Ativistas climáticos participam de uma manifestação do lado de fora do local da Cúpula do Clima COP26 da ONU em Glasgow, em 12 de novembro de 2021 — Foto: AP/Scott Heppell, Arquivo
Os compromissos globais para conter as mudanças climáticas estão cada vez mais aquém do necessário para limitar o aquecimento global a 1,5 grau Celsius, alertou a Organização das Nações Unidas (ONU) nesta segunda-feira (20).
A menos que ações mais efetivas sejam tomadas, o aumento da temperatura pode atingir os preocupantes índices de 2,5°C a 2,9°C acima dos níveis pré-industriais, indo muito além das metas do Acordo de Paris.
Na prática, a realidade se desenha mais alarmante, conforme evidenciado pelo novo relatório anual sobre a “lacuna de emissões” do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que avalia a disparidade entre as emissões previstas e aquelas alinhadas com a necessidade de limitar o aumento da temperatura neste século.
“Não há nenhuma pessoa ou economia no planeta intocada pelas mudanças climáticas, por isso precisamos parar de estabelecer recordes indesejados em termos de emissões de gases de efeito estufa, aumento das temperaturas globais e condições meteorológicas extremas”, afirmou Inger Andersen, diretora executiva PNUMA.
No cenário mais otimista, a probabilidade de limitar o aquecimento a 1,5°C é de apenas 14%, afirma o relatório, lançado dias antes da COP, a conferência do clima da ONU, que desta vez entra em sua 28ª edição e acontece em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.
Entre suas principais conclusões, o relatório também destaca que transformações globais de baixo carbono são necessárias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa previstas para 2030 devem cair entre 28% e 42% para chegarmos próximo das metas do Acordo de Paris (2°C e 1,5°C, para cada percentual previsto, respectivamente).
Na contramão disso, o planeta, porém, vem registrando cada vez mais eventos extremos que escancaram a crise do clima. No documento, a ONU lembra que até o início de outubro deste ano, foram registrados 86 dias com temperaturas mais de 1,5°C acima dos níveis pré-industriais.
Em outubro, cientistas do observatório europeu Copernicus anunciaram inclusive que 2023 deve terminar como o ano mais quente em 125 mil anos, pelo o que tudo indica.
LEIA TAMBÉM:
Agência da ONU alerta para maior concentração registrada na atmosfera de dióxido de carbono
Recorde atrás de recorde
Como vem mostrando o g1 nos últimos meses, desde julho, os sinais do aquecimento global provocado pelas atividades humanas vêm ficando cada vez mais evidentes em todo o mundo.
Neste ano, a Grécia, por exemplo, sofreu grandes incêndios, assim como os Estados Unidos e o Canadá, que também registrou inundações. As ondas de calor sucessivas no Brasil, no sul da Europa, norte da África, sul dos Estados Unidos e parte da China também provocaram muitos danos.
Aliado a isso, os oceanos também são vítimas desse fenômeno preocupante: as temperaturas registradas na superfície do mar estão muito elevadas desde abril
Todo esse calor, claro, é o resultado das contínuas emissões de gases com efeito de estufa, combinadas com o fenômeno climático El Niño, que aquece as águas superficiais no leste do Oceano Pacífico.
Por isso, não é de se espantar que o novo relatório da ONU alerte que as emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) aumentaram 1,2% de 2021 a 2022, atingindo um novo recorde de 57,4 Gigatoneladas de Dióxido de Carbono Equivalente (GtCO2e).
Emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) aumentaram 1,2% de 2021 a 2022, atingindo um novo recorde de 57,4 Gigatoneladas de Dióxido de Carbono Equivalente (GtCO2e). — Foto: Ria Puskas / Unsplash / Divulgação
"As tendências das emissões refletem padrões globais de desigualdade. Devido a essas tendências preocupantes e aos esforços de mitigação insuficientes, o mundo está a caminho de um aumento da temperatura muito além dos objetivos climáticos acordados durante este século", afirma o documento da ONU.
No texto, o PNUMA ressalta ainda que, para reverter esse cenário, os países com maior capacidade e responsabilidade pelas emissões – especialmente os países de renda elevada e com altas emissões entre o G20 – terão de tomar medidas mais ambiciosas e rápidas e fornecer apoio financeiro e técnico às nações em desenvolvimento.
Como parte do Acordo de Paris, os países desenvolvidos prometeram aos países em desenvolvimento dar US$ 100 bilhões por ano a partir de 2020 para ajudá-los a se preparar para as mudanças climáticas.
Apesar disso, esse é meta não vendo sendo cumprida. Ao longo da última COP, o apelo para que as nações ricas compensem países pobres afetados por eventos extremos finalmente ecoou em um resultado concreto, com a criação do fundo de perdas e danos. O termo faz referência aos estragos destrutivos que alguns países não podem prevenir ou se adaptar com seus atuais recursos.
Até o momento, no entanto, não está claro de onde sairão os aportes para esse fundo e quais países em específico vão receber a quantia. Discussões sobre isso devem ser realizadas até pelo menos a essa próxima COP -ou até depois disso.
Entenda a crise do clima em gráficos e mapas