Por Rafaela Zem, Poliana Casemiro


Marina Silva, na COP29, no Azerbaijão — Foto: Reprodução/TV Globo

A Arábia Saudita está no centro de uma controvérsia por supostamente ter alterado trechos do texto oficial de negociação da 29ª Conferência do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), conforme divulgado pelo jornal The Guardian.

Normalmente, os textos de negociação são enviados como PDFs não editáveis para todos os países, permitindo que todos discutam ao mesmo tempo. Especialistas alertam que dar acesso de edição a uma parte pode colocar todo o processo em risco. (entenda mais abaixo)

A COP29 é um evento que reúne governos do mundo inteiro, diplomatas, cientistas, membros da sociedade civil e diversas entidades privadas com o objetivo de debater e buscar soluções para a crise climática causada pelo homem.

O rascunho do texto final que vai resumir as negociações climáticas de Baku, que visa uma meta de financiamento na casa dos trilhões de dólares, estava previsto para ser entregue na madrugada deste sábado (23).

No entanto, em meio a desacordos e protestos de delegações de pequenos Estados insulares e países em desenvolvimento, as negociações foram temporariamente suspensas.

Além dessas delegações terem abandonado a reunião, a Arábia Saudita foi acusada de ter feito mudanças no texto oficial.

O que aconteceu?

A presidência do Azerbaijão distribuiu um documento com atualizações sobre o Just Transition Work Program (JTWP), que busca ajudar os países a avançar para um futuro mais sustentável e justo, segundo o jornal The Guardian.

Esse documento incluía "mudanças rastreadas" da versão anterior. No entanto, duas edições teriam sido feitas diretamente por Basel Alsubaity, do Ministério da Energia Saudita, e não foram enviadas para outros países revisarem.

➡️ Uma das mudanças exclui uma parte que “incentiva as partes a considerarem caminhos de transição justos no desenvolvimento e implementação de NDCs, NAPs e LT-LEDSs” (abaixo, confira as imagens obtidas pelo Guardian que mostram ajustes feitos no texto da COP por representantes da Arábia Saudita).

  • LT-LEDS (Estratégias de Desenvolvimento de Longo Prazo com Baixas Emissões) são estratégias abrangentes que os países desenvolvem para alcançar emissões líquidas zero ou uma economia de baixo carbono até meados ou final do século.
  • NAPs (Planos Nacionais de Adaptação) são estratégias desenvolvidas por países para lidar com os impactos das mudanças climáticas, como desastres naturais, elevação do nível do mar e ondas de calor.
  • NDCs (Contribuições Nacionalmente Determinadas) são compromissos de cada país para reduzir emissões de gases de efeito estufa e adaptar-se às mudanças climáticas.

Imagens obtidas pelo Guardian mostram ajuste feito no texto da COP por representante da Arábia Saudita — Foto: Reprodução

⚠️ Essa parte ajudava a garantir que todos os países seguissem as regras do Acordo de Paris, que é um acordo global para combater as mudanças climáticas.

A Arábia Saudita, que é rica em petróleo, é vista como um obstáculo para ações que visam reduzir o uso de combustíveis fósseis nas cúpulas climáticas da ONU. Ela foi chamada de "bola de demolição" na COP29, devido à sua postura.

Catherine Abreu, diretora do International Climate Politics Hub, destacou ao The Guardian que todos os países precisam ter acesso aos textos durante as negociações.

Ela afirmou que permitir que uma parte faça edições, especialmente uma que tenta reverter acordos importantes, demonstra falta de imparcialidade e pode comprometer todo o processo.

Entenda o que é a COP29

A COP29 é a 29ª conferência do clima da ONU, reunindo governos, diplomatas, cientistas e sociedade civil para discutir soluções para a crise climática.

Realizada anualmente desde 1995 (exceto em 2020), a sigla COP significa "Conferência das Partes", referindo-se às 197 nações que assinaram um pacto ambiental nos anos 90.

O objetivo principal do tratado, a Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, é estabilizar as emissões de gases de efeito estufa e combater a ameaça ao clima da Terra.

Este ano, pela primeira vez, a temperatura global ultrapassou 1,5 ºC em um ano, e o observatório Copernicus aponta um aumento nos recordes de calor.

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