”.
- Na sequência, o agressor diz: "Dez reais e ele vai deixar eu dar duas lapadas e o patrocínio é o Bar do Sandoval".
- Depois, já com o cinto nas mãos, com a justificativa de que daria R$ 10 para que a vítima comprasse drogas, ele agride Djalma com três golpes e ainda pede a confirmação de quem segura o celular: "Tá gravando?".
- Enquanto a vítima é agredida, é possível escutar a risada de uma pessoa.
- Após açoitar o homem, o agressor finaliza o vídeo dizendo: "Deus é mais".
Repercussão
O g1 entrou em contato com o proprietário do bar em frente ao local onde a agressão ocorreu. Ele afirmou que soube do fato apenas pelo vídeo divulgado na internet, que não estava no estabelecimento no momento da gravação e que está revoltado com a situação.
A PM informou que não foi acionada no dia da agressão, ocorrida no dia 10 de novembro, e que só soube do vídeo nesta quinta-feira (21).
"De imediato, após ter ciência do fato, a PM realizou uma série de diligencias e conseguiu identificar o autor do ato criminoso, um homem oriundo da cidade de Pará de Minas. Nesse momento, um Boletim de Ocorrência está sendo confeccionado pelos militares , bem como encaminhando o autor para a Delegacia de Pará de Minas, a fim de prestar esclarecimentos sobre o fato que ocorreu no dia 10 de novembro de 2024".
O delegado Leonardo Moreira Pio disse que o inquérito policial para investigar o caso está em andamento na Delegacia de Polícia Civil de Itaúna.
Segundo o advogado Maciel Lúcio, da Comissão de Igualdade e Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) em Divinópolis, o caso é grave.
“É inadmissível que ainda enfrentemos situações como essa em pleno século XXI. É um verdadeiro retrocesso. Não por acaso, ontem tivemos o primeiro feriado em celebração ao Dia da Consciência Negra, pois ainda há quem precise ser educado sobre esse assunto”.
Homem branco paga R$ 10 a homem negro para açoitá-lo com cinto em Itaúna
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